quinta-feira, 17 de março de 2016

FAZER REFORMAS PARA BENEFICIAR A POPULAÇÃO E NÃO ELES - OS POLÍTICOS



  

Antônio Álvares da Silva *




O povo foi às ruas, na maior demonstração pública da história do país, para pedir a cabeça da presidente Dilma Rousseff. Os desmandos do PT e a voracidade por cargos e dinheiro de muitos de seus líderes foram transferidos para a vitrine visível que é a presidente, eleita pelo partido.
O povo é a última e verdadeira referência da democracia, pois tudo existe em função dele. Mas é preciso certas ponderações. O país cambaleia nos últimos tempos desde o governo Collor e os erros atingiram o ápice agora no governo Dilma, apontada como responsável única por todas as mazelas. Mas convém analisar: seu governo já teve popularidade reconhecida por quase 70% e o povo que agora pede a deposição dela é o mesmo que a elegeu, em pleito limpo e honesto.
É lícito e mais do que justo que o povo reivindique melhoras, pois os desarranjos do país caem primeiramente sobre os ombros do pobre. Mas é preciso lembrar que estamos num estado democrático de direito e as instituições livremente estabelecidas não podem ser derrubadas a cada momento de incerteza e instabilidade. Por isto, temos que aproveitar o ímpeto popular e transformá-lo em combustível de mudanças e não em meio de abater presidentes.
A História não nos dá olhos para ver o futuro, mas nos mostra as con-sequências atuais de nossos atos. Se Dilma for apeada do poder, virá Temer. Que poderá fazer se a situação é a mesma? Se caírem Dilma e Temer, assumirão o presidente da Câmara dos Deputados, do Senado e do STF, pela ordem. Terão a vara miraculosa de modificar o país? Imagine-se a nação governada por Eduardo Cunha ou Renan Calheiros.
Porém, o mandato-tampão duraria até novas eleições que, na forma da Constituição, deverão ser realizadas em 90 dias –art. 81. O país vai paralisar novamente e a pergunta surge de novo: que pode fazer quem for eleito? O povo terá que voltar às ruas e, enquanto isto, a pequena solidez de nossa democracia obtida a custo vai desmanchar-se e a casa na certa ruirá.
Melhor mesmo é que as lideranças canalizem as energias populares para as reformas de que precisamos. Que a multidão deixe a avenida Paulista e os jardins do Palácio da Liberdade e se dirija para as portas do Congresso. E exija as mudanças para tornar o país viável: a previdenciária, a fiscal, a trabalhista, a partidária, a Judiciária e por aí vai. Uma coisa é certa: não é só o trabalhador que deve pagar. A tributação sobre a riqueza e bancos, a moralização dos costumes, a punição dos desonestos por um Judiciário que decida a exemplo do que vem fazendo o guerreiro Sérgio Moro constituem uma urgência inadiável.
Já temos a necessária maturidade para saber que, sem a lei adequada e sem moralidade pública, não se faz nada. A rua é, sim, o meio próprio de pedir reformas, quando os órgãos encarregados de fazê-las não agem. Mas é uma força que não vale por si mesma. É preciso conduzi-la para fins justos e necessários e transformá-la em alavanca das mudanças.
Não podemos, a cada momento de crise, rasgar a Constituição, que foi feita para durar. Sem ela, corremos o risco de instituir o reino da arbitrariedade e do terror. Sem a lei não há ordem nem vida. Lex salus opuli – a lei é a salvação do povo, como diziam os romanos.
O governo tem falhas. E muitas. Mas não podemos transformar a presidente num bode expiatório por erros dos quais todos somos culpados. Se a presidente for deposta, vítima de golpe jurídico e político, vamos aguardar o próximo que também morrerá nas ruas. Até que busquemos na razão, na ciência e no trabalho a solução dos males que nós mesmos criamos.
* Professor titular da Faculdade de Direito da UFMG

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