José Antônio Bicalho
Lula é e sempre foi uma incógnita no
campo da economia. Crítico contumaz da ortodoxia de seu antecessor, quando no
poder repetiu FHC com a dupla Antônio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles
(Banco Central).
Nunca permitiu que se praticasse uma
política econômica genuinamente de esquerda (vide a aberração do câmbio ao
longo de toda a era Lula), mas em seu segundo mandato recorreu ao heterodoxo
Guido Mantega (Fazenda) para assegurar algum crescimento em meio a explosão da
crise financeira internacional.
Nova reviravolta e Lula exerceu
influência decisiva para que Dilma aceitasse a troca de Mantega pelo
ultraortodoxo Joaquim Levy, no primeiro ano do segundo mandato da presidente.
Sobreveio o inevitável desastre do ajuste fiscal e Lula fez novas gestões por
mudança. Dilma trocou Levy pelo atual ministro Joaquim Barbosa, mais
identificado como a ala desenvolvimentista do governo petista. Mas, então, a
casa já havia pegado fogo e para Barbosa entregaram um balde.
Lula retorna, agora, como ministro da
Casa Civil com a missão de juntar os cacos políticos e impedir o impeachment.
Nisso ele é craque. Mas Lula também sabe que a sobrevivência do governo
dependerá vitalmente da recuperação da economia. E nisso ele não é um craque.
O tal “plano de reanimação nacional”
só terá sucesso com uma mudança radical na política econômica. Mas, na
economia, Lula nunca se mostrou um radical.
Dilma reuniu a imprensa nessa
quarta-feira (16) para dizer que nada muda na política econômica com a chegada
de Lula. Que estão mantidos Barbosa na Fazenda e Tombini no Banco Central. E
que o compromisso com as metas fiscais e de inflação continuam sendo a espinha
dorsal da política econômica. Disse, ainda, que não mexerá nas reservas
internacionais a não ser para defender o país das flutuações cambiais e ataques
especulativos contra a moeda nacional.
É sempre assim e não necessariamente
verdade. Quando um governo se mexe para fazer mudanças, a primeira iniciativa é
dizer ao mercado que nada muda, pois agentes econômicos com medo do incerto
podem jogar por terra todo o planejado.
Nessa quarta-feira (16), o mercado
especulava a troca de Tombini por Meirelles na direção do Banco Central. Se for
essa a mudança que passa pela cabeça de Lula, preparem-se, porque o pior ainda
está por vir. Mas se estiver pensando em dar um cavalo de pau na economia, aí
sim, alguma esperança será gerada.
Usiminas
Nessa quarta-feira (16), a Nippon
Steel entregou aos bancos credores da Usiminas (Banco do Brasil, BNDES,
Itaú/Unibanco, Bradesco, Santander e Japan Bank for International Cooperation –
JBIC) uma ‘carta de conforto’ na qual reafirma sua intenção de capitalizar a
siderúrgica de Ipatinga em R$ 1 bilhão. A Nippon divide o grupo de controle da
Usiminas com o grupo ítalo-argentino Techint/Ternium, que defende uma proposta
alternativa de capitalização de apenas R$ 563 milhões.
O objetivo da carta da Nippon é dar
segurança aos bancos para negociar uma moratória (stand still) do pagamento de
juros e amortizações de empréstimos entre 90 a 120 dias. E, neste prazo,
renegociar o principal da dívida. A Usiminas precisa de carência e alongamento
de seus financiamentos com os bancos.
A siderúrgica deve R$ 7,886 bilhões.
Destes, R$ 1,920 bilhão deverá ser pago neste ano. Mas a empresa, que
apresentou prejuízo de R$ 3,685 bilhões no ano passado e uma geração de caixa
negativa nos dois últimos trimestres do ano, não possui mais caixa para honrar
seus compromissos.

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