Quem é Roger Stone, amigo condenado à prisão que Trump defende
publicamente
©
Getty Images Roger Stone foi condenado a mais de 3 anos de prisão por mentir ao
Congresso, obstruir a Justiça e ameaçar testemunha
Roger Stone, estrategista político e aliado de
longa data do presidente americano Donald Trump,
foi condenado a 3 anos e 4 meses de prisão após ser considerado culpado por
diversos crimes, incluindo os de obstrução da Justiça e de mentir para o
Congresso.
O caso se tornou um escândalo nos EUA não só por
Stone ser o sexto assessor de Trump condenado criminalmente em meio à
investigação sobre conspiração entre sua campanha e a Rússia, mas por causa da
interferência direta do presidente americano para aliviar a condenação do amigo
e aliado.
Inicialmente, os promotores responsáveis pelo caso
haviam recomendado à Justiça uma pena de sete a nove anos — a pena padrão, pela
legislação, para crimes como o dele.
No Twitter, porém, Trump disse que a recomendação
de sentença era "muito horrível e injusta". "Não posso permitir
essa condução errada da Justiça", escreveu.
Um presidente falar diretamente sobre um caso
envolvendo um amigo seu e sendo julgado na Justiça não é comum nos EUA — é algo
que não acontece desde o escândalo de Watergate.
Presidentes não comentam ações na Justiça
envolvendo seus aliados, porque o Ministério Público não é independente do
Executivo no país e isso por ser lido como interferência indevida. Portanto, a
manifestação de Trump foi considerada chocante até mesmo para um público que já
está acostumado com a forte presença do presidente no Twitter.
Outro fato surpreendente é que, no dia seguinte à
manifestação de Trump, o procurador-geral William Barr, secretário do
Departamento de Justiça, anulou a recomendação dos promotores e disse que a
Procuradoria iria pedir uma sentença mais branda, abaixo do normal estabelecido
pela lei.
Logo em seguida os quatro promotores de carreira inicialmente
responsáveis pelo caso pediram demissão, um atrás do outro, em protesto contra
a interferência.
©
EPA
Nesta quarta (19/1), Stone foi julgado em
Washington e recebeu a pena de 3 anos e 4 meses. Trump deu indicativos que pode
dar o perdão presidencial para seu aliado.
Mas afinal, quem é esse consultor político veterano
que Trump não mediu esforços para defender? E o que levou ao seu julgamento e
condenação?
"Trapaceiro
sujo"
Veterano político, Stone tem 67 anos e trabalha
para o Partido Republicano desde os anos 1970. Fã de Richard Nixon — que sofreu
um impeachment e renunciou após espionar o Partido Democrata — Stones se
autodeclara um "trapaceiro sujo".
Era considerado de pouca projeção nos últimos
tempos, até ascender junto com Trump.
Stone foi condenado por mentir para o Congresso,
obstrução de Justiça e corrupção de testemunha em sete ocasiões.
Sua condenação está ligada a afirmações que ele fez
sobre os esforços feitos pela campanha de Trump para obter e-mails hackeados da
campanha presidencial de Hillary Clinton, contra quem Trump concorreu 2016. O
objetivo era prejudicar a candidata democrata.
Os e-mails foram publicados pelo WikiLeaks.
Algumas das mentiras de Stone eram sobre a
existência de certos e-mails e textos, e outros eram relacionados a conversas
com funcionários da campanha de Trump e com o "contato" da campanha
com o WikiLeaks.
Promotores dizem que ele mentiu sobre a data das
conversas e sobre a identidade do intermediário.
©
Getty Images Roger Stone (ao centro) já trabalhava para os republicanos em 1985
Stone também foi acusado de ameaçar uma testemunha
da investigação, o comediante Randy Credico. Antes de um depoimento de Credico
ao FBI (a polícia federal americana), Stone mandou mensagens dizendo para ele
"se preparar para morrer" e chamando-o de "dedo-duro".
Durante o julgamento, o promotor Aaron Zelinsky
disse ao júri que Stones mentiu porque "a verdade prejudicaria
Trump".
