Márcio Doti
O Brasil está acordando de um pesadelo
e descobrindo que a realidade em volta é tão ruím quanto. Os números cada vez
piores da economia são consequência de algo muito mais grave do que a
incompetência para gerir e operar os instrumentos que fazem girar a roda do
dinheiro e garantir a prosperidade de uma sociedade. Como há vários meses temos
dito, o Brasil vive um imenso processo de desconfiança sobre seus governantes e
a estrutura que hoje comanda a vida nacional. Fala-se abertamente de altas
cortes petistas, resultado de escolhas de ministros feitas pelos governos Lula
e Dilma de tal forma que a quase totalidade desses colegiados foi decidida pelos
dois presidentes.
O que depende da decisão dessas
cortes, e isso acontece com todas as grandes decisões, está aguardando em fogo
lento ou tem recebido decisões que favorecem o partido hoje posto na berlinda
como causador dos grandes males, a partir do escândalo da Petrobras e de muitas
outras coisas a serem apuradas com rigor, com a seriedade dos relatórios feitos
pela Polícia Federal, em parceria com o Ministério Público, e as decisões de
uma vara de Justiça instalada em Curitiba que recebe ordens do juiz Sergio
Moro, quando deveria ser igual no resto do país. A imensa crise brasileira,
abrangendo a política exercida da pior forma e por componentes ruins, se junta
à incomparável e intolerável crise econômica estando ambas contaminadas por um
desarranjo moral que domina todos os ambientes.
É preciso reinstalar o Brasil em bases
sólidas, tocar em frente uma reforma que ponha fora tudo que apodreceu junto
com o PT. Há prefeitos que vão agora deixar o mandato depois de tê-los exercido
sem o menor direito e condição de fazê-lo, apenas porque seus processos de
cassação decididos, em primeira instância, e confirmados, em segunda, acabaram
barrados nas altas cortes. Caso, por exemplo, do prefeito Cássio Magnani
Júnior, de Nova Lima, que poderá até se reeleger, caso persista essa situação
imoral. O governador de Minas, Fernando Pimentel, tem sobre seus ombros e de
sua esposa, Carolina Oliveira, e do amigo Benedito de Oliveira Júnior, pesadas
acusações feitas por apurações sérias realizadas pela Polícia Federal e mantidas
sem sequência após os feitos da Operação Zelotes.
Pimentel é acusado de receber dinheiro
da montadora CAOA para se beneficiar de isenções fiscais ao tempo em que era o
ministro do Desenvolvimento do governo Dilma Rousseff. Também é acusado de ter facilitado
financiamentos do BNDES, que por sua vez, emprestou dinheiro público a título
de fomento para empreiteiras brasileiras como Odebrecht e OAS realizarem obras
no exterior, não se sabendo exatamente que tipo de fomento é esse. Ainda mais
que tais contratos foram obtidos, segundo se informa, por influência do então
presidente Lula, que se transformou em lobista de empreiteiras brasileiras,
naturalmente que em troca de algo mais do que favores, como parece ser a
reforma fenomenal de um sítio que está em nome de amigos do ex-presidente, mas
vem sendo utilizado pelo líder petista desde que deixou a Presidência da
República.
Triste num lugar assim é que de
reação, de seriedade à frente de tentativas de correção de tanto descalabro
exista apenas um juiz solitário, até pouco tempo hostilizado pelos políticos do
PT e pela própria Justiça, tendo perdido até força para agir ao invés de
receber apoio para fazê-lo. De igual modo, a Polícia Federal, que tem resistido
a interferências, tem lutado contra falta de dinheiro porque perdeu verba em
seu orçamento, cortada certamente como retaliação e forma de barrar os seus
movimentos. E, de igual modo, o Ministério Público Federal. Parece que o Brasil
sério, decente, comprometido com o interesse público mudou para Curitiba,
deixando de lado uma capital federal que Juscelino construiu sobre os pilares
da democracia, a duras penas, e que vive hoje “imundecida” por uma crise moral
pela qual estamos pagando agora um preço insuportável.



