quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

TREM FANTASMA DA CRISE



Em cenário de retração no mercado de trabalho, perspectiva é de piora em 2016

Estadão Conteúdo 


Após um ano de retração no mercado de trabalho, com o corte de 1,5 milhão de empregos formais em 2015, a perspectiva para 2016 não é de recuperação. Entre os representantes dos principais setores da economia ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, é consenso que - apesar do discurso entoado pelo governo - 2016 não deve trazer dados melhores que os do ano passado. As expectativas são tão negativas que, para alguns, uma repetição do resultado de 2015 já seria motivo para comemoração.

Caso o país apresente números semelhantes aos do ano passado, serão perdidos 3 milhões de empregos em dois anos, de um total de 5 milhões gerados desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu o cargo. Há duas semanas, a petista afirmou que o País vai retomar a geração de emprego e renda. "Vamos voltar a desenvolver esse País."

O ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, complementou: "Vamos sair dessa situação, temos de iniciar um movimento de retomada da geração de emprego, esse é o nosso cenário".

Apesar do tom de confiança, a preocupação tomou conta do Palácio do Planalto. A avaliação é que a popularidade da presidente pode piorar caso o desemprego vire um problema maior.

Indústria e comércio

Na indústria, setor que mais fechou vagas em 2015 - 608 mil, pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados -, as demissões de trabalhadores vão continuar, avalia o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. "As perspectivas para 2016 não são animadoras, ao contrário. O ambiente geral não mudou, temos um problema fiscal muito sério que tem gerado baixa confiança. Isso reflete no mercado de trabalho."

O técnico da CNI acredita que a retomada da confiança passa por mudanças estruturais, como a reforma da Previdência e o ajuste fiscal. Para ele, a ampliação do crédito proposta pelo governo não deve trazer grandes resultados. "Irrigar com mais crédito a economia sem mudar as condições fiscais que afetam a confiança vai ser pouco efetivo", afirmou.

Depois de gerar vagas ano a ano desde o início da gestão petista, o comércio fechou 218 mil postos em 2015. "O setor embarcou nesse trem fantasma da crise", disse o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes.

Ele estima que neste ano o setor vai demitir pelo menos 200 mil pessoas mais do que contratar. "Qualquer recuperação do comércio passa necessariamente por uma recuperação do mercado de trabalho geral, o que está longe de acontecer. A perspectiva é que o consumo continue se deteriorando."

Num dos cenários mais pessimistas, o presidente da Força Sindical, deputado Paulinho da Força (SD-SP), acredita que, em 2016, cerca de 15% da população economicamente ativa vai perder o emprego, ou seja, entre 3 e 4 milhões de pessoas. O número é muito pior do que o resultado final de 2015. Na avaliação do deputado, as centrais sindicais perderam força durante os governos Dilma e desampararam o trabalhador. "Os movimentos sindicais têm sido moles e uma alternativa é realizar uma paralisação."

Após o carnaval, a central vai discutir com a CUT um calendário de manifestações contra o cenário político e econômico e a reforma da Previdência.

Com uma visão um pouco mais otimista, mas ressaltando as dificuldades previstas para o ano e o enfraquecimento de Dilma, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou que a federação acredita que este ano serão fechadas mais um milhão de vagas. "Mas a situação é grave, já que tivemos 1,5 milhão de desempregados a mais em 2015, lembrando que quanto mais trabalhadores desempregados, mais difícil é a retomada do crescimento."

Outro setor que embarcou nos dados negativos foi o de serviços, com menos 276 mil vagas no ano passado. De acordo com o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, o atendimento essencialmente voltado ao mercado interno faz com que o setor seja muito sensível à crise atual. "O ano começou ruim e vai se manter. O máximo que pode acontecer é a mesma situação de 2015. Se for igual ao ano passado, já está bom", previu.

Na construção, importante termômetro da economia, o cenário não é diferente. Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Martins, contratos de obras estimuladas pelo governo, como as do Minha Casa Minha Vida, estão acabando, sem perspectiva de novos projetos. Em outro exemplo, somente no Rio de Janeiro, 35 mil operários ligados às obras da Olimpíada devem ser desligados nos próximos meses. "Esse pessoal vai ser dispensado e não tem onde se recolocar", disse.

A baixa disposição de investimento dos brasileiros também preocupa. "Uma família não vai deixar de colocar alimento na mesa ou pagar a escola do filho, mas certamente vai adiar a compra de um apartamento."

A agricultura foi o único setor que gerou empregos formais no ano passado, com saldo de 9,8 mil novas vagas. Para 2016, o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Bruno Lucchi, acredita que o patamar do emprego no setor será mantido, com a possibilidade de uma elevação moderada.

