domingo, 14 de fevereiro de 2016

GUERRA NA SÍRIA




Stefan Salej



É absolutamente impressionante que uma tragédia como a que está acontecendo na Síria passe à margem dos nossos sentimentos, preocupações e do nosso futuro. A Síria, que faz parte importante de evolução da humanidade, que por circunstâncias do passado deu a oportunidade a inúmeros sírios de se instalarem no Brasil e ajudarem na construção do país, é hoje, após cinco anos de guerra, um país destruído.
Os números da destruição são absolutamente estarrecedores: 400.000 mortos, 2 milhões de feridos, 4,5 milhões de refugiados, 80 % das crianças têm alguém morto na família e 60 % delas assistiram à violência da guerra.
Em uma semana, a cidade de Alepo sofreu 510 ataques aéreos. Russos. Cidades destruídas, pessoas destruídas, país destruído.
Rússia e Estados Unidos, junto com 17 países e grupos rebeldes que lutam contra o presidente Assad, chegaram a um consenso esta semana, que, segundo um diplomata anônimo, valem só papel e tinta, para um cessar fogo e, em especial, acesso de ajuda humanitária.
O acordo não vale para os grupos terroristas da Al-Qaeda e do Estado Islâmico. Mas, para entender melhor a guerra, porque isso já não é mais um conflito armado, devemos olhar quem é quem contra quem.
Os Estados Unidos, Reino Unido e França apoiam grupos rebeldes contra o atual regime. A Rússia, que tem uma base militar no país, junto com a Turquia, Arábia Saudita, Irã e Qatar (aquele da Copa daqui a 7 anos), apoiam o atual regime. E mais, o Nusra e o Estado Islâmico não apoiam ninguém, mas querem conquistar seu espaço territorial e político.
Em resumo, no fundo, os aliados dos Estados Unidos como a Turquia, Qatar e Arábia Saudita, lutam junto com Rússia contra os Estados Unidos que querem derrubar o atual regime. Estamos assistindo a uma guerra entre grandes potências, em que parece que já esqueceram por que estão lutando.
O acordo desta semana é importante porque pode eventualmente levar a uma solução diplomática para colocar um fim à tragédia do século 21.Ou não.
No fundo, a guerra síria transbordou com os refugiados invadindo a Europa, as fronteiras de tolerância que os países podem ter com os conflitos.
Mas aí a Europa, que está investindo bilhões para aliviar a crise de refugiados, não está conseguindo colocar fim ao conflito entre grande potências e interesses regionais.
O Brasil participou da conferência anterior sobre ajuda à Síria, recebeu refugiados, mas toda a América Latina está fora do conflito. Ainda não se pode dizer com certeza que não nos afeta. Ou quanto nos afeta.


SAUDADE DO PASSADO OU SONHO?