Stone negou todas as acusações e disse que era
vítima de perseguição política, mas foi condenado em 15 de novembro. Sua pena
saiu nesta quarta-feira, mas foi menor do que a legislação normalmente
determina.
Em sua sentença, a juíza Amy Berman Jackson disse
que Stone teve uma conduta "intolerável, intimidadora e ameaçadora"
contra ela.
Além dos anos de prisão, Stone também terá que
pagar uma multa de US$ 20 mil (R$ 87 mil na cotação atual) e prestar 250 horas
de serviço comunitário.
Fã de Nixon
Nascido no Estado americano de Connecticut em 1952,
Stone se envolveu em política pela primeira vez aos oito anos, quando começou a
tentar levantar votos para o candidato democrata John F Kennedy.
"Eu lembro de ir na fila da cantina e dizer
para todas as crianças que o Nixon (adversário de Kennedy em 1960) era a favor
de escola nos sábados", disse Stone em uma entrevista para o jornal The
Washington Post em 2007. "Foi meu primeiro truque político."
©
Getty Images Roger Stone tem um quarto cheio de objetos em homenagem ao
ex-presidente Nixon em seu escritório na Flórida
Mas seu alinhamento político mudaria depois de
adulto. Stone começou sua carreira profissional ajudando na campanha de
reeleição de Richard Nixon em 1972.
Uma comissão de investigação do Congresso americano
em 1973, que investigava o escândalo de Watergate, revelou que Stone contratou
um funcionário republicano para infiltrar a campanha do então cadidato
democrata, George McGovern, e sabotar o inimigo político de Nixon.
A descoberta fez Stone perder o emprego de assessor
do senador Bob Dole, mas o assessor político insistiu que não violou nenhuma
lei.
"O motivo pelo qual eu sou fã do Nixon é
porque ele é resiliente e indestrutível", disse ele em uma entrevista à
revista New Yorker logo após tatuar o rosto do ex-presidente nas costas.
"As mulheres adoram."
©
Getty Images Roger Stone (à esq.) trabalhou na campanha de Ronald Reagan (à
dir.) nos anos 1980
Stone continuou trabalhando para o Partido
Republicano. Fez parte das campanhas presidenciais de Ronald Reagan em 1980 e
1984 e participou da eleição de George Bush pai em 1988.
Mas Nixon continua ocupando um lugar especial na
memória de Stone — além da tatuagem, ele tem um quarto cheio de objetos em
homenagem ao ex-presidente em seu escritório na Flórida.
Qual sua ligação com
Trump?
Nos anos 1990, Stone trabalhou como lobista para os
cassinos de Trump e depois o ajudou em sua campanha para a Presidência no ano
2000, que não teve sucesso.
De acordo com o documentário da Netflix Get Me
Roger Stone (Me traga o Roger Stone, em tradução literal), o estrategista
político foi uma das pessoas que mais incentivaram Trump a concorrer à
Presidência.
©
Getty Images Stone encorajou Trump a concorrer à presidência e participou de
sua primeira campanha, em 2000
Durante a campnha de Trump em 2015, a dupla teve
desentendimentos. Stone diz que se demitiu, Trump diz que ele foi demitido.
Mas, dias depois, Stones escreveu um artigo para o
jornal Business Insider em apoio ao candidato.
Desde a eleição, Trump havia se afastado de Stone,
apesar de o estrategista político sempre aparecer na televisão defendendo seu
ex-chefe.
Em 2017, Stone teve a sua conta no Twitter
temporariamente suspensa depois de atacar jornalistas e usar linguagem
homofóbica para se referir ao apresentador da CNN Don Lemon.
Ele também sempre fez questão de chamar a atenção
para seu vestuário — ele não usa meias e prefere ternos feitos sob medida.
"Se a vida é um palco, você deve estar sempre
de figurino", disse ao jornal The New York Times em 2015. "E se você
está tentanto passar autoridade em seus negócios, estar bem vestido é parte
disso."
Nenhum comentário:
Postar um comentário