Segundo Lucchi, o dólar em patamar mais alto não será suficiente para permitir expansões de emprego que foram observados até 2014. Ele explica que neste ano os custos de produção, com insumos importados, já foram com dólar mais elevado. O crédito também ficou mais caro.

CRECENDO COMO RABO DE CAVALO




Manoel Hygino



As perigosas aventuras no esporte não terminaram. Em julho de 2014, Mario Vargas Lhosa comentou para o mundo ler: “Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto”. “No futebol, assim como na política, é mau viver sonhando, é sempre preferível se ater à verdade, por mais dolorosa que seja”.
Não comento suas observações sobre utilização de dinheiro público na Copa, inexistente segundo fontes oficiais. Mas não me permito ignorar seu comentário sobre as construções para o campeonato mundial de futebol: “As obras em si constituem flagrante de delírio messiânico e enfática irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria Fifa, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato”.
Evito tocar nos aspectos especificamente políticos envolvendo a Copa, mas lembro, por exemplo, há poucos dias, uma reportagem de televisão sobre a arena de Manaus. Consumiu-se ali mais de R$ 600 milhões e o estádio foi usado pouquíssimas vezes. Dinheiro jogado fora, enquanto falta à saúde, educação e segurança. Mas não é tudo.
As Olimpíadas consumirão muito mais ainda, exatamente quando as “burras” do Tesouro estão praticamente esvaziadas, enquanto a construção civil registrou em novembro a perda de 3 milhões de postos de trabalho. Delfim Netto, em artigo, há cerca de dois anos, comentou sobre a inconveniência de o Brasil sediar a competição, por não resultar em resposta positiva do PIB a investimento.
O economista alertou: “mortal mesmo é financiar despesas de custeio, de pessoal, ou aumentar a relação dívida/PIB com mais aumento da dívida. O que ocorrerá com mais de 100 mil trabalhadores que serão dispensados simultaneamente com o fim das obras da Olimpíada no Rio de Janeiro, em maio de 2016?”
A mim me impressiona, sinceramente, as plúmbeas perspectivas que temos para este ano, embora governo e população pareçam tão motivadas para a alegria momesca e os jogos programados. A gente deste país protesta contra centavos a mais nas passagens de em transporte coletivo urbano, mas esquece a fábula do que se está gastando para sediar as competições.
Para este velho ermitão, essas temporárias expressões de euforia não me convencem. Sobretudo quando confirmados os horizontes sombrios que preconizam os conhecedores de economia.
Quem não viu que a taxa de desemprego no Brasil subiu para 9% no trimestre encerrado em outubro, conforme informado pelo IBGE, um organismo respeitável? Um número doloroso: 9,1 milhões de pessoas procuraram e não conseguiram emprego no trimestre terminado também em outubro de 2015. Os números e percentuais não são saudáveis. E ainda: o setor de saúde será o que sofrerá maior impacto negativo em termos de empregos nos próximos cinco anos.
No momento, estamos como se comenta em minha cidade natal: o país cresce como rabo de cavalo – para baixo.


GASLIGHT





Simone Demolinari




Gaslight é um termo utilizado para nomear especificamente abusos psicológicos feito pelos homens às mulheres. O nome surgiu com base numa peça teatral homônima de 1938, onde um homem manipulava sua esposa com o objetivo de ficar com sua herança. Ele fazia com que ela duvidasse da sua própria memória, tendo a sensação de que estava ficando louca.
Mas isso não acontece só no teatro não, a vida imita a arte. É muito comum depararmos com pessoas que manipulam, distorcem informações, inventem falas, mentem enfaticamente, tudo no intuito de convencer a vítima fazendo com que ela duvide da sua própria sanidade e lucidez. Tudo isso com um objetivo: se favorecer ou escapar de uma situação desfavorável, como por exemplo um flagrante.
Este foi o caso de Lúcia, que flagrou seu marido a traindo com a secretária num restaurante. Ela chegou ao local exatamente quando ambos se beijavam e viu a cena. Ao chegar em casa o marido repreendeu o comportamento da esposa, se dizendo constrangido com a situação. Afirmou com veemência, inclusive jurando em nome da vida dos filhos, que não houve beijo na boca e sim no rosto sob a justificativa do aniversário da secretária. A esposa ouviu aquela história incontáveis vezes, tantas que começou a duvidar daquilo que viu. Não tinha mais certeza se havia visto ou se havia criado a história na sua imaginação.
O gaslight usa sempre a técnica de manipulação seguida da repetição, tanto para distorcer quanto para atenuar os fatos. Eles também costumam amenizar situações graves com frases do tipo: “era só uma brincadeira, você leva tudo a sério”; “você precisa levar a vida mais leve”; “relaxa você é muito brava”; “você deve estar na TPM”; “você está surtada, vendo coisas onde não tem, precisa de um médico”; “eu te amo tanto e você está estragando tudo”.
Com esse discurso ele consegue fazer a parceira acreditar que está exagerando. Só após anos de relação abusiva é que a vítima percebe a gravidade da situação e inicia uma nova empreitada para interromper aquele relacionamento doentio.
Pessoas que agem assim nas relações amorosas, costumam ser totalmente diferente entre amigos e família. Com a esposa é um manipulador, com os demais, uma pessoa prestativa, simpática, sedutora e doce.
Dessa maneira, quando a vítima confidencia o que está vivendo, a tendência de quem escuta é duvidar e exaltar as características positivas do agressor, deixando a vítima ainda mais desamparada.
O gaslighting é um crime psicológico, invisível, mas real, capaz de deixar uma pessoa num estado de ansiedade, fragilidade e até depressão.
Quem já passou por isso, costuma olhar para trás e não entender como conseguiu permanecer tanto tempo naquela relação. Neste caso vale lembrar da “síndrome do sapo fervido”: “O sapo quando colocado numa panela com água quente salta imediatamente e consegue sobreviver. Entretanto, quando o mesmo sapo é colocado na panela com água fria e, gradualmente, a água vai aquecendo, ele demora muito a reagir e morre depois de um tempo, inchado e feliz”.

