quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

JUDEUS - SUAS CRENÇAS - SEUS ÍDOLOS


Falando de judeus

Manoel Hygino








 



 Amos Oz


Os judeus não são fáceis. Não param. No sábado, seu dia santo (para os muçulmanos é a sexta-feira e para os cristãos o domingo), o primeiro-ministro Natanyahu, em visita ao Brasil inclusive para a posse do novo presidente da República, se mostrou tranquilo na praia do Leme, no Rio de Janeiro. Molhou os pés nas águas do Atlântico, acompanhado da esposa Sara, e, num quiosque, em que se acomodaram sentados, apreciaram batata frita, espetinhos de galinha e salada, deliciando-se com cerveja gelada e caipirinha.
Na véspera, tomara conhecimento do falecimento de Georges Loinger, militante da resistência durante a II Grande Guerra, na França. Salvou centenas de crianças judias do terror nazista, encerrando a vida aos 108 anos, ele natural de Estrasburgo, Nordeste do país.
Na mesma sexta-feira, também deixara a vida Amos Oz, aos 79 anos, escritor, nascido em Jerusalém, vitimado por câncer. Em sua obra, informam os jornais, sempre buscou desvendar a natureza humana. Um dos fundadores do movimento Peace Now – Paz Agora, sofreu aos 12 anos a dor da morte da mãe. Filho de pai lituano e de polonesa, recolheu-se dois anos após a um kibutz, local mais apropriado à sua maneira de ser e à conduta adotada pelo resto da existência.
Não alcançou a glória de um Nobel, mas conquistou vários e altíssimos prêmios de literatura. No plano político, sempre defendeu o fim do conflito entre Israel e Palestina, contrapondo-se ao primeiro-ministro. “Que seu legado continue a melhorar o mundo”, disse a filha Fania, ao dar notícia da morte.
A despeito de sua posição tenaz em favor da paz, Amos não fugiu aos deveres perante a pátria, servindo às forças de defesa de Israel, enquanto convocado declarou: “percebi, com 16 anos, que se eu não lesse os evangélicos, nunca teria acesso à arte renascentista, à música de Bach e aos romances de Dostoiewski. Então à noite, quando os outros meninos iam jogar basquete ou perseguir garotas, encontrei meu conforto em Jesus”.
Além de escrever dezoito romances em hebraico, deixou um número indefinido de contos e ensaios, inclusive editados em veículos internacionais. Como se antecipando à decisão do Brasil com relação a transferência de sua embaixada em Israel para Jerusalém, manifestou-se Amos Oz, há dois meses, na Alemanha: “não sinto o que o futuro reserva para Jerusalém, mas sei o que deve acontecer. Todos os países do mundo devem seguir o exemplo do presidente americano Donald Trump e transferir sua embaixada em Israel para Jerusalém. Ao mesmo tempo, cada um desses países deveria abrir sua própria embaixada em Jerusalém Oriental como a capital do povo palestino”.
Seu último romance, Judas (2014), suscitou debates inflamados. Ali, Oz apresenta o traidor de Cristo como o primeiro de todos os cristãos, o único fiel a Jesus até à cruz e um injustiçado. Geoffrey Blainey comenta que a última ceia fora comovente. Todos presentes, os discípulos comiam e bebiam. Jesus conversava, ensinava e fazia perguntas. O Mestre anunciou: “em verdade vos digo, um de vós me trairá”.
Os discípulos estavam apreensivos. Diante da posição agressiva dos sacerdotes e das autoridades, era perigoso seguir Jesus. Blainey explica: “conscientes da própria fraqueza sob pressão, talvez temessem ser forçados a renegá-lo publicamente. Então, ao ouvir falar em traição, perguntaram ansiosamente, um após outro: ‘Senhor, sou eu?’. Na sua vez de falar, Judas fingiu inocência e perguntou: ‘Mestre, sou eu?’. Jesus já sabia a resposta”. Mais tarde, o Mestre preso, o Sumo Sacerdote perguntou se ele era o ungido, o Messias, e Judas respondeu simplesmente: “sim”.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O GOVERNADOR ELEITO DE MINAS GERAIS ROMEU ZEMA TEM UM PEPINO DE DÍVIDAS DEIXADAS PELO SEU ANTESSESSOR


Novo governador de Minas herda rombo bilionário e dívida com servidores e municípios