Chico Mendonça


Poderia ser uma cadeira de balanço à beira de uma janela antiga, coberta por uma manta e ladeada por uma mesinha. Sobre ela um vaso com folhas verdes e aveludas e uma flor vermelha de igual textura. A paisagem que se oferece pela vidraça faz parte de uma tarde de pouco sol, brisa suave e muitos passarinhos. Um par de chinelos descansa no chão. Seria útil de igual forma uma outra cadeira, posta sobre o amplo gramado do parque, voltada para uma árvore frondosa e muito bela, de galhos e movimentos teatrais como os de um cipreste. Amarrado num dos braços de madeira, um balão branco deseja o céu. Ou, ainda, uma bola de couro surrada, largada dentro do gol do campinho de terra, o tecido grosseiro exposto em alguns gomos rasgados por tantos chutes e divididas. Ao fundo um vozerio se afasta.
Serviria também um livro aberto sobre a mesa, banhado por uma luz matinal, e no meio dele, como marcador de página, um óculos de aros redondos e hastes dobradas. O silêncio marcado pelo pêndulo do relógio de parede. Quem sabe a porta aberta, entrada para uma casa arrumada e de bom cheiro, com toalha de linho sobre a mesa, chaleira apitando sobre o fogão em chama baixa, um saco de papel com meia dúzia de pães frescos, e, na fruteira de louça branca, goiabas, mexericas e figos. Um cão sentado na soleira, com os olhos postos no quintal, chora baixinho.
Outra possibilidade, o quarto de hotel no fundo do corredor estreito, a cama ainda desfeita, um travesseiro caído ao chão, um caderno com anotações e poemas esquecido sobre a mesinha. Do banheiro chega o vapor do banho recente. O suporte para mala vazio, o cabideiro de madeira também. A cortina branca de voil balança à frente da janela aberta. Dependurado na porta pelo lado de dentro, o chaveiro de ferro tem gravado o número 7. O corredor de piso de madeira range sob o peso dos passos apressados.
Por fim, se enfileiram a poltrona que ele sentava, a caneta de nanquim sem tampa, que ela usa, a jaqueta dependurada no quarto do filho ausente, o chapéu do avô para sempre esquecido sobre o sofá da sala, a garrafa de cerveja depositada diariamente na geladeira para quando o marido chegar, o porta-retratos com a fotografia da amada sob o abacateiro do quintal e a dupla de redes onde eles se deitavam para a sesta. E a chuva que cai sobre os telhados do mundo, de frente às janelas e aos olhares que elas protegem da friagem.
As cadeiras, a bola, o livro, a casa ou o quarto de hotel. Cada cena serve para sublinhar o lugar de alguém, o espaço da chegada e da despedida, a fotografia de uma ausência ou da chegada iminente. Tantas histórias andando pelas ruas, abrigadas pelas cortinas, subindo escadas, descendo precipícios, experimentando a umidade dos dias e a secura dos desertos. Tantos roteiros criativos para as mesmas histórias. Até que um dia este sono passe, até que numa manhã o sonho acabe. E a gente, então, diga assim: “Ô Deus, que saudade!”.

TEMOS UMA GOVERNANTE AMADORA E UMA OPOSIÇÃO INOPERANTE




Ricardo Galuppo





A incapacidade para solucionar os problemas do Brasil — dos mais complexos aos mais banais — tem sido a marca do governo Dilma Rousseff. Em qualquer assunto — aedes aegypti, infraestrutura ou economia —, a impressão que ele passa sempre é a do despreparo, do amadorismo e da falta de rumo. Essa é uma das faces mais evidentes do cenário político do Brasil de hoje. A outra face, tão eloquente quanto a inexistência de propostas factíveis por parte do governo, é a da falta de alternativas pelo lado da oposição. Assim como o PT, o PSDB também não tem dito coisa com coisa e ninguém é capaz de adivinhar o que o partido estaria fazendo hoje caso tivesse vencido as eleições.
Confrontado com essa questão, no final do ano passado, o senador Aécio Neves limitou-se a afirmar que suas propostas haviam sido apresentadas e debatidas na campanha de 2014. De fato, foram. Mas terá sido o bastante? Certamente, não. Afinal, os problemas do presente não podem ser resolvidos com os olhos postos no passado. E o país inteiro está ansioso para conhecer as medidas capazes de tirá-lo do atual estado de calamidade. Ou será que não está?

“Governo Paralelo”
Nesse aspecto, o PSDB tem muito a aprender com o PT. Depois de perder para Fernando Collor as eleições de 1989, Luiz Inácio Lula da Silva montou em São Paulo um escritório ao qual chamou de “Governo Paralelo”. Visto com desprezo pelos adversários, a experiência originou debates que davam a impressão de que Lula estava atento a tudo o que acontecia no país. Mesmo derrotado outras duas vezes por Fernando Henrique Cardoso, Lula jamais deixou de ter respostas para tudo.
Nem sempre eram respostas certas. Pode-se dizer que, no varejo, ele errou mais do que acertou. Suas posições contrárias ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal, para citar dois exemplos, foram ridículas. Tão ridículas quanto foi a postura de parlamentares do PSDB que, ao longo do ano passado, se opuseram a algumas medidas fiscais do governo com o mesmo entusiasmo com que as defenderiam caso seu partido tivesse vencido nas urnas.
“Caravana da Cidadania”
Se Lula errou no varejo, no atacado marcou um gol atrás do outro. Enquanto foi oposição, nunca ficou da defensiva. E sempre passou a impressão de ter no bolso do colete a solução para os problemas que Fernando Henrique não conseguia resolver. Num gesto que valeu mais pelo marketing do que pelos efeitos práticos, atravessou o país em viagens que tinham o nome pomposo de “Caravanas da Cidadania”. Com elas, visitou 359 cidades de 26 estados, sempre demonstrando preocupação com os brasileiros que, segundo ele, nunca tinham merecido a atenção do governo.
O resultado de tudo isso foi a consolidação de uma imagem que lhe assegurou (admitam ou não seus adversários) capital político suficiente para se manter de pé mesmo quando sua ruína parece iminente. A essa altura do campeonato, a oposição nada perderia se reunisse os intelectuais que a apoiam para oferecer uma alternativa ao país e, independente de quem será seu candidato em 2018, colocasse o pé na estrada para se mostrar presente. E teria muito a ganhar se apontasse um caminho que, no final das contas, restaurasse a esperança do povo.
Nesse aspecto, o PSDB tem muito a aprender com o PT

