sábado, 28 de março de 2020

CORONAVÍRUS E NOSSO ISOLAMENTO FAZ REPENSAR A VIDA


Tempo de repensar: isolamento por coronavírus motivou reflexão coletiva sobre vida e prioridades

Patrícia Santos Dumont







Do lado de fora, ruas vazias, escolas e estabelecimentos comerciais fechados e a sensação de habitar uma cidade fantasma. Do lado de dentro, vidas que se fizeram mais urgentes diante da privação da liberdade e do contato, real, com um mundo que não fosse o virtual.
A pandemia do coronavírus e o isolamento social imposto por ela nos trouxeram mais do que o temor pelo adoecimento da população.
Privados de circular pelas ruas, de ver e, mais que isso, abraçar amigos e familiares, além de impossibilitados de frequentar centros de compras e de lazer com a frequência desejada, abrimos tempo para importante reflexão: o que temos priorizado na vida?
Pela web, pipocam inúmeros testemunhos de que o contato com o outro está fazendo falta e mexendo com as emoções. Junte-se a isso o desafio de aprender a ter mais intimidade com a tecnologia e precisar usar aplicativos de video-conferência para poder conversar ou trabalhar com quem antes estava sempre por perto.
Felizmente, as redes sociais têm ajudado a conectar terapeutas e aqueles que escolhem pedir ajuda. Neste momento crucial, muitos oferecem atendimento virtual gratuito.
Psiquiatras, psicólogos e psicoterapeutas avaliam que a angústia relatada por muitas pessoas durante o isolamento social e uma resposta mental à sensação de escassez. “O desejo, muitas vezes, vem da falta. Isso explica, por exemplo, porque nem todos querem a bolsa da loja de departamento, mas muitos cobiçam a da grife importada”, exemplifica a psicóloga Daniela Queiroz, especialista em psicologia positiva.
Segundo ela, o momento é oportuno para refletirmos, todos, sobre o que temos almejado e como temos construído nossas vidas. “Observar, por meio da escassez, o que para a gente é, de fato, importante, para além do excesso de compras, de informação, do excesso de ego. O que precisamos, agora, é de mais amor, calor humano, daquilo que realmente não está abundante”, coloca a profissional.
Mais momentos
A psiquiatra Jaqueline Bifano tem ponto de vista semelhante. Para ela, a iminência da perda nos desperta para o que é realmente valioso. “Percebemos momentos que temos deixado de viver. Até mesmo os pais, que trabalham para dar uma boa escola, para pagar um curso de inglês, agora, estão podendo ver o quão valioso é o contato com os filhos. Em momentos de recolhimento como este pelo qual passamos aprendemos a valorizar o que importa e dar uma chance a outras perspectivas”, diz.
Quando tudo passar...
Psicoterapeuta, mestre em reiki e professora de yoga, Ailla Pacheco acredita que passado o medo, o receio e a sensação de incapacidade a que temos sido subordinados, estaremos mais conscientes de quem somos.
“Quando tudo passar, vamos nos amar, abraçar e beijar mais. Valorizaremos a importância de segurar nas mãos uns dos outros. Vamos nos importar menos com as desavenças. Vamos valorizar mais cada inspiração. Vamos agradecer por cada dia em que pudermos acordar e ser livres. Vamos nos conectar com a natureza, dentro e fora de nós. Vamos valorizar mais o tempo com aqueles que amamos. Quando tudo isso passar, seremos menos isolados e mais integrados. Vamos ter aprendido a cuidar de nós mesmos e uns dos outros”, coloca.