Lucas Simões 












Ao assumir o cargo de chefe do Executivo de Minas como o primeiro governador eleito pelo partido Novo no país, o empresário de Araxá Romeu Zema terá que lidar com outras pedras no caminho, além do rombo nos cofres públicos que pode chegar a R$ 30 bilhões.
O principal desafio é o déficit do Estado. Aprovado em R$ 11,4 bilhões pela Assembleia Legislativa, o valor deve ultrapassar a cifra apresentada pelo ex- governador Fernando Pimentel (PT). A previsão de Zema e de Mateus Simões, vereador licenciado que coordenou a equipe de transição, é a de que o montante seja quase três vezes o que foi anunciado.
“Os valores mais corretos só teremos a partir da segunda quinzena de janeiro. Mas, com certeza, ultrapassa a previsão do governo (de Fernando Pimentel)”, diz Mateus.
O funcionalismo público também espera de Zema uma solução para o parcelamento dos salários dos 633 mil servidores. A gestão petista chegou ao fim devendo, ainda, o pagamento do 13º salário, um débito de cerca de R$ 2,1 bilhões. Agrava a situação a dívida de R$ 11,9 bilhões que o Estado tem com os municípios, referentes a repasses atrasados de ICMS, IPVA e Fundeb — por lei, 25% desses impostos devem ser entregues pelo Estado às prefeituras.
Saída já ventilada por Zema é propor uma lei para que o repasse caia diretamente nas contas dos municípios, sem intermédio do Estado. “É uma visão interessante, mas teríamos trabalho para aprovar uma legislação dessa magnitude. O correto seria garantir os repasses e não ficar segurando todo mês”, avalia o presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM) e prefeito de Moema, Julvan Lacerda.
ARTICULAÇÃO
Além de enfrentar a questão financeira, Romeu Zema terá o desafio de dialogar com a classe política, à qual não poupa críticas.
Para a Assembleia, o partido Novo conseguiu eleger três dos 77 deputados, sendo representado pelos estreantes Bartô, Guilherme Cunha e Laura Serrano.
Mesmo apoiando o favorito para a presidência da Assembleia – o deputado Agostinho Patrus (PV), simpático a Zema –, a legenda do governador provavelmente irá enfrentar a oposição do PT, que manteve a maioria no Legislativo estadual, com dez parlamentares.
Os 77 deputados serão empossados em 1º de fevereiro, quando também ocorrerá a eleição da Mesa Diretora da Assembleia.

O BREXIT ENCOMODA OS BRITÂNICOS


Com saída da União Europeia, milhares de britânicos querem se tornar irlandeses

Agência Brasil 












A poucos meses da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), cidadãos britânicos procuram garantir passaportes de países que vão permanecer no bloco, entre eles a Irlanda.
Com um total de mais de 183 mil pedidos, o número acumulado em 2018 atingiu novo recorde, informou o Departamento de Estado Irlandês. Quase 85 mil desses pedidos foram apresentados na Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido – 2% a mais do que no ano anterior. No restante do Reino Unido, foram 98.500 pedidos - um aumento de 22% em relação ao ano passado.
Em 2017, o número de pedidos de cidadania irlandesa apresentados na Irlanda do Norte e no Reino Unido já havia registrado aumento de 20% em relação a 2016, o ano em que o Brexit  foi aprovado em referendo.
Qualquer pessoa nascida na Irlanda ou Irlanda do Norte, ou cujos pais ou avós sejam originários da Irlanda pode solicitar um passaporte irlandês. O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, mostrou satisfação com o aumento no número de pedidos. "O passaporte irlandês é um documento valioso", disse.
O Reino Unido deve deixar a União Europeia no final de março de 2019, segundo o resultado do referendo do Brexit em 2016. Não está claro se o parlamento em Londres ainda vai conseguir aprovar o acordo de saída negociado pela primeira-ministra Theresa May com a UE. Caso a saída ocorra sem aprovação de um acordo, existe a possibilidade de um Brexit "duro", que pode ter consequências caóticas.
Na Alemanha, o número de britânicos naturalizados aumentou de maneira acentuada recentemente - 7.493 britânicos solicitaram um passaporte alemão em 2017, o maior número já registrado. A maioria dos solicitantes era de pessoas que fugiram para o Reino Unido durante o regime nazista. Para se naturalizar, elas contam com autorização especial para repatriamento, que consta no Artigo 116 da Lei Fundamental, a Constituição alemã.

