sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

PRESIDENTE TRUMP DEFENDE SEU AMIGO ROGER STONE DA PRISÃO


Quem é Roger Stone, amigo condenado à prisão que Trump defende publicamente
 
© Getty Images Roger Stone foi condenado a mais de 3 anos de prisão por mentir ao Congresso, obstruir a Justiça e ameaçar testemunha

Roger Stone, estrategista político e aliado de longa data do presidente americano Donald Trump, foi condenado a 3 anos e 4 meses de prisão após ser considerado culpado por diversos crimes, incluindo os de obstrução da Justiça e de mentir para o Congresso.
O caso se tornou um escândalo nos EUA não só por Stone ser o sexto assessor de Trump condenado criminalmente em meio à investigação sobre conspiração entre sua campanha e a Rússia, mas por causa da interferência direta do presidente americano para aliviar a condenação do amigo e aliado.
Inicialmente, os promotores responsáveis pelo caso haviam recomendado à Justiça uma pena de sete a nove anos — a pena padrão, pela legislação, para crimes como o dele.
No Twitter, porém, Trump disse que a recomendação de sentença era "muito horrível e injusta". "Não posso permitir essa condução errada da Justiça", escreveu.
Um presidente falar diretamente sobre um caso envolvendo um amigo seu e sendo julgado na Justiça não é comum nos EUA — é algo que não acontece desde o escândalo de Watergate.
Presidentes não comentam ações na Justiça envolvendo seus aliados, porque o Ministério Público não é independente do Executivo no país e isso por ser lido como interferência indevida. Portanto, a manifestação de Trump foi considerada chocante até mesmo para um público que já está acostumado com a forte presença do presidente no Twitter.
Outro fato surpreendente é que, no dia seguinte à manifestação de Trump, o procurador-geral William Barr, secretário do Departamento de Justiça, anulou a recomendação dos promotores e disse que a Procuradoria iria pedir uma sentença mais branda, abaixo do normal estabelecido pela lei.
Logo em seguida os quatro promotores de carreira inicialmente responsáveis pelo caso pediram demissão, um atrás do outro, em protesto contra a interferência.


© EPA
Nesta quarta (19/1), Stone foi julgado em Washington e recebeu a pena de 3 anos e 4 meses. Trump deu indicativos que pode dar o perdão presidencial para seu aliado.
Mas afinal, quem é esse consultor político veterano que Trump não mediu esforços para defender? E o que levou ao seu julgamento e condenação?
"Trapaceiro sujo"
Veterano político, Stone tem 67 anos e trabalha para o Partido Republicano desde os anos 1970. Fã de Richard Nixon — que sofreu um impeachment e renunciou após espionar o Partido Democrata — Stones se autodeclara um "trapaceiro sujo".
Era considerado de pouca projeção nos últimos tempos, até ascender junto com Trump.
Stone foi condenado por mentir para o Congresso, obstrução de Justiça e corrupção de testemunha em sete ocasiões.
Sua condenação está ligada a afirmações que ele fez sobre os esforços feitos pela campanha de Trump para obter e-mails hackeados da campanha presidencial de Hillary Clinton, contra quem Trump concorreu 2016. O objetivo era prejudicar a candidata democrata.
Os e-mails foram publicados pelo WikiLeaks.
Algumas das mentiras de Stone eram sobre a existência de certos e-mails e textos, e outros eram relacionados a conversas com funcionários da campanha de Trump e com o "contato" da campanha com o WikiLeaks.
Promotores dizem que ele mentiu sobre a data das conversas e sobre a identidade do intermediário.


