Laços afetivos e a Síndrome de Estocolmo
Simone
Demolinari
Em 1973, bandidos
invadiram um banco em Estocolmo, na Suécia, e o que era para ser um assalto
rápido, acabou durando seis dias. Os criminosos capturaram quatro funcionários
e os mantiveram reféns. O curioso é que, no segundo dia, os sequestrados
sentiam medo dos policiais e protegidos pelos criminosos. Acreditavam que
estavam vivos, graças aos bandidos.
Um dos especialistas
que trabalhou nessa operação cunhou o termo “Síndrome de Estocolmo” para
descrever um estado psicológico onde uma pessoa, quando submetida a maus
tratos, passa a ter simpatia pelo seu agressor.
Estabelecer laços de
afeto com quem nos faz mal, parece algo improvável. Porém, pode ser mais
frequente do que imaginamos–basta ver o número de pessoas que sofrem agressões
morais, psicológicas ou até mesmo físicas e ainda assim não conseguem abandonar
o agressor. E mais, costumam defende-lo dizendo entender seus motivos, ou
fazendo mea culpa.
De uma maneira
geral, isso ocorre devido à uma dependência emocional que vai sendo criada de
forma lenta e gradual. As agressões vão aumentando, mas de maneira sutil.
Justificam-se as ações através do sentimento: “Fiz por amor”. Dessa forma, a
pessoa que sofre os maus tratos, relativiza o fato e começa a perceber a
agressão sob a perspectiva do “cuidado”. E assim, segue se sentindo protegida
pelo próprio agressor.
Com o passar do
tempo, a agressão vira rotina e a vítima perde a sensibilidade para o absurdo.
Quem está de fora fica assustado, mas quem se encontra dentro da situação
encara como “normal”. A relação vira uma espécie de sadomasoquismo emocional,
onde a vítima masoquista racionalmente repudia a situação, mas emocionalmente
não consegue abandona-la. Já o algoz sádico, sente prazer em torturar. Mesmo
afirmando um desejo de mudar, volta sempre a ter as mesmas atitudes. Um precisa
do outro para alimentar sua doença e até alternar os papeis.
Uma pessoa, quando
vive em condições hostis, seja ela de crítica, maus tratos, ou tortura
psicológica, tende a interpretar pequenos atos de gentileza por parte do
agressor, como demonstração de afeto. Isso explica o fato de migalhas de
carinho apagar uma grande ação de violência. Nesse contexto os sentimentos são
confusos e antagônicos. Uma ambivalência afetiva onde é possível sentir, ao
mesmo tempo, amor e ódio; rancor e carinho; raiva e gratidão; repulsa e desejo.
Apaixonar-se pelo
agressor não é algo comum apenas em relações afetivas. Pode ocorre também em
família, entre amigos, chefes e colegas de trabalho.
As pessoas mais pré
dispostas a desenvolver afeição pelo abusador, geralmente tiveram na infância
algum familiar opressor. Com isso, acabaram desenvolvendo um mecanismo de
defesa inconsciente, onde, acreditam que através do afeto, a situação de abuso
pode diminuir ou mesmo acabar. Se enganam, geralmente nunca tem fim.
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