Jornal Hoje em Dia
Todos os olhares estavam voltados para
o Palácio da Alvorada. Sem vislumbrar as chaminés, os brasileiros aguardavam o
sinal de fumaça que viria da reunião entre Dilma e Lula e que apontaria para a
indicação, ou não, do ex-presidente para o Ministério da Casa Civil. No fim da
manhã tudo ficara acertado. No início da tarde um comunicado oficial informava
ao mundo que “habemus ministro”. Não um ministro qualquer, mas sim um homem
dotado de superpoderes e com a determinação para enfrentar a artilharia
opositora carregada de “kriptonita”. Lógico é que Dilma apressou-se em deixar
claro que no Brasil quem manda é ela, mas entre achar que manda e mandar, a
distância é quase igual à da Terra ao planeta “Kripton”. Perplexos, muitos
brasileiros, até entre os seguidores de Lula, viram-no aceitar o cargo como uma
manobra que visa garantir ao velho líder sindical o foro privilegiado. De nada
adiantará o discurso de que a escolha vem da competência de Lula para tecer um
acordo de equilíbrio de poder que garanta a governabilidade de sua pupila
presidente. Isso poderá acontecer, mas a certeza de que nomeado ministro o
ex-presidente se esconde da mira direta da Justiça Federal ficará gravada na
história política recente do Brasil.
Outra dúvida que paira no ar é sobre
que caminhos escolherá o PMDB. Com Lula na articulação política do governo o
partido retrocederá na indicação feita a seus filiados para que não aceitem
cargos no governo Dilma? Se sim, como ficará a situação, por exemplo, do
deputado federal do PMDB-MG, Mauro Lopes, indicado e empossado ministro da
Secretaria de Aviação Civil? Lopes garante que sua posse aconteceu antes da
decisão da executiva nacional do partido. Setores do PMDB querem a punição dele
e isso pode ser o prenúncio de que, para o mineiro, ao menos num curto espaço
de tempo, o céu não será de brigadeiro.
Ao fim da tarde uma boa notícia
alegrou o tenso ambiente palaciano de Dilma Rousseff. A maioria do plenário do
STF decidiu pela manutenção do rito do processo de impeachment da presidente, reiterando
decisão anterior de anular a forma adotada pelo “megainvestigado” presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Dessa forma, se acontecer, o afastamento
de Dilma terá que ser decidido pelos senadores, que estão desobrigados de
acatá-lo mesmo que tenha sido aprovado pela Câmara. E no Senado temos na
presidência Renan Calheiros, também investigado e amigo do Planalto. Resta
saber se a fumaça indicará: “habemus políticos”.


