terça-feira, 6 de setembro de 2016

A VIDA É MAIS DIFÍCIL DO QUE A MORTE



A vida e seu ofício

Manoel Hygino 



No seu discurso de adeus ao cargo que ocupava, a ex-presidente repetiu palavras de Maiakóvski, uma das vozes mais fortes e notáveis da poesia no século XX. Em 14 de abril de 1930, ele se matou com um tiro no peito, aos 36 anos. Afirmou: “O incidente está encerrado. O barco do amor quebrou-se contra a vida cotidiana. Estou quite com a vida. É inútil passar em revista as dores, os infortúnios e os erros recíprocos. Sejam felizes”.
Não consegui encontrar nos jornais a referência integral de Dilma ao texto. Não mereceu maior importância a declaração do poeta, que repetira o gesto de Serguei Iessienin, poeta amigo, após o Natal de 1925. A morte parece mais dolorosa quando os poetas morrem.
Quando Serguei se despediu da vida, deixou dois quartetos ao amigo e companheiro de ofício e luta, traduzidas as palavras por Augusto de Campos: “Até logo , até logo, companheiro/ Guardo-te no meu peito e te asseguro:/ O nosso afastamento passageiro/ É sinal de um encontro no futuro” – “Adeus, amigo, sem mãos nem palavras,/ Não faças um sobrolho pensativo./ Se morrer,nesta vida, não é novo,/ tampouco há novidade em estar vivo”.
O excelente repórter Geneton Moraes Netto, recentemente falecido aos 60 anos, visitou Moscou e os pontos nevrálgicos da capital que abrigou MaiaKóvski e lhe guarda o corpo e “seus últimos pertences. O maior poeta russo do século XX habitava modesto quarto num prédio de quatro andares no início da rua Myatninskaya, em pleno centro da cidade.
O museu, disse Geneton, é singular, um dos trinta que se abriram quando o comunismo agonizava. Nele, há muito do importante na vida do poeta, desde boletins escolares e manuscritos dispersos de maneira incrível, cadeiras suspensas no ar, uma estante de vidros quebrados parecendo enterrada no chão.
Muito surrealismo, muita evocação. Há uma porta de cadeia, maneira encontrada pelos organizadores do museu para contar que o poeta estivera detrás das grades nove meses, acusado de ajudar presos políticos. Quem tiver cuidado localizará um dossiê policial da primeira década do século.
Ao lado do quarto, o chão pintado de amarelo, com portas vermelhas e entreabertas. A guia era, ou ainda é, Maria Leonietvna, de 74 anos, professora aposentada.
Ela observa que a célebre e temida KGB era contrária, “por motivos de segurança”, à instalação do museu, ninguém poderia ingressar naquele lugar perigoso, no país conflagrado as primeiras décadas do século.
A guia relata: “Maiakóvski era ateu, mas se voltou para a Idea de Deus. Rejeitava o Estado, mas serviu ao Estado”. Stálin se sentiu dele enciumado, por escrever um poema dedicado a Lênin. Ao anistiá-lo, pensou que Maiakóvski faria também um em seu louvor, o que não aconteceu.
O final do amigo poeta foi ainda mais trágico: Iessienin escreveu versos com o próprio sangue, num quarto do Hotel Inglaterra, em Leningrado. Após cortar os pulsos, enforcou-se e desfaleceu.
Ao poeta que antes partira, Maiahóvski comentara: “É preciso arrancar alegria do futuro. Nesta vida, morrer não é difícil. O difícil é a vida e seu ofício!”

