Por que o número de mortes por coronavírus continua subindo na Itália
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EPA O número de mortes na Lombardia, no norte da Itália, aumentou muito
Nesta
sexta-feira (27/03), a Itália teve recorde de número diário de novas mortes por
coronavírus - foram 969. No total, 9.134 pessoas já morreram em decorrência do
contágio pelo vírus no país.
Todo o território italiano está sob rígida
quarentena. No início desta sexta-feira, autoridades disseram que as restrições
provavelmente serão estendidas por mais tempo.
A região mais afetada, no norte da Lombardia, teve
um aumento acentuado de mortes, após um declínio na quinta-feira que aumentou
as esperanças de que o surto lá pudesse ter passado do pico.
O número divulgado nesta sexta-feira incluiu 50
mortes registradas no dia anterior na região noroeste do Piemonte, mas que não
foram enviadas a tempo da atualização de quinta-feira.
Enquanto isso, a Espanha - o segundo país mais
atingido pela doença covid-19, causado pelo novo vírus, na Europa - sofreu um
forte aumento no número de mortes, mas a taxa de novas infecções está se
estabilizando, disseram autoridades.
A BBC News Brasil ouviu especialistas para entender
por que o número de mortes segue crescendo. Os principais fatores apontados são
a demora para detectar casos e a demora para impor medidas restritivas.
Qual é a situação na
Itália?
Foram registrados 4.401 novos casos confirmados, um
pouco abaixo do registrado na quinta-feira, mas ainda assim maior que os
números do início da semana.
O correspondente da BBC em Roma, Mark Lowen, diz
que o progresso no combate ao surto está se mostrando lento e desigual.
Também cresce o medo de um aumento de casos no sul
do país, que é mais pobre.
Na quinta-feira, Vincenzo De Luca, presidente da
região da Campânia, perto de Nápoles, disse que o governo central não forneceu
os respiradores prometidos e outros equipamentos que salvam vidas.
"Nesse momento, existe a perspectiva real de
que a tragédia da Lombardia esteja prestes a se tornar a tragédia do sul",
disse ele.
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EPA Sozinho na Praça de São Pedro, papa Francisco rezou pelo fim da pandemia e
concedeu perdão a fiéis
E na Espanha?
Na Espanha, o número de casos confirmados subiu
para 64.059, um aumento de 14% em comparação com o de 18% no dia anterior e 20%
na quarta-feira.
Em 24 horas, 769 pessoas morreram, um recorde
diário, elevando o total para 4.858. O governo espanhol estendeu o estado de
emergência até pelo menos 12 de abril.
O movimento das pessoas está severamente restrito e
a maioria das lojas e negócios, fechados.
Demora para detectar
e demora para reagir
Especialistas dizem que a Itália não detectou a
disseminação da epidemia cedo o bastante. O número de casos confirmados no país
disparou de forma súbita no final de fevereiro, levando cientistas a crer que
houve um período em que o vírus estava se espalhando sem ser detectado.
Isso deu ao país menos tempo para medidas como
rastrear contatos daqueles que adoeceram e isolar casos para diminuir a
propagação.
"Quando começaram a registrar casos, já havia
pessoas morrendo. Foi uma falha na vigilância. Isso quer dizer que a epidemia
avançou silenciosamente. Foi como uma onda invisível que só foi percebida
quando bateu na praia", diz o infectologista da Universidade Federal do
Rio de Janeiro Alberto Chebabo.
Quando medidas de isolamento foram tomadas, já
havia muitos infectados.
"Você começa a ver o impacto das medidas de
isolamento mais ou menos quinze dias depois de elas serem implementadas. É
preciso tornar a duração da epidemia mais lenta para não sobrecarregar o sistema
de saúde. Se você implementa medidas tarde, quando há muitas pessoas doentes ao
mesmo tempo, o resultado que as medidas vão dar será menor. Quanto mais
precocemente elas são adotadas, mais lento é o aumento (e menor a sobrecarga ao
sistema de saúde)", diz Chebado.
Enquanto as pessoas eram tratadas dentro dos
hospitais, fora deles, a epidemia seguia - e segue -, com novos casos crescendo
constantemente.
"As pessoas ficam internadas por duas, três,
às vezes quatro semanas. A epidemia não deu trégua, então você tem um acúmulo
de mortes porque não há leitos o bastante para todos que chegam", diz.
Medidas tardias
Também é essa a opinião de Eduardo Hage Carmo,
epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). "A Itália adotou
medidas restritivas muito tarde. Quando fizeram isso, já havia muitos casos.
Quando essas medidas são adotadas quando a epidemia está próximo do seu pico,
elas têm pouco efeito. Os países que tiveram resultados mais positivos adotaram
essas medidas precocemente", diz.
"Por melhor que fosse o sistema de saúde do
país, não teria como dar conta do volume de casos, por não ter adotado medidas
precocemente. Nenhum sistema suporta um número grande de casos em um período
curto de tempo. Não há equipamento o bastante para tantas pessoas. Adotar
medidas antes de o número de casos se acumular faz com que a tendência seja que
o serviço de saúde possa dar conta. Essas medidas tinham que ter sido tomadas
semanas antes", afirma ele.
©
Reuters O sistema de saúde da Espanha está sob intensa pressão, pois o número
de infecções continua a aumentar
Idade da população e
convívio entre gerações
A idade da população, assim como a maneira como ela
vive, também pode estar tendo algum impacto na forma como a covid-19 está se
espalhando, de acordo com pesquisadores da Universidade Oxford e da Nuffield
College.
A pesquisadora Jennifer Dowd e seus colegas
analisaram a demografia e a disseminação da doença em diferentes partes do
mundo. Na Itália, que tem uma população mais velha e as famílias que têm
pessoas de várias gerações tendem a viver mais próximas, o vírus está matando
mais.
Isso ocorre porque a taxa de mortalidade do vírus
em pessoas acima de 80 anos é estimada em 14,8%, em comparação com 0,4% para
pessoas entre 40 e 49 anos, de acordo com o estudo de casos e mortes até 13 de
março.
A Itália é o segundo país com a população mais
velha do mundo (atrás do Japão). A média de idade dos diagnosticados com o novo
coronavírus é de 66 anos, e 58% têm mais de 60 anos.
No entanto, Chebabo acredita que esse não seja o
principal fator, mas sim a falta de estrutura hospitalar para cuidar dos
doentes. Para ele, algumas das pessoas em grupos de risco poderiam se curar se houvesse leitos e equipamentos adequados para todos.
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