O que significa Trump declarar emergência nacional por avanço do
coronavírus nos EUA
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SAUL LOEB/AFP Com quase dois mil casos confirmados, mesmo diante de uma falta
generalizada de testes, EUA poderão ter até drive-thru de exames
Com
mais de 1,8 mil casos confirmados de coronavírus, metade deles nas últimas 72
horas, o governo dos Estados Unidos declarou nesta sexta-feira (13/03) estado
de emergência nacional para tentar conter a epidemia.
Graças
à medida, o governo poderá usar um fundo para alívio de desastres de até US$50
bilhões (cerca de R$250 milhões), e não precisará de aprovação do Congresso
para empregar a verba.
A
medida, tomada pelo presidente americano, Donald Trump, acontece após uma série
de críticas à maneira como o republicano administrou a crise de saúde até o
momento.
"Esforços
precisam ser feitos agora para promover distanciamento social, aumentar a
capacidade de testes e dar uma mensagem clara para o público. Doenças não param
em fronteiras, por isso é fundamental ter consistência e transparência"
defendeu à BBC News Brasil Rachael Piltch-Loeb, pesquisadora de saude pública
global da New York University.
Até
o começo dessa semana, Trump fazia o oposto disso. "Fiquem calmos, isso
vai desaparecer", disse recentemente, depois de acusar reiteradamente seus
rivais democratas de exagerar a importância da epidemia e de repetir que os
casos de coronavírus estavam reduzindo no país, enquanto, na verdade, eles
estavam aumentando.
"A
decretação do estado de emergência é uma rara admissão de erro por Trump. É
também uma medida mais correta pra lidar com a situação do que o banimento de
viagens de europeus aos EUA, que tende a ser inócuo", afirma Carlos
Gustavo Poggio, professor especialista em política americana da FAAP.
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PETER FOLEY/EPA Aeroporto vazio em Nova York: pandemia tem tido impacto sobre
comércio e serviços no país
Trump não fará exame por ter estado com Bolsonaro
Em
uma coletiva de imprensa nesta sexta, Trump afirmou que não fará exames depois
que os resultados do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, retornaram
negativos para a doença, nesta manhã. Trump e Bolsonaro jantaram juntos no
sábado, dia 7.
"Eu
não tenho nenhum sintoma até agora. Não queremos pessoas sem sintomas fazendo
exames", disse.
O
prefeito de Miami, Francis Suarez, que também se encontrou com Bolsonaro, foi
diagnosticado nesta sexta com o vírus. Já o senador republicano Rick Scott
optou por decretar sua autoquarentena após encontro com o brasileiro.
Questionado
sobre se cogitaria adotar medida semelhante após se aproximar do secretário de
comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten — que teve diagnóstico positivo para
o vírus —, Trump minimizou os riscos.
"Havia
alguém (no jantar) que eles dizem (que está contaminado), não tenho ideia de
quem ele é. Mas eu tiro fotos e isso dura literalmente segundos. Não conheço os
senhores de quem estamos falando. Eu não tenho ideia de quem ele é. Eu não vi a
foto, eles dizem que há uma foto de alguém, mas às vezes eu tiro centenas de
fotos por dia, e naquela noite eu estava tirando centenas de fotos, então não
sei. Agora eu sentei com o presidente por provavelmente duas horas, mas ele deu
negativo, então isso é bom", afirmou
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JUSTIN LANE/EPA Temores em relação ao impacto do coronavírus na economia
derrubou bolsas americanas nesta semana
1,4 milhão de testes a mais na próxima semana
Com
casos em 46 dos 50 estados americanos, especialistas têm alertado que faz pouco
sentido supor que a essa altura o "inimigo" seja externo, como
afirmou Trump em um pronunciamento na Casa Branca há dois dias, ao falar em
"vírus estrangeiro" e interromper o fluxo entre seu país e a União
Europeia.
O
desafio principal para o republicano é coordenar com os Estados afetados uma
resposta que acelere, por exemplo, a velocidade da testagem para novos casos —
hoje, a resposta para um exame de coronavírus leva cerca de sete dias, enquanto
no Brasil o prazo é de dois dias.
