O vício da reclamação
Simone Demolinari
Infelizmente, tenho
uma mãe que só reclama. Nada para ela está bom. Além disso, ela acha que
ninguém a ama, que todo emprego é ruim; acha que ganha mal, odeia a cidade que
mora, os amigos são falsos, o carro é ruim. Coloca-se como vítima o tempo todo,
mas toda solução que você dá não serve para ela. Qualquer pessoa que chega
perto dela, sai pior”.
Algumas pessoas são
viciadas em reclamar. Adquirem esse hábito e não o largam mais. Aliás, só o
intensificam ao longo da vida. Para elas, não existe nada bom. São moduladas
para o negativo.
Não importa a
situação, só enxergam a infelicidade, seja nas pequenas coisas ou em grandes
acontecimentos. Haja o que houver, a parte negativa sempre vai se sobrepor à
positiva. Podem estar no melhor lugar, num dia ensolarado, com vista
deslumbrante, que sempre haverá um espaço para o culto ao problema.
Quem vive do
expediente de reclamar geralmente mantém dois comportamentos peculiares: o
vitimismo e a “terceirização da culpa”.
Vitimizar-se é uma
arma poderosa do “reclamão”. Mas é importante diferenciar vítima de vitimista.
Vítima é aquela pessoa cuja fraqueza foi explorada.
Mesmo tendo sofrido
um dano, ela não reverbera seu problema. Cai e se levanta, sem muita queixa ou
lamentação. Ergue-se novamente, com a própria força interior ou com uma pequena
ajuda alguém. Já o vitimista é diferente. Não age em prol da solução; ao
contrário, por conveniência, fica estagnado na reclamação para justificar sua infelicidade.
Usa do seu problema (real ou imaginário) para obter privilégios. Apesar de
reclamar o tempo todo, não quer ajuda; quer vantagens.
A reboque do
vitimismo vem a “terceirização da culpa”, uma manobra covarde para se isentar
de qualquer responsabilidade. O inferno são os outros. A culpa é sempre da
sociedade, do chefe, do governo; menos de si próprio. Além disso, coloca-se no
centro do mundo, pois considera os seus problemas os maiores e mais pesados.
O motivo que leva
uma pessoa a agir assim é a necessidade de chamar atenção atrelada ao ganho
secundário em levar vantagens. Reclamando, o eterno sofredor nunca precisará
arregaçar as mangas e agir. Fica parado contando com a ajuda daqueles que se
comovem e se solidarizam com ele. Espera receber aquilo que não dá. E quanto
mais recebe, mais espera receber. E mais reclama das injustiças do mundo. Um
buraco sem fundo.
Viver a vida se
queixando das circunstâncias é um mau hábito que vai se tornando um traço
marcante da personalidade de uma pessoa. Ao longo do tempo, o indivíduo se
transforma numa pessoa negativa, mal-humorada e péssima conviva. Ninguém quer
ficar próximo a alguém com o peso da negatividade.
Convém lembrar a
essas pessoas que melhor que reclamar é enfrentar os problemas, reagir, ir à
luta e poupar os ouvidos alheios. Isso não significa que devemos fingir que
está tudo bem. É importante enxergar a realidade, mas igualmente importante é
ter atitude para resolver o problema. De preferência, sem reclamar.