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

MANIFESTANTES BADERNEIROS



PMs arremessam bombas e gás lacrimogêneo ao final de protesto em São Paulo

Agência Brasil
Hoje em Dia - Belo Horizonte





Tropa de Choque tentam dispersar manifestantes no entorno do Largo da Batata

Pouco depois do ato que pedia a saída do presidente Michel Temer e eleições diretas ser encerrado pelos organizadores, a Polícia Militar começou a disparar bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e muita água nos manifestantes. Sem dizer qual foi a razão para que isso ocorresse, a Polícia Militar dispersou os manifestantes que já estavam se preparando para ir embora do Largo da Batata, na zona oeste da capital.
As bombas assustaram muitas pessoas. Entre elas, a estudante Ana Luiza Parra Spinola, 18 anos, que passou correndo pela reportagem da Agência Brasil ao lado de seu avô Geraldo Spinola. “Meu avô tem 90 anos. É a primeira vez que ele vem a um protesto. A gente tinha acabado de chegar. Moramos aqui perto e viemos porque estava pacífico. Eles jogaram bomba e meu avô tem dificuldade de locomoção”, reclamou a estudante. “Somos contra o golpe. Só estamos pedindo um governo legítimo.“Eles [policiais] querem causar a imagem de que nós, manifestantes, somos os ruins. Mas eles que começam”, ressaltou.
Outro que teve que sair correndo, mesmo sem ter participado do protesto foi o professor de tênis Valdemar Paixão, 56 anos. Valdemar estava sentado em um bar na região, quando as bombas começaram e ele teve que sair correndo. “Eu estava em um bar. Começaram a soltar bomba e gás lacrimogêneo, começou a arder os olhos. Acho que devia ter paz, senão o Brasil nunca vai andar para a frente”,afirmou.
O ato teve início na Avenida Paulista por volta das 16h de hoje. As 17h30, os organizadores deram início a uma caminhada de cerca de duas horas, que passou pela Avenida Rebouças e terminou no Largo da Batata. Durante a caminhada, grupos black blocs começaram a se organizar, mas foram contidos por seguranças e membros de movimentos sociais e da torcida Gaviões da Fiel, que os alertaram que seria importante manter o ato pacífico.
Ao chegarem no Largo, os organizadores encerraram a manifestação, pedindo para que as pessoas não “entrassem em confronto com os policiais” na dispersão. Pouco tempo depois, a confusão começou. Policiais militares, que acompanharam todo o ato à distância, decidiram sair de um lado do Largo da Batata para mais perto da praça, sendo muito vaiados pelos manifestantes. Pouco tempo depois das vaias, começaram as primeiras bombas, o que gerou muito corre-corre no local.
Grupos black blocs começaram novamente a se organizar para seguir em direção aos policiais, mas foram contidos por membros de movimentos sociais, que insistam em dizer a eles para deixar as provocações apenas em responsabilidade dos policiais. Os organizadores do ato chegaram a ir ao microfone para pedir que os manifestantes não entrassem em confronto com os policiais, mas, enquanto falavam, diversas bombas foram disparadas na direção deles.
Muitos correram para a estação de metrô Pinheiros, onde desceram as escadas rolantes gritando "Fora Temer".
Pouco antes das bombas, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, fez um balanço positivo da manifestação. “O ato foi uma grande demonstração de força de setores populares contra o governo ilegítimo do Michel Temer. Foi um ato que também expressou a reação da provocação infame que ele fez sobre 40 manifestantes, desqualificando a participação popular”, disse.
Segundo os organizadores, o ato atraiu 100 mil pessoas. A Polícia Militar não deu estimativa do número de participantes. Diversos políticos participaram da manifestação, como Eduardo Suplicy, Luiza Erundina (PSOL) e Lindbergh Farias (PT-RJ).
Uma nova manifestação foi marcada para a próxima quinta-feira (8), as 17h, no Largo da Batata, e a intenção dos manifestantes é seguir em direção à casa de Michel Temer, no Alto de Pinheiros, em São Paulo.
Detidos no Deic
Antes do protesto começar, cerca de 30 pessoas que iriam participar do protesto foram detidas pela Polícia Militar no Centro Cultural São Paulo, na Rua Vergueiro. Elas foram levadas para o Departamento de Investigações Criminais de São Paulo (Deic),que confirmou à reportagem que eles estavam lá, sem confirmar o número de pessoas e porque haviam sido detidos. A reportagem conversou com pessoas que conhecem alguns dos detidos e que estavam no protesto de hoje e eles disseram que a Polícia Civil tinha proibido a presença de advogados por lá e que não havia informações sobre o porque eles haviam sido detidos.

ASSALTO AOS FUNDOS DE PENSÃO



PF confisca avião, 139 carros e 90 imóveis durante Operação Greenfield

Estadão Conteúdo
Hoje em Dia - Belo Horizonte






José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, é conduzido por agentes para sede da PF