© Getty Images Roger Stone (ao centro) já trabalhava para os republicanos em 1985
Stone também foi acusado de ameaçar uma testemunha da investigação, o comediante Randy Credico. Antes de um depoimento de Credico ao FBI (a polícia federal americana), Stone mandou mensagens dizendo para ele "se preparar para morrer" e chamando-o de "dedo-duro".
Durante o julgamento, o promotor Aaron Zelinsky disse ao júri que Stones mentiu porque "a verdade prejudicaria Trump".
Stone negou todas as acusações e disse que era vítima de perseguição política, mas foi condenado em 15 de novembro. Sua pena saiu nesta quarta-feira, mas foi menor do que a legislação normalmente determina.
Em sua sentença, a juíza Amy Berman Jackson disse que Stone teve uma conduta "intolerável, intimidadora e ameaçadora" contra ela.
Além dos anos de prisão, Stone também terá que pagar uma multa de US$ 20 mil (R$ 87 mil na cotação atual) e prestar 250 horas de serviço comunitário.
Fã de Nixon
Nascido no Estado americano de Connecticut em 1952, Stone se envolveu em política pela primeira vez aos oito anos, quando começou a tentar levantar votos para o candidato democrata John F Kennedy.
"Eu lembro de ir na fila da cantina e dizer para todas as crianças que o Nixon (adversário de Kennedy em 1960) era a favor de escola nos sábados", disse Stone em uma entrevista para o jornal The Washington Post em 2007. "Foi meu primeiro truque político."


© Getty Images Roger Stone tem um quarto cheio de objetos em homenagem ao ex-presidente Nixon em seu escritório na Flórida
Mas seu alinhamento político mudaria depois de adulto. Stone começou sua carreira profissional ajudando na campanha de reeleição de Richard Nixon em 1972.
Uma comissão de investigação do Congresso americano em 1973, que investigava o escândalo de Watergate, revelou que Stone contratou um funcionário republicano para infiltrar a campanha do então cadidato democrata, George McGovern, e sabotar o inimigo político de Nixon.
A descoberta fez Stone perder o emprego de assessor do senador Bob Dole, mas o assessor político insistiu que não violou nenhuma lei.
"O motivo pelo qual eu sou fã do Nixon é porque ele é resiliente e indestrutível", disse ele em uma entrevista à revista New Yorker logo após tatuar o rosto do ex-presidente nas costas. "As mulheres adoram."



© Getty Images Roger Stone (à esq.) trabalhou na campanha de Ronald Reagan (à dir.) nos anos 1980
Stone continuou trabalhando para o Partido Republicano. Fez parte das campanhas presidenciais de Ronald Reagan em 1980 e 1984 e participou da eleição de George Bush pai em 1988.
Mas Nixon continua ocupando um lugar especial na memória de Stone — além da tatuagem, ele tem um quarto cheio de objetos em homenagem ao ex-presidente em seu escritório na Flórida.
Qual sua ligação com Trump?
Nos anos 1990, Stone trabalhou como lobista para os cassinos de Trump e depois o ajudou em sua campanha para a Presidência no ano 2000, que não teve sucesso.
De acordo com o documentário da Netflix Get Me Roger Stone (Me traga o Roger Stone, em tradução literal), o estrategista político foi uma das pessoas que mais incentivaram Trump a concorrer à Presidência.


© Getty Images Stone encorajou Trump a concorrer à presidência e participou de sua primeira campanha, em 2000
Durante a campnha de Trump em 2015, a dupla teve desentendimentos. Stone diz que se demitiu, Trump diz que ele foi demitido.
Mas, dias depois, Stones escreveu um artigo para o jornal Business Insider em apoio ao candidato.
Desde a eleição, Trump havia se afastado de Stone, apesar de o estrategista político sempre aparecer na televisão defendendo seu ex-chefe.
Em 2017, Stone teve a sua conta no Twitter temporariamente suspensa depois de atacar jornalistas e usar linguagem homofóbica para se referir ao apresentador da CNN Don Lemon.
Ele também sempre fez questão de chamar a atenção para seu vestuário — ele não usa meias e prefere ternos feitos sob medida.
"Se a vida é um palco, você deve estar sempre de figurino", disse ao jornal The New York Times em 2015. "E se você está tentanto passar autoridade em seus negócios, estar bem vestido é parte disso."

