quinta-feira, 8 de novembro de 2018

VOCÊ SABE O QUE É SÍNDROME DE ESTOCOLMO?


Laços afetivos e a Síndrome de Estocolmo

Simone Demolinari 










Em 1973, bandidos invadiram um banco em Estocolmo, na Suécia, e o que era para ser um assalto rápido, acabou durando seis dias. Os criminosos capturaram quatro funcionários e os mantiveram reféns. O curioso é que, no segundo dia, os sequestrados sentiam medo dos policiais e protegidos pelos criminosos. Acreditavam que estavam vivos, graças aos bandidos.
Um dos especialistas que trabalhou nessa operação cunhou o termo “Síndrome de Estocolmo” para descrever um estado psicológico onde uma pessoa, quando submetida a maus tratos, passa a ter simpatia pelo seu agressor.
Estabelecer laços de afeto com quem nos faz mal, parece algo improvável. Porém, pode ser mais frequente do que imaginamos–basta ver o número de pessoas que sofrem agressões morais, psicológicas ou até mesmo físicas e ainda assim não conseguem abandonar o agressor. E mais, costumam defende-lo dizendo entender seus motivos, ou fazendo mea culpa.
De uma maneira geral, isso ocorre devido à uma dependência emocional que vai sendo criada de forma lenta e gradual. As agressões vão aumentando, mas de maneira sutil. Justificam-se as ações através do sentimento: “Fiz por amor”. Dessa forma, a pessoa que sofre os maus tratos, relativiza o fato e começa a perceber a agressão sob a perspectiva do “cuidado”. E assim, segue se sentindo protegida pelo próprio agressor.
Com o passar do tempo, a agressão vira rotina e a vítima perde a sensibilidade para o absurdo. Quem está de fora fica assustado, mas quem se encontra dentro da situação encara como “normal”. A relação vira uma espécie de sadomasoquismo emocional, onde a vítima masoquista racionalmente repudia a situação, mas emocionalmente não consegue abandona-la. Já o algoz sádico, sente prazer em torturar. Mesmo afirmando um desejo de mudar, volta sempre a ter as mesmas atitudes. Um precisa do outro para alimentar sua doença e até alternar os papeis.
Uma pessoa, quando vive em condições hostis, seja ela de crítica, maus tratos, ou tortura psicológica, tende a interpretar pequenos atos de gentileza por parte do agressor, como demonstração de afeto. Isso explica o fato de migalhas de carinho apagar uma grande ação de violência. Nesse contexto os sentimentos são confusos e antagônicos. Uma ambivalência afetiva onde é possível sentir, ao mesmo tempo, amor e ódio; rancor e carinho; raiva e gratidão; repulsa e desejo.
Apaixonar-se pelo agressor não é algo comum apenas em relações afetivas. Pode ocorre também em família, entre amigos, chefes e colegas de trabalho.
As pessoas mais pré dispostas a desenvolver afeição pelo abusador, geralmente tiveram na infância algum familiar opressor. Com isso, acabaram desenvolvendo um mecanismo de defesa inconsciente, onde, acreditam que através do afeto, a situação de abuso pode diminuir ou mesmo acabar. Se enganam, geralmente nunca tem fim.


quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O BRASIL COMEMOROU ONTEM TRINTA ANOS DA CONSTIUIÇÃO BRASILEIRA


Autoridades celebram 30 anos da Constituição
Solenidade em Brasília reúne o presidente Michel Temer e o eleito Jair Bolsonaro no Congresso Nacional

Da Redação










ENCONTRO – Deputada federal Raquel Muniz presenteou Jair Bolsonaro com edição comemorativa da Constituição Federal, e teve seu exemplar autografado pelo presidente eleito