O CHEFÃO NÃO SABE DE NADA...KKKKK




Márcio Doti


Não há como negar a proeza de Lula ao atravessar todo o processo do Mensalão repetindo seguidamente que não sabia de nada do que se passava no gabinete tão próximo do seu, no Palácio do Planalto. Agora, para o presidente do PT, Rui Falcão, tentam destruir o grande ícone do PT. Usando da velha e já desacreditada tática de atribuir qualquer culpa a adversários que buscam macular a imagem do líder de tantas conquistas.
Quais mesmo? Desemprego, inflação, carestia, descrença, roubalheira, mentiras quantas? Tríplex, sítio em nome de amigos reformado por grande empreiteira responsável por inúmeras obras do governo, lobbies, dinheiro para a cunhada cedido pelo amigo Bumlai, depois tido como apenas conhecido, que tirou empréstimo no Banco Schahin, cujo grupo foi depois contemplado com um contrato de aluguel de navio sonda da Petrobras. Bumlai era só conhecido, mas tinha placa na entrada do Palácio dos Despachos dizendo que ele podia entrar quando quisesse.
Suspeitas
Faz parte das suspeitas a constatação dos R$ 2,5 milhões que o filho caçula de Lula, Luis Cláudio, recebeu da Marcondes & Mautoni, empresa investigada pela operação Zelotes da Polícia Federal, por fazer lobby pela suposta compra de medida provisória no governo Lula. Isso também é algo que nem de longe o ex-presidente sabia. Os mais próximos consideram que ao cabo das investigações o petista sairá limpo. Mas, por enquanto, as pesquisas internas revelam que a imagem de Lula sofre com tantas suspeitas e acusações sobre vários fatos e indícios.
As esperanças de Lula são baseadas numa possível melhora do quadro econômico de modo a que a sua sucessora possa se apresentar ao país com imagem melhor do que essa que desfruta hoje. Com o que tem neste momento em avaliação do eleitorado, Dilma seria uma tragédia como cabo eleitoral de Lula. Ele nem se atreveria. O mês de fevereiro é importante para o partido que completa 36 anos e a primeira manifestação foi uma fala de Lula, exibida na TV, em que ele declara confiança em comemorar o próximo aniversário em situação melhor do que esta em que o partido está hoje. No final do mês, monta-se um desagravo a Lula nos dias 26 e 27, no Rio de Janeiro, ainda nas comemorações de aniversário.
O que confunde tudo é que nos corredores do poder as implicações se juntam e os entendimentos se misturam para produzir complicadores algumas vezes e atenuantes em outras, tornando difícil o entendimento e previsões do que teremos lá na frente. Está claro que se dependesse apenas da política, os ajeitamentos seriam mais fáceis. Estamos vendo o que tem acontecido na CPI do BNDES onde o sub-relator, que é da oposição, recomenda indiciamento do governador Fernando Pimentel e de sua esposa Carolina de Oliveira, além do amigo Benedito de Oliveira. Já o relator, governista, diz não haver sequer depoimento do governador e nem de sua esposa e isto basta para concluir que não deve incluí-los na CPI. Isto, diante de um plenário apático. Atônitos, isto ficamos todos nós, o povo brasileiro.


AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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