BOLSONARO E MOURÃO TOMARAM POSSE EM GRANDE ESTILO


De dez promessas feitas, Bolsonaro dependerá do Congresso em oito

Estadão Conteúdo













Com base na legislação brasileira, o presidente possui três dispositivos para aprovar leis: Projeto de Lei, Proposta de Emenda à Constituição e Medida Provisória

Empossado, o presidente Jair Bolsonaro terá a missão de pôr em prática as promessas feitas na campanha. De dez propostas selecionadas pela reportagem e analisadas com ajuda de especialistas, oito dependem do Congresso.

Com base na legislação brasileira, o presidente possui três dispositivos para aprovar leis. Um é via Projeto de Lei (PL), que depende da maioria de votos favoráveis dos parlamentares presentes na sessão, caso seja uma lei ordinária e da maioria absoluta de cada Casa, se for uma lei complementar. Outro dispositivo é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que precisa de 3/5 de votos do total de parlamentares da Câmara e do Senado. Estes dois recursos também podem ser apresentados por deputados e senadores.

Por fim, o presidente ainda pode apresentar uma Medida Provisória (MP). Nesse caso, a lei passa a valer assim que é publicada. No entanto, o Congresso tem um prazo de 60 dias, prorrogáveis por mais 60 dias para aprovar o projeto. Caso isso não ocorra, a medida perde efeito. Esse último dispositivo é prerrogativa única do presidente.

1. Mudança da Embaixada de Israel
Bolsonaro prometeu, ainda durante a campanha eleitoral, mudar a embaixada brasileira em Israel. A sede do governo iria de Tel-Aviv para Jerusalém. O primeiro-ministro israelense, Biyamin Nethanyahu, disse recentemente que Bolsonaro confirmou a mudança. O presidente tem a prerrogativa de fazer a alteração sem consultar o poder legislativo. "Basta uma ordem do presidente que o Itamaraty vai cumprir, não depende de aprovação de Congresso", afirma a professora de direito internacional da PUC-SP Claudia Villagra.Apesar da autonomia, a medida é polêmica do ponto de vista diplomático, uma vez que reconheceria Jerusalém como capital de Israel. Há décadas a cidade é centro de disputas entre israelenses e palestinos, que a reivindicam como sua capital.

Em dezembro de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que iria mudar a embaixada norte-americana para Jerusalém. No mesmo mês, o governo brasileiro e outros 127 países apoiaram uma resolução da ONU condenando a transferência. Em maio de 2018, a mudança foi oficializada, o que desencadeou uma série de protestos dos palestinos. No dia da inauguração da nova sede, ao menos 52 manifestantes foram mortos.

Em dezembro de 2018, após a confirmação de Bolsonaro de que a proposta será levada adiante, a Liga Árabe aprovou uma resolução apontando que a região tomará as "medidas políticas, diplomáticas e econômicas necessárias", caso a embaixada brasileira mude para Jerusalém.

2. Inclusão de disciplinas na Base Curricular Comum
Durante a campanha ao Planalto, o então candidato a vice-presidente general Hamilton Mourão afirmou que, caso eleito, Bolsonaro gostaria de reintroduzir as disciplinas de Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política do Brasil (OSPB) no currículo escolar. Ambas foram tornadas obrigatórias durante o regime militar, por meio de decreto presidencial. A medida foi revogada 24 anos depois, no governo de Itamar Franco.

Segundo a advogada e integrante do Movimento Todos pela Educação, Alessandra Gotti Bontempo, a Lei nº 13.415, de 2017, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e determinou que qualquer mudança dessa natureza teria que vir pelo Ministério da Educação (MEC), validada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e homologada pelo Ministro da Educação, sem necessidade de passar pelo Congresso.
"Ao mesmo tempo, o MEC pode enviar proposta de inclusão de competências ou habilidades destes temas que já não estejam contempladas na Base Nacional Comum Curricular para inclusão no documento pelo CNE", explica Eduardo Deschamps, ex-presidente do CNE.

3. Corte de Ministérios
Em seu programa de governo, entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a campanha presidencial, Bolsonaro propõe uma redução no números de pastas, afirmando que "um número elevado de ministérios é ineficiente, não atendendo os legítimos interesses da Nação." Após a eleição, o futuro presidente anunciou que irá reformular os ministérios.