A sessão do Congresso na manhã ontem para celebrar os 30 anos da Constituição Federal levou ao Parlamento o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
“Na topografia, existem três nortes: o da quadrícula, o verdadeiro e o magnético. Na democracia só há um norte: é o da nossa Constituição”, afirmou Bolsonaro, durante uma breve fala no evento.
Ele foi recebido pelo presidente Michel Teme, pelo presidente do Congresso, senador Eunício Oliveira (MDB-CE), pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ex-presidente da república José Sarney e ainda pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Pouco antes da solenidade, Jair Bolsonaro foi presenteado pela deputada federal Raquel Muniz (PSD) com uma edição comemorativa da Constituição Federal.
Para a parlamentar, com o fim da campanha eleitoral é preciso que todos os segmentos se unam em prol do Brasil. “A partir de agora é preciso que cada um tenha em mente que somos um único povo, que como disse o presidente Bolsonaro, a Constituição é nosso Norte e o país precisa de nós. Ao presidente desejamos que Deus ilumine seu caminho e dê a ele sabedoria para promover as mudanças que o Brasil precisa, para avançarmos e garantir melhor qualidade de vida a seus cidadãos”.
Esta é a primeira viagem de Bolsonaro a Brasília desde que venceu as eleições. O presidente eleito chegou por volta de 9h50 ao Congresso, local em que trabalhou nos últimos 28 anos como deputado.
Acompanhado por uma escolta policial, cumprimentou colegas e funcionários antes de se dirigir ao plenário da Câmara, onde foi realizada a sessão. No trajeto final até o plenário, Bolsonaro caminhou sobre tapete vermelho ao lado de Temer e Eunício Oliveira.
Bolsonaro deixou o plenário às 11h46, logo depois que começou o discurso do primeiro parlamentar inscrito na sessão. Ao sair do Congresso, ele seguiu para um almoço com o ministro da Defesa, general Silva e Luna.

DISCURSOS
Já o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Eunício Oliveira (MDB-CE), afirmou que a Constituição de 1988 é o marco para a transição do período democrático mais longo da história do país. “Devemos sempre, sempre respeitá-la (a Constituição) e, principalmente, cumpri-la”.
Logo após, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, afirmou que democracia se mostra consolidada quando os brasileiros, durante a campanha eleitoral, não se deixaram seduzir por propostas de uma nova Constituição. “Não é trivial que propostas que acenaram para a substituição da Constituição em vigor tenham sido repudiadas pela opinião pública durante o último processo eleitoral”. Mas acrescentou que a defesa da Constituição não exclui o fato de que o texto precisa de reformas.
Por sua vez, a Procuradora- Geral da República, Raquel Dodge, reafirmou que a Constituição é principal ferramenta do povo brasileiro para garantir a liberdade de imprensa e de opinião, além proteger as minorias.
Michel Temer destacou que a Constituição representa “as ansiedades e expectativas” do povo brasileiro e defendeu a realização de encontros periódicos entre os chefes de cada poder para discutir o país.

ENTREVISTA DO JUÍZ SÉRGIO MORO FUTURO MINISTRO DA JUSTIÇA DO GOVERNO BOLSONARO


Moro propõe mais rigor para progressão de pena e prescrição de crimes

Agência Brasil












A ideia geral de Sergio Moro é resgatar parte do pacote de 10 medidas contra a corrupção proposto pelo MPF

