domingo, 10 de janeiro de 2016

POLÍTICA



  

Frei Beto



Estamos em ano eleitoral. Em outubro, elegeremos vereadores e prefeitos. Ainda que se torça o nariz para a política, convém lembrar que em tudo há política. Nem tudo é política, mas a política está em tudo. Por exemplo, um casal em lua de mel não é necessariamente uma questão política. Mas a qualidade do hotel onde se hospedam tem a ver com política.

Minha bisavó, de 98 anos, pode não ter a menor ideia de que a qualidade do café da manhã que ela toma tem a ver com política. Mas tem.

A política é uma faca de “dois legumes”, como se diz em Minas. Serve para oprimir ou libertar. É como religião, que também serve para oprimir ou libertar. Foi um erro de certa tradição marxista achar que toda religião é alienação, até que, de repente, se descobriu que religião também é fator de libertação. Não sou eu quem diz, mas Friedrich Engels, (companheiro do Karl Marx na elaboração de O capital), no pequeno livro que o mundo socialista pouco divulgou, chamado Cristianismo primitivo.

Fidel Castro presenteou o papa Francisco, em setembro de 2015, quando este visitou Cuba, com o livro Fidel e a religião, no qual um chefe de Estado de um país comunista fala positivamente de religião. Aliás, neste ano a obra será reeditada no Brasil pela Companhia das Letras.

Entre vários exemplos de que tudo tem a ver com a política, um dos mais curiosos é este: dezembro lembra o número 10; novembro, 9; outubro, 8; e setembro, 7. E quantos meses tem o ano? Doze!

Eis a política: o ano tinha dez meses. O imperador Júlio César chamou os astrônomos do reino e disse: “Inventem um mês em minha homenagem.” Eles deram um jeito e enfiaram no calendário o mês de julho. Morto, Júlio César foi sucedido pelo imperador Augusto, que também chamou os astrônomos do reino e disse: “Se o Júlio tem um mês com seu nome, também mereço”.

Ordens imperiais são ordens imperiais, e ninguém quer ter a cabeça degolada. Então, criaram o mês de agosto. Porém, morrendo de medo apresentaram ao imperador um problema cronológico. Existe uma alternância de dias em cada mês. Janeiro tem 31, depois 30, 31, 30, e julho e agosto são os únicos dois meses do ano com 31 dias seguidos.

Como foi possível tal artimanha? Por ordens imperiais. “Se virem” disse Augusto. E os astrônomos se viraram: tiraram um dia de fevereiro.

Podemos não saber que a política está em tudo, mas está. Porque o ser humano não inventou – e acredito que nem inventará – outra maneira de organizar a sua convivência social a não ser através da política.
Hoje em dia, muitas pessoas, sobretudo jovens, têm nojo de política, porque acompanham noticiários que falam de corrupção, roubalheira, descaramento, nepotismo, fisiologismo etc. Sempre lembro a eles: quem tem nojo de política é governado por quem não tem. E tudo que os maus políticos querem é que tenhamos bastante nojo, para eles ficarem à vontade com a rapadura nas mãos!

Lembrem-se disso! Quando você ou os seus amigos disserem: não quero saber de política, não vou mais votar, vou anular o voto, estarão fazendo o jogo dos maus políticos. Quem se omite dá um cheque em branco para a política que predomina no país.

Portanto, não existe neutralidade política. Existe a falsa ideia de neutralidade. Mas, de alguma maneira, cada pessoa interfere na política do país, para o bem ou para o mal.

Afinal, nenhum desses senhores e senhoras que ocupam o Congresso Nacional, em Brasília, entrou pela janela. Todos entraram através do voto dos eleitores. Então, a questão também é analisarmos por que os eleitores votam mal. Por causa da política. Porque vivemos em um mundo onde a política é controlada por uma minoria. E o Brasil não é exceção. Mas isso é outra história e tem nome: reforma política.

CHINESES NO FUTEBOL



Fãs do Brasil, chineses aproveitam real desvalorizado para seduzir jogadores

Estadão Conteúdo




Com os cofres cheios e incentivados pelo governo de um presidente apaixonado por futebol, os clubes chineses têm dinheiro para contratar os melhores e mais caros jogadores do mundo. Por que, então, resolveram concentrar grande parte dos seus investimentos no Brasil? Há duas razões básicas: a histórica paixão pelo futebol brasileiro e a desvalorização do real.