GOVERNO APÓS SAÍDA DO GUEDES COMO FICARIA


Com ou sem Guedes? Como a saída do superministro afetaria o governo Bolsonaro




© REUTERS/Adriano Machado Declaração do presidente Jair Bolsonaro despertou imediatamente especulações sobre futuro do ministro Paulo Guedes no governo
Sem que ninguém perguntasse, o presidente Jair Bolsonaro anunciou na terça-feira (18/02) que o ministro da Economia, Paulo Guedes, "não pediu para sair" e "vai continuar conosco até o nosso último dia", despertando imediatamente especulações no sentido contrário, de que seu "Posto Ipiranga" está, na verdade, ameaçando pular fora do governo.
O motivo do desgaste entre os dois é a lentidão do andamento da pauta econômica defendida pelo ministro, já que o presidente não abraça de fato sua agenda ultraliberal, nem tem articulação política no Congresso para garantir a aprovação das medidas. Além disso, Guedes virou foco de fortes críticas nas últimas semanas por suas próprias declarações polêmicas, o que acaba também atrapalhando o andamento de propostas impopulares, como a reforma administrativa para alterar regras do funcionalismo público.
Para analistas políticos e econômicos ouvidos pela BBC News Brasil, uma eventual saída do superministro com apenas um ano de governo vai gerar turbulência e afetar negativamente a imagem da gestão Bolsonaro. Se isso ocorrer, porém, eles acreditam que a tendência é o presidente buscar alguém de perfil semelhante para substituí-lo dentro do próprio governo, por exemplo deslocando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para o ministério da Economia, ou promovendo para o cargo o Secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.
"Paulo Guedes é um dos pilares da razoável estabilidade na percepção de investidores e empresários com relação à economia, a despeito de todos os focos de incerteza. Se ele sair, acredito que o presidente buscaria um nome na mesma linha. Seria um risco muito alto para a administração Bolsonaro perder a questão econômica como uma variável para capital político", afirma o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências.
Ele, porém, considera que o mais provável, no momento, é Guedes permanecer no governo.
"Os dois se uniram em um casamento de conveniência. Bolsonaro precisava de um nome para dar alguma credibilidade a sua agenda econômica, e o Paulo Guedes não era um economista nas primeiras posições para ocupar um cargo dessa magnitude na época da dicotomia PT-PSDB", lembra ele.
"Não vejo incentivos para romper essa relação agora. Do ponto de vista do presidente, representaria um risco reputacional e para a agenda econômica. E da perspectiva do ministro Guedes, esse primeiro ano foi bastante insuficiente para a ideia de deixar um legado na história de construção de uma agenda econômica", analisa.
'Parasitas e empregadas'
Guedes foi criticado como elitista e preconceituoso na última semana ao defender o dólar alto dizendo que antes, quando a taxa de câmbio estava em R$ 1,80, "todo mundo (estava) indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada". A moeda americana hoje está valendo R$ 4,36.
Dias antes, ele já tinha despertado a ira dos servidores públicos ao chamá-los de "parasitas" quando criticava as reivindicações de aumentos salariais num momento em que "o governo está quebrado". A fala acabou azedando o clima político para enviar a proposta de reforma administrativa ao Congresso, onde há uma forte frente parlamentar de defesa do funcionalismo que se opõe à ideia de flexibilizar a estabilidade dor servidores e criar regras mais restritivas para reajustes salariais.
Por causa de declarações como essas, que acabam atrapalhando a condução das reformas, o economista Bráulio Borges, da consultoria LCA e do Ibre/FGV, considera que poderia até ser positiva a troca do ministro da Economia.


