Pio 12 e os nazistas
Manoel Hygino
Vive o mundo e passa
a humanidade um dos períodos mais difíceis da história. Mas Francisco, o
primeiro e único até agora com o nome no trono de Pedro, não reduz o seu volume
de trabalho, em meio à crise gerada pelo coronavírus, que se transformou na
preocupação maior entre as nações.
Francisco decidiu
enfrentar um problema diante do qual se inclinaram seus antecessores – Os
arquivos do Vaticano, que conservam, entre outras preciosas peças, as da
documentação de Pio 12, que começaram a ser abertas em primeiro de março.
Procura-se confirmar
com as pesquisas as razões que determinaram o silêncio do chefe da Igreja
Romana. Pio 12 não ergueu a voz contra o nazismo? É um instante muito especial,
tanto que oitenta e cinco pesquisadores se inscreveram para estudar os milhões
de documentos pertencentes ao “arquivo secreto”, mas também de outras
diferentes instituições do Estado do Vaticano, organizados nos últimos quatorze
anos.
Eugênio Pacelli, Pio
12, um diplomata acima de tudo, sabia das imensas dificuldades para evitar o
comprometimento da Igreja com as forças políticas em choque na Europa. Ele
confessava com convicção a necessidade de manter a Santa Sé “acima da contenda
dos partidos”.
Recursos do Vaticano
foram usados para salvar os semitas. Em 1943, quinze dos cinquenta quilos de
ouro exigidos como resgate dos judeus de Roma, foram transferidos ao chefe de
polícia alemão. Com o crescimento das pressões sobre a comunidade judaica
italiana, Pio 12 determinou que as casas religiosas romanas acolhessem os
refugiados – e 5 mil hebreus nelas se abrigaram, assim como no próprio
Vaticano. Após o conflito, o rabino chefe de Roma se converteu ao catolicismo
e, ao ser batizado, escolheu o nome de Eugênio.
No entanto, Pio 12
estava convencido de que nada salvaria os judeus, servindo as providências
humanitárias para motivar a intensificação das torturas e outros males nazistas
contra os semitas e católicos. Eamon Duffy, consagrado estudioso do tema,
argumentaria que os judeus da Alemanha, da Polônia e do resto da Europa ocupada
que pagariam o preço de qualquer gesto papal. E havia mais: dado o seu horror
pelo comunismo, Pio 12 não se dispunha a denunciar as atrocidades nazistas e
silenciar sobre os stalinistas.
Meditava: como o
oráculo de Deus permaneceria calado em face de pecados tão horríveis e
contrários ao Evangelho? No fim de 1942, Pio 12 finalmente cedeu e incluiu na
sua mensagem de Natal o que lhe parecia uma clara e inequívoca condenação do
genocídio. Exortou todos os homens de boa vontade a trazer de volta a sociedade
ao governo de Deus. Afirmava tratar-se de um dever que tínhamos com os que
morreram na guerra, com suas mães, viúvas e órfãos, com os exilados e com as
centenas de milhares de inocentes mortos ou condenados à lenta extinção, por
vezes unicamente por sua raça ou descendência.
Tanto Mussolini
quanto o embaixador alemão Ribbentrop se irritaram alegando que o papa
abandonara sua pretensa neutralidade. Não poucos até hoje consideram que a
mensagem foi fraca, oblíqua e cifrada, quando a horripilante realidade exigia
algo mais impetuoso e direto. Evidentemente muito de valioso se achará com a
pesquisa agora nos arquivos do Vaticano.
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