O Tianjin Quanjian, time que disputa a segunda divisão do Campeonato Chinês, por exemplo, traçou como meta subir para a elite e conquistar uma vaga na Copa da Ásia. Os dirigentes não pensaram duas vezes. Vieram ao Brasil e contrataram o técnico Vanderlei Luxemburgo, o meia Jadson e o atacante Luis Fabiano. Os chineses ainda ofereceram para Alexandre Pato salário de R$ 5 milhões, mas ouviram o atacante do Corinthians dizer não. Agora estão atrás de outro jogador brasileiro.

Segundo Sun Xian Lu, coordenador do Tianjin Quanjian, mesmo depois do vexame da última Copa do Mundo o Brasil continua sendo visto como o "país do futebol", com jogadores e treinadores considerados capazes de ajudar no desenvolvimento do esporte na China.

"A derrota na Copa afetou um pouco a imagem do futebol brasileiro, mas o país continua tendo bons jogadores e o 7 a 1 foi um episódio isolado. O futebol é um jogo coletivo, mas também é importante contar com destaques individuais. É bom um time ter jogador que faça a diferença. Os chineses são muito duros e esse contato com os brasileiros é importante. O que falta para o futebol chinês é a qualidade técnica do brasileiro", disse.

Assim como o Shandong Luneng no ano passado, o Tianjin Quanjian aproveitou para fazer a sua pré-temporada no Brasil e Luxemburgo levou o time para Atibaia (SP).

Tang Wei, diretor-geral da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, destaca também a desvalorização do real no último ano. "O valor do jogador brasileiro ficou até 40% mais barato no mercado internacional. Isso foi fundamental para o Brasil ser escolhido como principal lugar de importação de mão de obra no futebol", disse Wei, que nasceu em Pequim e desde 1988 vive no Brasil.

Não é de hoje que jogadores saem do Brasil para jogar na China. O sérvio Petkovic, por exemplo, que fez carreira no futebol brasileiro, deixou o Vasco em 2003 para jogar no Shanghai Greenland. O contrato foi costurado pelo advogado Marcos Motta, que nos últimos 10 anos participou da maioria das transferências de atletas do País para a China, quase todas intermediadas por Joseph Lee, empresário indonésio que desde 1993 negocia jogadores com o mercado asiático.

"Já é uma tradição ter jogador do Brasil na China. Há empresários com uma penetração muito grande na China. Isso criou uma tropicalização e fez um elo negocial. Jogador brasileiro na China tem dado certo. É uma experiência satisfatória tanto do ponto de vista técnico como do financeiro", disse Motta.

INCENTIVO
O número de transferências se intensificou desde a chegada do presidente Xi Jinping ao poder, em 2013. Seu plano é não só ver a China em uma final de Copa do Mundo, como também fazer com que o país seja sede do Mundial a médio prazo. Assim, os clubes estatais passaram a receber mais investimentos e os de propriedade privada a contar com colaboração financeira do governo, sobretudo através da isenção de impostos. Além de gastar com atletas, o investimento em estrutura cresceu muito nos últimos anos.

"Desde quando eu era pequeno e morava na China, sempre admiramos o futebol brasileiro. Mas a China não está interessada em importar apenas jogadores. Ela quer conhecimento no futebol para avançar na área de medicina esportiva, por exemplo, já que o Brasil, pela sua tradição no futebol possui know-how no ramo", disse Wei.

Luxemburgo levou 10 profissionais para montar a sua comissão técnica. Número semelhante às "trupes" de Mano Menezes no Shandong Luneng e de Luiz Felipe Scolari no Guangzhou Evergrande.

