Manoel Hygino
As perigosas aventuras no esporte não
terminaram. Em julho de 2014, Mario Vargas Lhosa comentou para o mundo ler:
“Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à
Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu
tanto”. “No futebol, assim como na política, é mau viver sonhando, é sempre
preferível se ater à verdade, por mais dolorosa que seja”.
Não comento suas observações sobre
utilização de dinheiro público na Copa, inexistente segundo fontes oficiais. Mas
não me permito ignorar seu comentário sobre as construções para o campeonato
mundial de futebol: “As obras em si constituem flagrante de delírio messiânico
e enfática irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam
necessários, segundo alertou a própria Fifa, e o planejamento foi tão tosco que
a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser
cancelada ou só será concluída depois do campeonato”.
Evito tocar nos aspectos
especificamente políticos envolvendo a Copa, mas lembro, por exemplo, há poucos
dias, uma reportagem de televisão sobre a arena de Manaus. Consumiu-se ali mais
de R$ 600 milhões e o estádio foi usado pouquíssimas vezes. Dinheiro jogado
fora, enquanto falta à saúde, educação e segurança. Mas não é tudo.
As Olimpíadas consumirão muito mais
ainda, exatamente quando as “burras” do Tesouro estão praticamente esvaziadas,
enquanto a construção civil registrou em novembro a perda de 3 milhões de
postos de trabalho. Delfim Netto, em artigo, há cerca de dois anos, comentou
sobre a inconveniência de o Brasil sediar a competição, por não resultar em
resposta positiva do PIB a investimento.
O economista alertou: “mortal mesmo é
financiar despesas de custeio, de pessoal, ou aumentar a relação dívida/PIB com
mais aumento da dívida. O que ocorrerá com mais de 100 mil trabalhadores que
serão dispensados simultaneamente com o fim das obras da Olimpíada no Rio de
Janeiro, em maio de 2016?”
A mim me impressiona, sinceramente, as
plúmbeas perspectivas que temos para este ano, embora governo e população
pareçam tão motivadas para a alegria momesca e os jogos programados. A gente
deste país protesta contra centavos a mais nas passagens de em transporte
coletivo urbano, mas esquece a fábula do que se está gastando para sediar as
competições.
Para este velho ermitão, essas
temporárias expressões de euforia não me convencem. Sobretudo quando
confirmados os horizontes sombrios que preconizam os conhecedores de economia.
Quem não viu que a taxa de desemprego
no Brasil subiu para 9% no trimestre encerrado em outubro, conforme informado
pelo IBGE, um organismo respeitável? Um número doloroso: 9,1 milhões de pessoas
procuraram e não conseguiram emprego no trimestre terminado também em outubro
de 2015. Os números e percentuais não são saudáveis. E ainda: o setor de saúde
será o que sofrerá maior impacto negativo em termos de empregos nos próximos
cinco anos.
No momento, estamos como se comenta em
minha cidade natal: o país cresce como rabo de cavalo – para baixo.

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