Na primeira entrevista coletiva concedida após ter aceitado o convite para ser ministro da Justiça, o juiz federal Sergio Moro afirmou nesta terça-feira (6), em Curitiba, que pretende apresentar um conjunto de projetos de lei para combater a corrupção e enfrentar o crime organizado. A ideia geral, segundo o magistrado, é resgatar parte do pacote de 10 medidas contra a corrupção proposto pelo Ministério Público Federal (MPF), mas que não avançou no Congresso Nacional, além de outras iniciativas apresentadas por organizações da sociedade civil, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Transparência Internacional.
"A ideia é que essas reformas sejam propostas simples e que possam ser aprovadas em breve tempo, sem prejuízo que propostas mais complexas sejam apresentadas em momento posterior ou paralelamente", explicou. Ele citou alguns exemplos do que pretende enviar ao Congresso, mas ressaltou que a versão final das propostas, ainda em estudo, deverão ser precedidas de um acordo interno que será construído com o presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Entre as medidas propostas por Moro, está a alteração das atuais regras de prescrição dos crimes, a possibilidade de deixar mais claro na legislação o cumprimento da prisão após condenação em segunda instância.  A previsão da execução das sentenças dos tribunais do júri também foi apontada pelo futuro ministro. "Já existe um precedente da 1ª turma do Supremo Tribunal Federal admitindo que o veredicto do tribunal do júri sobre crime de homicídio possa ser executados independentemente de recursos. Num quadro grave de epidemia de homicídios, me parece importante essa medida", afirmou.
Moro também sugeriu a proibição de progressão de regime prisional quando houver prova de ligação do preso com organizações criminosas. "Se existem provas de que o preso mantem vínculos com organizações criminosas, significa que ele não está pronto pra ressocialização", argumentou. Ele também falou em uma regulamentação mais clara para a utilização de policiais disfarçados em operações para desbaratar o crime organizado. "A nossa legislação, embora permita esse tipo de comportamento, não é totalmente clara", justificou.
Desafio
Ao explicar os motivos de ter aceitado o convite para ser ministro da Justiça, Sergio Moro disse que não se trata de um projeto pessoal, mas a perspectiva de implementar uma agenda ampla de combate à corrupção e o crime organizado. Ele disse que, apesar de a Operação Lava Jato ter quebrado uma "tradição de impunidade" no Brasil, ele temia uma regressão nos mecanismos de combate à corrupção.
"Foram diversos momentos em que surgiram informações sobre projetos de lei em trâmite no Congresso, que poderiam afetar o trabalho que se realizava e o projeto de abuso de autoridade, que sem cuidados poderia ser uma criminalização da atividade hermenêutica", comentou.

Convite
Moro revelou que foi sondado no dia 23 de outubro pelo economista Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, se teria interesse em participar do governo. Na quinta-feira passada (1º), já eleito, Bolsonaro e Moro se reuniram no Rio de Janeiro para sacramentar a indicação para o ministério.
"Isso [o convite] não tem nada a ver com o processo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi condenado e preso porque cometeu um crime e não por causa das eleições", rebateu, em relação às críticas de que ele teria agido politicamente na condenação do ex-presidente, que abriu caminho para a sua prisão e consequente inabilitação para concorrer às eleições de outubro.
"Interpretaram minha ida como uma espécie de recompensa, [mas] minha decisão foi tomada em 2017, sem qualquer perspectiva de que o deputado federal [Bolsonaro] fosse eleito presidente da República. [...] Não posso pautar minha vida numa fantasia, num álibi falso de perseguição política", afirmou.
O juiz federal Sérgio Moro afirmou na tarde desta terça-feira (6), em coletiva de imprensa em Curitiba (PR), que o convite para ser ministro da Justiça e Segurança Pública não tem "nada a ver" com o processo que envolve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde 7 de abril em Curitiba (PR).

De acordo com Moro, o processo de Lula foi julgado por ele em 2017, quando "não havia qualquer expectativa de que o então deputado Bolsonaro fosse eleito presidente".

Moro disse ainda que, apesar das críticas de petistas, não pode pautar a vida dele "com base em fantasia, em álibi falso de perseguição política".

"O ex-presidente Lula foi condenado e preso por ter cometido um crime. O que houve foi uma pessoa que lamentavelmente cometeu um crime e respondeu na Justiça", argumentou.

Moro também disse que políticos dos mais variados espectros foram condenados no âmbito da Lava Jato. "Tivemos a condenação do ex-presidente da Câmara (Eduardo Cunha) e do ex-governador do Rio (Sérgio Cabral)", citou.

Convite

O juiz afirmou ainda que foi procurado por Paulo Guedes, futuro ministro da Economia, em 23 de outubro para vir a ocupar um cargo no governo de Jair Bolsonaro (PSL), mas que não acertou nada na data. "Argumentei que poderia tratar de eventual convite após as eleições", afirmou.

Na coletiva, Moro também explicou a confusão que, em 2017, não reconheceu Bolsonaro em aeroporto e que o fato foi explorado politicamente por adversários do agora presidente eleito. "Liguei depois para pedir desculpas", disse.

Moro disse, então, que no encontro de 1º de novembro conversou mais longamente com o presidente eleito. "(Bolsonaro) Me pareceu uma pessoa bastante ponderada. Eu disse a ele que para integrar governo tem de ter certa convergência. Ainda que não haja concordância absoluta de ideias entre nós, há a possibilidade de um meio-termo", afirmou.