sábado, 9 de janeiro de 2016

PALESTRAS DE LULA



Por motivo de força maior

Ruy Castro 



RIO DE JANEIRO - Há um ano, Marcelo Odebrecht pediu a um executivo da Petrobras dados para um "aide-mémoire" que estava escrevendo para Lula usar numa visita que faria à Argentina. O homem se empolgou e escreveu demais. Odebrecht o cortou: "Um terço de página apenas, ou o cara não lê".
Bom saber que Odebrecht escrevia "aide-mémoires" para Lula usar em seus pronunciamentos no exterior. Significa que, naquela época, Lula não precisava falar por conta própria, como no dia em que, em visita oficial à África, em 2003, chegou à Namíbia, olhou em volta e declarou: "Tão limpa que nem parece a África!" – ofendendo todos os países africanos pelos quais passara.
O incrível é constatar como Lula é tido em baixa conta justamente pelo homem que, então, vivia contratando-o para dar palestras nos vários continentes. Não eram palestras comuns, para plateias indiferentes, mas "lectures" dirigidas à nata política, social e econômica de cada país – gente sem tempo a perder e ansiosa para ouvir os ensinamentos de um governante bem sucedido. Eram palestras tão importantes que Odebrecht pagou a Lula, em um ano, R$ 4 milhões por elas – R$ 400 mil cada.
Uma palestra desse porte dura duas horas. Como falar duas horas sobre qualquer assunto sem dominá-lo? E como fazer isso sem ter lido balanços, relatórios, pareceres e análises, ou mesmo resumos preparados por assessores? E será possível guardar de cor todos os dados? Não, o palestrante terá sempre de se valer de papéis à sua frente. Mas, segundo Marcelo Odebrecht, textos de mais de um terço de página, "o cara não lê".
Um dia, alguém terá acesso a um vídeo, áudio ou transcrição de uma palestra de Lula paga por Odebrecht – ninguém viu nada até hoje. Só então se descobrirá o insuperável palestrante que ele era e, hoje, por motivo de força maior, deixou de ser.

GRUPO, COLETIVO OU EQUIPE?



  

Luciano Luppi 



Durante um encontro de profissionais de teatro, uma jovem atriz falava sobre o seu grupo e usava muito a palavra “coletivo”. Ao meu lado, um diretor de teatro, já com mais de 50 anos, sussurrou, ao meu ouvido. “Agora não se pode mais falar em grupo. Ficou démodé. Agora, a palavra é “coletivo”. Achei engraçado, mas depois fiquei pensando sobre as novas gírias e jargões que surgem e acabam criando alguns desentendimentos entre os artistas jovens e os da velha guarda. Será que essa dança dos palavreados significa apenas modismos ou denota algo maior, uma espécie de ruptura entre gerações?

Confesso a minha dificuldade em acompanhar essa mudança no vocabulário, pois sou da velha guarda e a gente acaba se acomodando mesmo, parece até que é natural. Mas é fácil compreender essas diferenças, pois na nossa juventude também queríamos mudar muitas coisas, romper com certos paradigmas, inclusive modificar o vocabulário.

Entretanto, o que é que realmente foi modificado? Quais os benefícios poderemos colher dessas propostas? O que essas mudanças trouxeram de concreto para a humanidade? E o que os jovens de hoje estão fazendo, realmente, de novo, de diferente? Como essa possível inovação está sendo percebida? Como uma apresentação teatral é efêmera, ou seja, acontece ao vivo, o que podemos reter daquele momento são apenas registros, que podem ser imagens, áudios ou escritos.

Mas há mais de 30 anos não contávamos com tantos equipamentos de reprodução e tantas formas de registrar as experiências. Poucas montagens foram gravadas e o nosso acervo ficou restrito aos livros, fotos e artigos da época. A maioria das experiências vividas está guardada na nossa memória.

Acontece que, muitas vezes, assisto a algumas peças que são apresentadas como se fossem uma grande novidade, representantes de uma vanguarda teatral. Em alguns casos, faço uma retrospectiva mental e consigo observar que algum grupo já havia realizado aquela proposta. E, talvez, com mais ousadia! Como os jovens de hoje não tinham idade para presenciar o que foi feito num passado não muito distante, e como se viciaram em conhecer o mundo através dos meios tecnológicos contemporâneos (que não faziam parte da vida de outrora), pressuponho (digo assim por absoluta falta de certeza) que, existe sim, uma certa ruptura.

Mais que uma dança de palavras, as novas expressões carregam o embrião do embate entre as gerações, através da forma de se lidar com a comunicação. Até aí, tudo normal, sempre foi assim, o que não deve prevalecer é a intolerância, pois posso chamar coletivo de grupo e quem quiser que chame grupo de coletivo, desde que a gente trabalhe em... (hum... e agora?).

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...