© REUTERS/Adriano Machado Bolsonaro e Guedes em foto de dezembro; analistas destacam descompasso entre os dois na agenda econômica pretendida
Na sua visão, o presidente não teria dificuldade em conseguir alguém de perfil semelhante ao de Guedes, que chama de "Chicago old", em referência ao envelhecimento dos chamados "Chicago boys", economistas formados na Universidade de Chicago (EUA) décadas atrás, com viés superliberal na economia.
Ele ressalta, no entanto, que as dificuldades na condução da política econômica tendem a continuar, independente de qual for o ministro. "Mesmo que o eventual substituto do Guedes for melhor que o Guedes, não vai eliminar o foco de tensão permanente que é o fato de Bolsonaro não ser um liberal, nem na economia, nem nos costumes", afirma.
Borges exemplifica a falta de apreço do presidente pela agenda econômica liberal citando sua recente "disputa com os governadores para reduzir tributação sobre os combustíveis, num momento em que não há espaço fiscal para retirar esses impostos". Ele também critica a decisão do governo de injetar R$ 7,6 bilhões na Emgepron, estatal da área militar, no final de 2019, com objetivo de construir corvetas (navios de guerra), a despeito das contas continuarem no vermelho.
Na sua visão, esse "comportamento populista" tende a se intensificar na medida em que se aproximar a eleição presidencial de 2022, quando Bolsonaro vai tentar a reeleição.
"É um casamento bastante oportunista essa união de Guedes e Bolsonaro. Até agora deu certo, mas imagina a pressão se a economia de fato não decolar e o próximo ciclo político eleitoral for se aproximado", ressalta.
Para Borges, o "timing" (melhor momento) para aprovar as reformas vai até meados desse ano, já que no segundo semestre haverá eleições municipais e, no início de 2021, acaba o mandato de Rodrigo Maia (DEM) como presidente da Câmara dos Deputados — ele, que tem sido o principal fiador da agenda econômica de Guedes, não pode se reeleger mais uma vez para presidir a Casa pelas regras atuais. O mesmo acontecerá no Senado, comandado hoje por Davi Alcolumbre (DEM).


© Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Falta de articulação política do Planalto no Congresso tem representado dificuldades para a aplicação da agenda de Guedes
'Reformas sem rumo'
A consultora econômica Zeina Latif, que até janeiro era economista-chefe da XP Investimentos, uma das maiores corretoras do país, diz que o mercado financeiro continua tendo Guedes em alta conta, mesmo com o desgaste das últimas declarações.
"Eu vejo no mercado financeiro, no empresariado, muito respeito por ele. Gostando ou não do estilo, o fato é que ele consegue explicar a economia para as pessoas como antes outros ministros não fizeram. Ele consegue levantar temas polêmicos, ainda que às vezes de um jeito atrapalhado", acredita.
Na sua leitura, o grande problema está na falta de clareza sobre qual o "compromisso" do governo com as reformas, depois da aprovação das mudanças da Previdência, em 2019. Ela ressalta que a gestão Bolsonaro tem apresentado intenções em diversas áreas, mas sem indicar qual é sua prioridade.
"A gente não consegue hoje dizer qual o próximo item que o governo vai trabalhar para aprovar no Congresso. É o Plano Mansueto (medidas para melhorar as contas de Estados e municípios)? É a PEC Emergencial (que também trata de contas públicas)? É a carteira Verde-Amarela (proposta de novos contratos de trabalho)? É a reforma tributária?", questiona a economista.
Ela diz ainda que "falta Casa Civil" ao governo, em referência ao ministério que costuma cuidar da articulação política. Bolsonaro acaba de trocar o comado da pasta, nomeando como ministro o general Walter Souza Braga Netto, no lugar de Ônyx Lorenzoni, político do DEM que assumiu o Ministério das Cidades. A economista, porém, não vê perspectivas de melhora na negociação política com a nomeação de mais um militar para o governo.
"Governar (para essa gestão) parece que é mandar projeto para o Congresso, mas não é. Governar é estabelecer prioridades, é fazer o diálogo com os Poderes (Congresso e STF), é entregar. Não é dizer 'já fiz a minha parte, agora é com o Congresso'", critica ainda.

DEMOCRACIA RELATIVA DE LULA E MADURO CADA UM AO SEU MODO

  Brasil e Mundo ...