DE FRACASSO EM FRACASSO VAMOS VIVENDO




Márcio Doti




É fundamental que cada cidadão se conscientize do momento triste que estamos vivendo. A história cobrará, sem piedade, o que cada um fez ou deixou de fazer para que o país fosse capaz de superar tantos erros e vícios e trazer de volta aos trilhos uma composição desgovernada que promete nos atropelar durante pelo menos três anos. Não sabemos exatamente o que é isto porque ninguém viveu até aqui uma situação sequer parecida. Mas é certo que não ficaremos ao largo das dificuldades. Um governo que gasta mal o que nem tem vai agravar ainda mais o quadro já sem isso, repleto de cores feias e assustadoras. Imagina mais agruras na segurança pública, no atendimento médico, na educação, tudo agravado pelos preços nos supermercados e sacolões, nos serviços essenciais de água, energia elétrica, impostos e taxas cobrados com a ganância de governos que precisam fazer o dinheiro circular para que sobrem os “por fora”.
Quem acompanhou a campanha eleitoral do candidato Fernando Pimentel ouviu muitas críticas aos governos “incompetentes” de Aécio, Anastasia e Alberto. Que gastaram mal, que não ouviam o povo, eram cruéis nos impostos e taxas, entregavam ao povo mineiro péssimos serviços estaduais. E agora? O discurso mudou para a falta de dinheiro, a crise internacional vinda da China e cofres limpos, sem dinheiro, mesmo após o uso dos depósitos judiciais. Não consegue sequer pagar em dia o funcionalismo público estadual que durante 12 anos nunca soube o que era atraso de um dia sequer. Nos palácios de Minas, não se esperam carros fortes com dinheiro para fazer pelo menos o mínimo do que foi prometido em campanha. Quem bate à porta é carro de polícia, mantido à distância pela politicagem suja dos dias atuais.
CADA QUAL QUE SE VEJA
Em Brasília, nunca foi tão verdadeira aquela música bem brasileira que em certo trecho proclama: “... se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão! Se gritar pega ladrão...” Cada qual anda preocupado com seu próprio pescoço. Mesmo sendo preciso andar uma longa distância para alcançarmos um outro ambiente onde viver e produzir, o que torna tudo mais grave, é que nem começamos essa caminhada. Estamos, ainda, em estado de plena desarrumação em todos os setores. Uns tentando cobrir as falhas dos outros, cada qual esquentando os panos, montando as pizzas, na triste e vergonhosa ilusão de que será possível passar desta para melhor sem um tratamento profilático, uma limpeza generalizada que comece de novo o que não tem como ir pior.
A hora é de lembrar Kennedy, o presidente norte-americano brutalmente assassinado: “... não perguntem o que nosso país pode fazer por nós”. E conclui dizendo que cada um é que procure perguntar o que pode fazer pelo país. É isto. Cada um que faça a pergunta, mire-se no espelho. Seja autoridade, seja o cidadão mais simples. Ninguém escapará do julgamento da história que fatalmente virá um dia. Para destrinchar essa triste, vergonhosa e suja etapa da vida brasileira. Uma coisa é certa: todos pagaremos um alto preço por permitir que se chegasse tão longe nessa aventura que transformou a vida nacional numa imensa página policial.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...