Falando de judeus
Manoel Hygino
Amos Oz
Os judeus não são
fáceis. Não param. No sábado, seu dia santo (para os muçulmanos é a sexta-feira
e para os cristãos o domingo), o primeiro-ministro Natanyahu, em visita ao Brasil
inclusive para a posse do novo presidente da República, se mostrou tranquilo na
praia do Leme, no Rio de Janeiro. Molhou os pés nas águas do Atlântico,
acompanhado da esposa Sara, e, num quiosque, em que se acomodaram sentados,
apreciaram batata frita, espetinhos de galinha e salada, deliciando-se com
cerveja gelada e caipirinha.
Na véspera, tomara
conhecimento do falecimento de Georges Loinger, militante da resistência
durante a II Grande Guerra, na França. Salvou centenas de crianças judias do
terror nazista, encerrando a vida aos 108 anos, ele natural de Estrasburgo,
Nordeste do país.
Na mesma
sexta-feira, também deixara a vida Amos Oz, aos 79 anos, escritor, nascido em
Jerusalém, vitimado por câncer. Em sua obra, informam os jornais, sempre buscou
desvendar a natureza humana. Um dos fundadores do movimento Peace Now – Paz
Agora, sofreu aos 12 anos a dor da morte da mãe. Filho de pai lituano e de
polonesa, recolheu-se dois anos após a um kibutz, local mais apropriado à sua
maneira de ser e à conduta adotada pelo resto da existência.
Não alcançou a
glória de um Nobel, mas conquistou vários e altíssimos prêmios de literatura.
No plano político, sempre defendeu o fim do conflito entre Israel e Palestina,
contrapondo-se ao primeiro-ministro. “Que seu legado continue a melhorar o
mundo”, disse a filha Fania, ao dar notícia da morte.
A despeito de sua
posição tenaz em favor da paz, Amos não fugiu aos deveres perante a pátria,
servindo às forças de defesa de Israel, enquanto convocado declarou: “percebi,
com 16 anos, que se eu não lesse os evangélicos, nunca teria acesso à arte
renascentista, à música de Bach e aos romances de Dostoiewski. Então à noite,
quando os outros meninos iam jogar basquete ou perseguir garotas, encontrei meu
conforto em Jesus”.
Além de escrever
dezoito romances em hebraico, deixou um número indefinido de contos e ensaios,
inclusive editados em veículos internacionais. Como se antecipando à decisão do
Brasil com relação a transferência de sua embaixada em Israel para Jerusalém,
manifestou-se Amos Oz, há dois meses, na Alemanha: “não sinto o que o futuro
reserva para Jerusalém, mas sei o que deve acontecer. Todos os países do mundo
devem seguir o exemplo do presidente americano Donald Trump e transferir sua
embaixada em Israel para Jerusalém. Ao mesmo tempo, cada um desses países
deveria abrir sua própria embaixada em Jerusalém Oriental como a capital do
povo palestino”.
Seu último romance,
Judas (2014), suscitou debates inflamados. Ali, Oz apresenta o traidor de
Cristo como o primeiro de todos os cristãos, o único fiel a Jesus até à cruz e
um injustiçado. Geoffrey Blainey comenta que a última ceia fora comovente.
Todos presentes, os discípulos comiam e bebiam. Jesus conversava, ensinava e
fazia perguntas. O Mestre anunciou: “em verdade vos digo, um de vós me trairá”.
Os discípulos
estavam apreensivos. Diante da posição agressiva dos sacerdotes e das
autoridades, era perigoso seguir Jesus. Blainey explica: “conscientes da
própria fraqueza sob pressão, talvez temessem ser forçados a renegá-lo publicamente.
Então, ao ouvir falar em traição, perguntaram ansiosamente, um após outro:
‘Senhor, sou eu?’. Na sua vez de falar, Judas fingiu inocência e perguntou:
‘Mestre, sou eu?’. Jesus já sabia a resposta”. Mais tarde, o Mestre preso, o
Sumo Sacerdote perguntou se ele era o ungido, o Messias, e Judas respondeu
simplesmente: “sim”.
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