Algumas pastas serão fundidas, como os atuais Ministérios da Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio, que irão formar o Ministério da Economia. Outras extintas, como o Ministério do Trabalho. Apesar de já ter sido anunciada, a reformulação precisa passar pelo poder legislativo. Segundo o professor de direito da USP Floriano Peixoto Neto, a Constituição prevê que em casos de criação de despesas, ou extinção de cargos, a mudança deve ser aprovada pelo Congresso. "Normalmente é enviada por MP", diz. Ele acredita que a alteração não irá encontrar resistência.
Cabe exclusivamente ao presidente, sem a necessidade de aprovação do Congresso, organizar a administração das pastas. Isso significa que ele pode deslocar, por exemplo, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda, para o Ministério da Justiça, conforme anunciou o futuro ministro da pasta, Sérgio Moro.

4. Saidinhas e indultos de presos
Bolsonaro poderá, sozinho, acabar com o indulto natalino aos presos. O indulto é um perdão de pena que costuma ser concedido pelo presidente na época do Natal. O dispositivo está previsto na Constituição e vale para os presos que cumprem determinados requisitos. Para entrar em vigor, o presidente precisa assinar um decreto a cada ano. Por isso, para cancelar o indulto, basta que Bolsonaro não assine o documento.

Já o processo para acabar com as saidinhas temporárias é um pouco mais complicado. O professor de direito penal da FGV Conrado Gontijo explica que a revogação do benefício não é tão simples, pois trata-se de uma matéria disciplinada pela lei de execuções penais, o que impede, inclusive, a edição de uma MP. "Apenas o Congresso Nacional tem condição de alterar essa questão", diz.

5. Revogação do Estatuto do Desarmamento
Uma das principais promessas nas quais a campanha presidencial de Jair Bolsonaro foi baseada, a revogação à proibição do porte de arma não poderá ser feita com uma canetada. Para isso, será necessário que o Congresso aprove um PL que altere o Estatuto do Desarmamento, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição.

Atualmente, tramita na Câmara o PL3722 proposto em 2012 pelo deputado Rogério Peninha Mendonça (MDB) e relacionado ao tema. O texto já passou pelas comissões da Casa e agora precisa ser votado em plenário.

O presidente, no entanto, tem a prerrogativa de flexibilizar alguns pontos do estatuto sem precisar de aprovação legislativa. O diretor executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques, afirma que alguns dispositivos da lei são de competência da Polícia Federal (PF) e do Ministério da Justiça, ambos controlados por Bolsonaro. "Ele pode alterar, por exemplo, o número de armas que as pessoas podem ter, ou tipo de calibre permitido."

6. Redução da Maioridade Penal
Para aprovar essa promessa de campanha, incluída no programa de governo, Bolsonaro vai precisar contar com o apoio do Congresso. A matéria, de acordo com o professor Gontijo, só pode ser alterada por emenda constitucional. Isso ocorre porque tanto a Constituição, quando o Código Penal, afirmam que menores de 18 anos são "inimputáveis" e sujeitos às medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Gontijo entende, no entanto, que essa definição poderia ser considerada uma cláusula pétrea da Constituição, o que impediria qualquer alteração. "Eu compreendo que isso sequer poderia ser feito", afirma.

Em 2015, uma PEC foi aprovada pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha. À época, o texto foi alvo de polêmica, pois Cunha valeu-se de uma manobra para conseguir os votos necessários para aprovação. A proposta havia sido rejeitada no dia anterior, mas foi colocada em pauta novamente com algumas alterações, que deixavam o texto mais brando. A proposta reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos em casos de crimes hediondos, homicídio doloso (com intenção de matar) e lesão corporal seguida de morte. Para ser aprovada, a PEC ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e, depois, votada em plenário em dois turnos. É necessário 3/5 dos votos em ambas as votações, o que representa 49 votos favoráveis.

7. Acordo de Paris
Em diversas ocasiões durante a campanha eleitoral, Bolsonaro deixou no ar uma possível retirada do Brasil do Acordo de Paris. A saída do tratado, firmado em 2015, pode levar tempo e algum esforço político do presidente eleito, que sugere que o acordo "fere a soberania do País". As regras firmadas preveem que nenhum país signatário deixe o tratado antes de três anos da entrada em vigência, que só ocorreu em 2016. Dessa forma, a partir de 2019 Bolsonaro poderá iniciar a movimentação para uma eventual retirada.