Ao
declarar estado de emergência, Trump anunciou que chegarão aos hospitais 1,4
milhão de novos kits de testagem no começo da semana que vem. Até o fim do mês,
5 milhões estarão disponíveis no serviço de saúde.
"Mais
do que isso não será necessário", assegurou o presidente, que também
garantiu facilitação de aprovação burocrática dos testes de laboratórios
privados, um gargalo que impediu que os exames estivessem disponíveis ao redor
do país durante as primeiras semanas da crise.
O
presidente americano também liberou médicos, cuja licença restringe ao
exercício em apenas alguns Estados, para atuar nacionalmente, onde for
necessário.
© Ben Birchall/PA EUA enfrenta falta degeneraliza
de testes para detectar a doença
De
acordo com Trump, os novos testes e adaptações nos hospitais permitirão
inclusive uma espécie de "drive-thru" de exames: pacientes poderão
ser testados sem sequer descer do carro, em estacionamentos, por exemplo, para
evitar risco de contaminação em ambientes hospitalares. "Os hospitais
podem fazer o que tiverem que fazer", disse.
A
medida do "drive-thru" foi adotada, por exemplo, na Coreia do Sul.
"Não
queremos todo mundo correndo para fazer testes. É só se tiver um conjunto de
sintomas e condições. É totalmente desnecessário", disse Trump, tentando
tranquilizar a população.
Sem licença médica remunerada
Conhecida
como Stafford Act, a lei de emergência americana tomou a forma atual na década
de 1980, durante a gestão Ronald Reagan.
A
decretação de estado de emergência não é tão rara: desde sua criação ele foi
adotado em algum momento por todos os governos. No entanto, a medida costuma
ter efeitos meramente locais: o instrumento foi usado nos anos 1990, na gestão
Bill Clinton, para responder ao surto causado pelo vírus do Nilo Ocidental em
Nova York e Nova Jersey, e por George W. Bush, quando o furacão Katrina
devastou a cidade de Nova Orleans.
A
única vez em que foi adotada nacionalmente foi durante a crise da gripe suína,
no governo Barack Obama.
A
medida amplia os poderes do presidente para tomar decisões rápidas em
diferentes níveis. No mais abrangente deles, Trump poderia aumentar os gastos
públicos com seguro desemprego, subsídios a trabalhadores (como licenças
médicas remuneradas) ou mesmo distribuição de vouchers para alimentação e
realocação de pessoas.
Nada
nesse sentido, no entanto, foi anunciado ainda. Um pacote de medidas está em
discussão no Congresso, entre republicanos e democratas, para garantir licença
remunerada e a gratuidade dos testes de coronavírus no país.
De
acordo com o Escritório de Estatísticas Laborais americano, um quarto dos
trabalhadores do país não têm direito a se ausentar do trabalho por motivos
médicos sem que seu salário seja descontado.
"O
darwinismo social do ambiente de emprego americano deixa milhões de
trabalhadores incapazes ou dispostos a ficar em casa longe do trabalho, mesmo
quando estão doentes. Isso prejudica os pedidos de 'distanciamento social' e
promove a disseminação do novo coronavírus que causa a doença COVID-19",
escreveu Michael Hiltzik, especialista em negócios do jornal Los Angeles Times,
denunciando um dos pontos mais falhos na estratégia americana de combate à
epidemia.
Atualmente,
o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão americano responsável
pela saúde pública, recomenda que qualquer pessoa que tenha tido contato com
alguém que testou positivo para o vírus entre automaticamente em quarentena em
casa.
Sem
garantias de que receberão seus salários e não poderão ser demitidos por uma
ausência de ao menos duas semanas no posto de trabalho, os trabalhadores
americanos preferem correr o risco de se contaminar e disseminar a doença.
Em
termos econômicos, Trump afirmou que cortaria juros sobre empréstimos
estudantis e que sua administração pretende comprar a maior quantidade possível
de petróleo para aproveitar que o preço do barril caiu em 30% de seu valor.