O que eu penso sobre isso:
Antes de este isolamento todo se fazer presente, eu – assim como muitos dos que, agora, me leem – vivia, de certa forma, numa espécie de piloto automático para muita coisa. Da casa pro trabalho, do trabalho pra casa e entre uma jornada e outra um encontro com amigos, uma hora de ginástica, algumas tarefas domésticas e um pouco de filme na TV.
Bastaram dois, três dias no máximo, do confinamento, para que as fichas começassem a cair. Não! A vida não merece passar despercebida! Comecei a observar amigos, vizinhos, conhecidos, famosos, o mundo todo numa urgência quase irracional por estar mais presente, em si e com o outro. Era a vida de cada um dando o recado. Comigo não foi diferente.
Fui (e ainda estou) me refazendo e despertando para coisas que realmente importam: olhar mais para dentro de mim mesma, falar e ver (como isso é importante!) quem a gente ama de verdade, cuidar mais do jardim e olhar menos pra bagunça, perceber como o tempo lá fora passa devagar e a gente, no turbilhão daqui de dentro, quase nunca percebe. Nada será como antes – nem pra mim nem pra você. Pode acreditar.
Passar, ou melhor, viver essa experiência de quase filme, deixar de caminhar na rua, de ir ao trabalho, se privar de ver os amigos e parentes, tudo isso nos fará melhores. Eu acredito nisso. Acredito que o propósito seja nos fazer enxergar o que desejamos ser de verdade, lá no nosso íntimo. Abrir nossos olhos para que sejamos capazes de ressignificar momentos, pessoas, necessidades e, obviamente, a forma como vivemos e convivemos com nosso eu. Eu estou disposta a mudar. E você?
Por Patrícia Santos Dumont

CORONAVÍRUS APROVEITA A FALTA DE ESTRUTURA HOSPITALAR NA ITÁLIA PARA MATAR


Por que o número de mortes por coronavírus continua subindo na Itália




© EPA O número de mortes na Lombardia, no norte da Itália, aumentou muito
Nesta sexta-feira (27/03), a Itália teve recorde de número diário de novas mortes por coronavírus - foram 969. No total, 9.134 pessoas já morreram em decorrência do contágio pelo vírus no país.

Todo o território italiano está sob rígida quarentena. No início desta sexta-feira, autoridades disseram que as restrições provavelmente serão estendidas por mais tempo.

A região mais afetada, no norte da Lombardia, teve um aumento acentuado de mortes, após um declínio na quinta-feira que aumentou as esperanças de que o surto lá pudesse ter passado do pico.

O número divulgado nesta sexta-feira incluiu 50 mortes registradas no dia anterior na região noroeste do Piemonte, mas que não foram enviadas a tempo da atualização de quinta-feira.
Enquanto isso, a Espanha - o segundo país mais atingido pela doença covid-19, causado pelo novo vírus, na Europa - sofreu um forte aumento no número de mortes, mas a taxa de novas infecções está se estabilizando, disseram autoridades.
A BBC News Brasil ouviu especialistas para entender por que o número de mortes segue crescendo. Os principais fatores apontados são a demora para detectar casos e a demora para impor medidas restritivas.

Qual é a situação na Itália?
Foram registrados 4.401 novos casos confirmados, um pouco abaixo do registrado na quinta-feira, mas ainda assim maior que os números do início da semana.
O correspondente da BBC em Roma, Mark Lowen, diz que o progresso no combate ao surto está se mostrando lento e desigual.
Também cresce o medo de um aumento de casos no sul do país, que é mais pobre.
Na quinta-feira, Vincenzo De Luca, presidente da região da Campânia, perto de Nápoles, disse que o governo central não forneceu os respiradores prometidos e outros equipamentos que salvam vidas.
"Nesse momento, existe a perspectiva real de que a tragédia da Lombardia esteja prestes a se tornar a tragédia do sul", disse ele.