A Polícia Federal deflagrou nesta segunda-feira (5), a Operação Greenfield que investiga a "gestão temerária e fraudulenta" de quatro dos maiores fundos de pensão do país: Funcef, Petros, Previ e Postalis. Segundo a investigação, os investigados teriam desviado R$ 8 bilhões e, por isso, a Justiça determinou o equestro e o bloqueio de 90 imóveis, 139 automóveis, uma aeronave, além de valores em contas bancárias, cotas e ações de empresas e títulos mobiliários.
A ordem judicial, da 10ª Vara Federal, de Brasília, também determinou o sequestro de bens e o bloqueio de ativos e de recursos em contas bancárias de 103 investigados. Entre os conduzidos está José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS. Ele foi levado para
por agentes para sede da Polícia Federal, na capital paulista, onde será ouvido.
A ação é conjunta da PF com o Ministério Público Federal, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar - Previc e a Comissão de Valores Mobiliários - CVM.
Acusação
O ex-presidente do Postalis Alexej Predtechensky foi conduzido de forma coercitiva - quando o investigado é levado a depor e liberado. Predtechensky foi denunciado, em julho deste ano, pela Procuradoria da República, em São Paulo. O ex-presidente do Postalis e mais sete investigados são acusados de fraude R$ 465 milhões no fundo de pensão dos Correios.
Estão sendo cumpridos sete mandados de prisão temporária, 106 de busca e apreensão e 34 de condução coercitiva nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Amazonas, além do Distrito Federal.
A decisão judicial ainda determinou o sequestro de bens e o bloqueio de ativos e de recursos em contas bancárias de 103 pessoas físicas e jurídicas que são alvos da operação no valor aproximado de R$ 8 bilhões.
A PF aponta que a ação é ancorada em dez casos revelados a partir do exame das causas dos déficits bilionários apresentados pelos fundos de pensão. Entre os casos, oito são relacionados a investimentos realizados de forma temerária ou fraudulenta pelos fundos de pensão, por meio dos FIPs (Fundos de Investimentos em Participações).
"Durante as investigações, alguns núcleos criminosos restaram configurados: o núcleo empresarial, o núcleo dirigente de fundos de pensão, o núcleo de empresas avaliadoras de ativos e o núcleo de gestores e administradores dos FIPs", informa a Federal em nota.
Os investigados responderão, na medida de suas participações, por gestão temerária ou fraudulenta, além de outros crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, previstos na lei nº 7.492/86.
Participam da operação cerca de 560 policiais federais, além de 12 inspetores da CVM, quatro procuradores federais da CVM, oito auditores da Previc e sete procuradores da República.
O nome da operação faz alusão a investimentos que envolvem projetos incipientes (iniciantes, em construção), ainda no papel, como se diz no jargão dos negócios. O contrário de investimentos Greenfield é o Brownfield, no qual os recursos são aportados em um empreendimento/empresa já em operação.
A Operação Greenfield é um dos desdobramentos da investigação iniciada há um ano e meio e tem como base dez casos descobertos a partir da análise das causas dos déficits bilionários apresentados pelos fundos de pensão.


IMPEACHMENT VAI SER PARA MELHOR?



Do impeachment e golpe visto pelo mundo

Stefan Salej 



A política brasileira é jabuticaba. Só tem aqui. A nossa Constituição de 1988 fala de tudo e regula tudo. E a quantidade de processos que temos na justiça levam à mesma quantidade de sentenças e interpretações. E também não poderia ser diferente no impeachment da sra. presidenta da República Dilma Vana Rousseff, mineira de Belo Horizonte. O que uns consideram um processo constitucionalmente correto, outros, inclusive liderados pela própria presidente “saliente”, consideram golpe.
E assim como nós, divididos e confusos no nosso próprio país, também o mundo, que prestou muita atenção aos acontecimentos no Brasil, nos vê. Em termos gerais, ninguém mais esperava a volta de Dilma ao Planalto, mas a confirmação final é ponto final. Ou não? Muitos comentários na imprensa mundial, que acompanhava com muita atenção o processo, destacam as razões de impeachment como injustas e outros destacam a firmeza dos legisladores brasileiros em destituir a presidenta, por causa do desrespeito à legislação fiscal, como fato positivo. E todos mencionam a difícil herança econômica e social que o governo dela deixou para o país.
Mas as análises dos jornais não são sempre acompanhadas pelos governos estrangeiros. Brasília tem um dos maiores contingentes de representações diplomáticas no mundo, o que demonstra a importância do país. As reações dos quatro latino-americanos: Bolívia, Venezuela, Equador, Cuba e mais um centro-americano, Nicarágua, já eram de esperar. A Bolívia depende de fornecimento de gás para o Brasil e com a mão na cintura, ainda no governo Lula, nacionalizou as instalações da Petrobras lá. O Equador tem importância pequena. E a Venezuela está numa situação que é incomoda para o Brasil já há muito tempo. E, como Cuba nos deve muito, mas muito dinheiro, com essa briga, a renegociação será mais difícil. No caso venezuelano, por outro lado, o Brasil terá mãos mais livres para agir para se encontrar uma solução na confusão que armaram em Caracas.
Os países grandes estão todos esperando parcerias melhores com o Brasil. Nos próximos dois anos e quatro meses, espera-se que o governo Temer tenha liderança política para colocar a economia nos eixos. Ponto. Se mostrar que tem liderança para reformas e controle fiscal, terá apoio do exterior. Do mercado e dos governos. Mas a confusão nas votações do Senado, com a cassação do mandato da Dilma e subsequente permissão para que ela continue na vida pública, não deram exatamente um sinal dessa liderança. Agora isso deve ter sido explicado também na reunião da G-20 na China, para onde o presidente Temer seguiu após a posse. Mas, os problemas, que não são poucos, continuam aqui.

O SUPREMO DELEGADO FEDERAL DO STF

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