Do impeachment e golpe
visto pelo mundo
Stefan Salej
A política brasileira é jabuticaba. Só tem aqui. A nossa Constituição de
1988 fala de tudo e regula tudo. E a quantidade de processos que temos na
justiça levam à mesma quantidade de sentenças e interpretações. E também não
poderia ser diferente no impeachment da sra. presidenta da República Dilma Vana
Rousseff, mineira de Belo Horizonte. O que uns consideram um processo
constitucionalmente correto, outros, inclusive liderados pela própria
presidente “saliente”, consideram golpe.
E assim como nós, divididos e confusos no nosso próprio país, também o
mundo, que prestou muita atenção aos acontecimentos no Brasil, nos vê. Em
termos gerais, ninguém mais esperava a volta de Dilma ao Planalto, mas a
confirmação final é ponto final. Ou não? Muitos comentários na imprensa
mundial, que acompanhava com muita atenção o processo, destacam as razões de
impeachment como injustas e outros destacam a firmeza dos legisladores
brasileiros em destituir a presidenta, por causa do desrespeito à legislação
fiscal, como fato positivo. E todos mencionam a difícil herança econômica e
social que o governo dela deixou para o país.
Mas as análises dos jornais não são sempre acompanhadas pelos governos
estrangeiros. Brasília tem um dos maiores contingentes de representações
diplomáticas no mundo, o que demonstra a importância do país. As reações dos
quatro latino-americanos: Bolívia, Venezuela, Equador, Cuba e mais um
centro-americano, Nicarágua, já eram de esperar. A Bolívia depende de
fornecimento de gás para o Brasil e com a mão na cintura, ainda no governo
Lula, nacionalizou as instalações da Petrobras lá. O Equador tem importância
pequena. E a Venezuela está numa situação que é incomoda para o Brasil já há
muito tempo. E, como Cuba nos deve muito, mas muito dinheiro, com essa briga, a
renegociação será mais difícil. No caso venezuelano, por outro lado, o Brasil
terá mãos mais livres para agir para se encontrar uma solução na confusão que
armaram em Caracas.
Os países grandes estão todos esperando parcerias melhores com o Brasil.
Nos próximos dois anos e quatro meses, espera-se que o governo Temer tenha
liderança política para colocar a economia nos eixos. Ponto. Se mostrar que tem
liderança para reformas e controle fiscal, terá apoio do exterior. Do mercado e
dos governos. Mas a confusão nas votações do Senado, com a cassação do mandato
da Dilma e subsequente permissão para que ela continue na vida pública, não
deram exatamente um sinal dessa liderança. Agora isso deve ter sido explicado
também na reunião da G-20 na China, para onde o presidente Temer seguiu após a
posse. Mas, os problemas, que não são poucos, continuam aqui.
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