© EPA Sozinho na Praça de São Pedro, papa Francisco rezou pelo fim da pandemia e concedeu perdão a fiéis

E na Espanha?
Na Espanha, o número de casos confirmados subiu para 64.059, um aumento de 14% em comparação com o de 18% no dia anterior e 20% na quarta-feira.
Em 24 horas, 769 pessoas morreram, um recorde diário, elevando o total para 4.858. O governo espanhol estendeu o estado de emergência até pelo menos 12 de abril.
O movimento das pessoas está severamente restrito e a maioria das lojas e negócios, fechados.
Demora para detectar e demora para reagir
Especialistas dizem que a Itália não detectou a disseminação da epidemia cedo o bastante. O número de casos confirmados no país disparou de forma súbita no final de fevereiro, levando cientistas a crer que houve um período em que o vírus estava se espalhando sem ser detectado.
Isso deu ao país menos tempo para medidas como rastrear contatos daqueles que adoeceram e isolar casos para diminuir a propagação.
"Quando começaram a registrar casos, já havia pessoas morrendo. Foi uma falha na vigilância. Isso quer dizer que a epidemia avançou silenciosamente. Foi como uma onda invisível que só foi percebida quando bateu na praia", diz o infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro Alberto Chebabo.
Quando medidas de isolamento foram tomadas, já havia muitos infectados.
"Você começa a ver o impacto das medidas de isolamento mais ou menos quinze dias depois de elas serem implementadas. É preciso tornar a duração da epidemia mais lenta para não sobrecarregar o sistema de saúde. Se você implementa medidas tarde, quando há muitas pessoas doentes ao mesmo tempo, o resultado que as medidas vão dar será menor. Quanto mais precocemente elas são adotadas, mais lento é o aumento (e menor a sobrecarga ao sistema de saúde)", diz Chebado.
Enquanto as pessoas eram tratadas dentro dos hospitais, fora deles, a epidemia seguia - e segue -, com novos casos crescendo constantemente.
"As pessoas ficam internadas por duas, três, às vezes quatro semanas. A epidemia não deu trégua, então você tem um acúmulo de mortes porque não há leitos o bastante para todos que chegam", diz.
Medidas tardias
Também é essa a opinião de Eduardo Hage Carmo, epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). "A Itália adotou medidas restritivas muito tarde. Quando fizeram isso, já havia muitos casos. Quando essas medidas são adotadas quando a epidemia está próximo do seu pico, elas têm pouco efeito. Os países que tiveram resultados mais positivos adotaram essas medidas precocemente", diz.
"Por melhor que fosse o sistema de saúde do país, não teria como dar conta do volume de casos, por não ter adotado medidas precocemente. Nenhum sistema suporta um número grande de casos em um período curto de tempo. Não há equipamento o bastante para tantas pessoas. Adotar medidas antes de o número de casos se acumular faz com que a tendência seja que o serviço de saúde possa dar conta. Essas medidas tinham que ter sido tomadas semanas antes", afirma ele.


© Reuters O sistema de saúde da Espanha está sob intensa pressão, pois o número de infecções continua a aumentar

Idade da população e convívio entre gerações
A idade da população, assim como a maneira como ela vive, também pode estar tendo algum impacto na forma como a covid-19 está se espalhando, de acordo com pesquisadores da Universidade Oxford e da Nuffield College.
A pesquisadora Jennifer Dowd e seus colegas analisaram a demografia e a disseminação da doença em diferentes partes do mundo. Na Itália, que tem uma população mais velha e as famílias que têm pessoas de várias gerações tendem a viver mais próximas, o vírus está matando mais.
Isso ocorre porque a taxa de mortalidade do vírus em pessoas acima de 80 anos é estimada em 14,8%, em comparação com 0,4% para pessoas entre 40 e 49 anos, de acordo com o estudo de casos e mortes até 13 de março.
A Itália é o segundo país com a população mais velha do mundo (atrás do Japão). A média de idade dos diagnosticados com o novo coronavírus é de 66 anos, e 58% têm mais de 60 anos.
No entanto, Chebabo acredita que esse não seja o principal fator, mas sim a falta de estrutura hospitalar para cuidar dos doentes. Para ele, algumas das pessoas em grupos de risco poderiam se curar se houvesse leitos e equipamentos adequados para todos.

EX-ASSESSOR DE TRUMP CRITICA A ATUAÇÃO DE MINISTRO DO STF

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