Inédita no
Brasil, pesquisa da UFMG vai identificar regiões com maior presença de
coronavírus em BH
Anderson Rocha
Análises serão feitas semanalmente até o fim do ano
Uma pesquisa inédita
no Brasil, executada por 11 pesquisadores da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), vai ajudar a mapear de forma indireta a concentração de
coronavírus em Belo Horizonte e Região Metropolitana a partir da sua presença na rede de esgoto. O estudo terá
início em 10 dias e seguirá, semanalmente, até o fim deste ano, sinalizando o
poder público sobre ações para a prevenção e o combate à Covid-19.
A inciativa é do
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis, sediado na
UFMG e especializado em pesquisas sobre o tratamento de esgoto. De acordo com
Carlos Chernicharo, coordenador do INCT, serão 22 pontos de coleta do material,
entre os ribeirões do Onça, no Barreiro, e do Arrudas, em Santa Efigênia
(Leste), além da Pampulha.
Segundo o
especialista, os pontos de coleta foram escolhidos a partir de critérios como a
proximidade de hospitais e o índice socioeconômico dos bairros ao longo da rede
de esgoto da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). A empresa,
aliás, está terminando de avaliar os pontos onde ocorrerá o estudo.
"Esperamos
mapear a mobilidade do Sars-CoV-2 em diferentes pontos da região a partir da
análise das fezes presentes no esgoto. É um acompanhamento espacial e temporal
da distribuição e das variações de concentração do coronavírus na nossa
região", explicou Chernicharo que, juntamente com César Rossas Mota e
Juliana Calábria, coordenam o estudo.
Além deles, oito
pesquisadores - entre mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos - do Programa
de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG
participam da pesquisa, que é financiada pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
Finalidade prática
Com a informação de
quais regiões concentram as maiores proporções de coronavírus no esgoto, os
pesquisadores acreditam que poderão apoiar a tomada de decisão por parte do
poder público em relação às medidas de controle da disseminação da doença.
Segundo Chernicharo, o estudo permitirá uma "indicação indireta dos
portadores assintomáticos" ou da quantidade de pessoas que, mesmo doentes,
não fizeram exames de comprovação da Covid-19.
O estudo feito na
UFMG reproduz em BH uma pesquisa realizada na Holanda, que detectou a presença
do coronavírus em amostras de esgoto. No caso europeu, o Sars-CoV-2 foi
encontrado na rede de rejeitos do aeroporto de Schiphol, além de estações de
tratamento das cidades de Kaatsheuvel e de Tilburg.
Riscos aos rios
Embora não seja foco
desta pesquisa mineira, Chernicharo relembra a importância de que pessoas que
trabalham com o esgoto ou que, de alguma maneira, tenham hábitos de nadar em
rios, se cuidem.
"Os
profissionais que atuam na área de esgotamento sanitário, como os que operam as
redes coletoras e estações de tratamento, e os pesquisadores que manuseiam
amostras de esgoto, não podem abrir mão de medidas como a utilização de
equipamentos de proteção individual, a fim de evitar a ingestão inadvertida de
esgoto, ainda que por meio da ingestão de aerossóis (partículas finíssimas,
sólidas ou líquidas, suspensas no ar), para evitar a contaminação",
finalizou.
Uma nota técnica
publicada na última semana pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
(INCT) ETEs Sustentáveis - sediado na Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) - e que se dedica a pesquisas e ações relacionadas ao tratamento de
esgoto, alerta para a presença do coronavírus na rede de escoamento de dejetos.
O texto do INCT faz
referência a um estudo divulgado pela revista britânica The Lancet
Gastroenterol Hepatol, em que pacientes com a covid-19 apresentaram em suas
fezes o RNA do Sars-CoV-2, o novo coronavírus, causador da doença.
As análises também
constataram em cerca de metade dos pacientes investigados, que a detecção do
RNA viral se deu por cerca de 11 dias após as amostras do trato respiratório
testarem negativo.
De acordo com a
publicação, tal situação indica a replicação ativa do vírus no sistema
gastrointestinal e a possibilidade da transmissão via feco-oral ocorrer mesmo
após o trato respiratório estar livre do vírus.
O estudo da revista
britânica afirma que também há evidências da presença de outros coronavírus
(como o Sars-CoV e o Mers-CoV) nas fezes e de sua capacidade de permanecerem
viáveis em condições que facilitariam a transmissão via feco-oral.
Cuidados
Coordenador do INCT,
o professor Carlos Chernicharo destaca a necessidade de cuidado pelos
trabalhadores e pesquisadores do setor para evitar a contaminação.
“Os profissionais
que atuam na área de esgotamento sanitário, como os que operam as redes
coletoras e estações de tratamento, e os pesquisadores que manuseiam amostras
de esgoto, não podem abrir mão de medidas como a utilização de equipamentos de
proteção individual, a fim de evitar a ingestão inadvertida de esgoto, ainda
que por meio da ingestão de aerossóis (partículas finíssimas, sólidas ou
líquidas, suspensas no ar), para evitar a contaminação”, completa Chernicharo,
Ainda segundo a nota
técnica, medidas de segurança ocupacional, já adotadas como padrão, são
eficazes na proteção contra o coronavírus e outros patógenos presentes no
esgoto.
Covid-19 nos rios
Outra preocupação dos
pesquisadores da UFMG é a possibilidade de uma grande carga viral estar sendo
despejada nos rios neste momento de pandemia.
"Como
consequência, poderá aumentar a disseminação do Sars-CoV-2 no ambiente e a
infecção da parcela mais vulnerável da população, que não tem acesso a
infraestrutura adequada de saneamento básico”, afirma a nota técnica, que é
assinada por Carlos Chernicharo e pelos colegas de INCT César Mota e Juliana
Araújo, também professores da UFMG.
O texto recomenda
ações coordenadas urgentes dos profissionais das áreas de saúde, saneamento,
universidades e governos no cenário atual de emergência de saúde pública.
A publicação
ressalta que cerca de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a serviços de
coleta de esgoto e 35 milhões não usam água tratada, também segundo o SNIS
2018. O INCT ETEs Sustentáveis afirma que já foi procurado pelo governo
estadual para discutir o assunto.
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