Ao contrário dos EUA, onde o presidente tem a prerrogativa de decidir sozinho pela retirada, no Brasil isso precisa ser autorizada pelo Congresso, via Projeto de Lei. A professora de direito internacional da USP, Maristela Basso, explica que essa diferença existe por conta da maneira como cada país negociou a entrada no acordo. "Nos EUA o Congresso deu 'fast track' ao presidente. Para entrarem no pacto de Paris, bastava a assinatura dele." Segundo a professora, a adesão do Brasil ao acordo, que estabelece metas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, teve que passar pelo Congresso e, portanto, a retirada deve seguir o mesmo processo. "Bolsonaro pode dizer o que ele quiser, mas tem que ter autorização do Congresso Nacional."

8. Nova Carteira de Trabalho
Em seu programa de governo, o presidente eleito promete a criação de uma nova carteira de trabalho "em que o contrato individual prevalece sobre a CLT, mantendo todos os direitos constitucionais". O novo modelo teria capa verde e amarela e seria destinado principalmente a novos trabalhadores, ingressantes no mercado de trabalho. Funcionaria como uma alternativa a carteira de trabalho tradicional, de capa azul, que garante acessos aos direitos e garantias fundamentais previstos no artigo sétimo da Constituição e que são reforçados pela Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT.

Segundo o advogado trabalhista Luís Carlos Moro, Bolsonaro não poderia, sozinho, mudar os direitos básicos previstos na Constituição, pois seria necessária uma emenda constitucional e assim o aval do Congresso. "Teria que fazer uma modificação de natureza constitucional muito difícil, questionável até do ponto de vista da possibilidade jurídica na medida em que ele alteraria cláusulas pétreas."
Por outro lado, professor de direito trabalhista da FGV, Paulo Sérgio João afirma que o presidente eleito poderia, eventualmente, propor uma mudança na forma como está garantido o direito. "O fundo de garantia, por exemplo, é um direito, mas é a lei que determina que o valor corresponde a 8% do salário."

9. Cotas
Criticada por Bolsonaro durante a campanha presidencial, a lei de cotas não poderá ser alterada com uma canetada, mas tampouco depende de um expressivo apoio legislativo. Isso porque trata-se de uma lei ordinária, logo, qualquer alteração precisa apenas de uma maioria simples, ou seja, a maioria dos parlamentares presentes na sessão. A advogada constitucionalista Vera Chamim acredita que Bolsonaro não terá dificuldades para endurecer a lei, se assim desejar. "Se ele quiser mudar a lei de cotas ele vai precisar de uma maioria simples. Acho que vai ser relativamente fácil."

Outra alternativa seria mudar essa legislação por Medida Provisória. Nesse caso, contudo, pode haver contestamento jurídico, segundo o professor de direito da USP Floriano Peixoto Neto. "A Constituição veda a MP para temas que envolvem a cidadania. Poderia haver um entendimento de cidadania no sentido de incluir as políticas afirmativas dentro dessa discussão".

10. Reforma da Previdência
Apontada como uma das prioridades do novo governo, a Reforma da Previdência precisaria ser aprovada como PEC. Isso requer ao menos 308 votos favoráveis em dois turnos na Câmara e outros 49 votos em dois turnos no Senado. Além disso, a proposta ainda precisaria ser aprovada na CCJ das duas Casa legislativas, o que deve levar algum tempo, caso uma nova proposta seja formulada.
Uma maneira de acelerar o processo seria aprovar a PEC proposta pelo atual presidente Michel Temer. O projeto já passou pela CCJ da Câmara e está pronto para ir a plenário. Bolsonaro, no entanto, já sinalizou que não pretende colocar essa proposta em votação.A legislação permite que o texto já aprovado sofra alterações para que fique mais próxima ao que deseja a equipe econômica do presidente eleito. Mas, segundo a presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, Adriana Bramante, a descaracterização do texto original não é o melhor caminho. "Fica ruim e daqui a um ano estaremos discutindo reforma previdenciária de novo."
Uma terceira possibilidade, seria enviar um PL, que necessita de menos votos, ou até mesmo editar uma Medida Provisória. Porém os pontos que estão contemplados na Constituição só podem ser alterados com emenda. "Bolsonaro não poderia, por exemplo, colocar idade mínima na aposentadoria", diz Adriana.

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