Stefan Salej
É absolutamente impressionante que uma
tragédia como a que está acontecendo na Síria passe à margem dos nossos
sentimentos, preocupações e do nosso futuro. A Síria, que faz parte importante
de evolução da humanidade, que por circunstâncias do passado deu a oportunidade
a inúmeros sírios de se instalarem no Brasil e ajudarem na construção do país,
é hoje, após cinco anos de guerra, um país destruído.
Os números da destruição são
absolutamente estarrecedores: 400.000 mortos, 2 milhões de feridos, 4,5 milhões
de refugiados, 80 % das crianças têm alguém morto na família e 60 % delas
assistiram à violência da guerra.
Em uma semana, a cidade de Alepo
sofreu 510 ataques aéreos. Russos. Cidades destruídas, pessoas destruídas, país
destruído.
Rússia e Estados Unidos, junto com 17
países e grupos rebeldes que lutam contra o presidente Assad, chegaram a um
consenso esta semana, que, segundo um diplomata anônimo, valem só papel e
tinta, para um cessar fogo e, em especial, acesso de ajuda humanitária.
O acordo não vale para os grupos
terroristas da Al-Qaeda e do Estado Islâmico. Mas, para entender melhor a
guerra, porque isso já não é mais um conflito armado, devemos olhar quem é quem
contra quem.
Os Estados Unidos, Reino Unido e
França apoiam grupos rebeldes contra o atual regime. A Rússia, que tem uma base
militar no país, junto com a Turquia, Arábia Saudita, Irã e Qatar (aquele da
Copa daqui a 7 anos), apoiam o atual regime. E mais, o Nusra e o Estado
Islâmico não apoiam ninguém, mas querem conquistar seu espaço territorial e
político.
Em resumo, no fundo, os aliados dos
Estados Unidos como a Turquia, Qatar e Arábia Saudita, lutam junto com Rússia
contra os Estados Unidos que querem derrubar o atual regime. Estamos assistindo
a uma guerra entre grandes potências, em que parece que já esqueceram por que
estão lutando.
O acordo desta semana é importante
porque pode eventualmente levar a uma solução diplomática para colocar um fim à
tragédia do século 21.Ou não.
No fundo, a guerra síria transbordou
com os refugiados invadindo a Europa, as fronteiras de tolerância que os países
podem ter com os conflitos.
Mas aí a Europa, que está investindo
bilhões para aliviar a crise de refugiados, não está conseguindo colocar fim ao
conflito entre grande potências e interesses regionais.
O Brasil participou da conferência
anterior sobre ajuda à Síria, recebeu refugiados, mas toda a América Latina
está fora do conflito. Ainda não se pode dizer com certeza que não nos afeta.
Ou quanto nos afeta.



