sábado, 9 de janeiro de 2016

GRUPO, COLETIVO OU EQUIPE?



  

Luciano Luppi 



Durante um encontro de profissionais de teatro, uma jovem atriz falava sobre o seu grupo e usava muito a palavra “coletivo”. Ao meu lado, um diretor de teatro, já com mais de 50 anos, sussurrou, ao meu ouvido. “Agora não se pode mais falar em grupo. Ficou démodé. Agora, a palavra é “coletivo”. Achei engraçado, mas depois fiquei pensando sobre as novas gírias e jargões que surgem e acabam criando alguns desentendimentos entre os artistas jovens e os da velha guarda. Será que essa dança dos palavreados significa apenas modismos ou denota algo maior, uma espécie de ruptura entre gerações?

Confesso a minha dificuldade em acompanhar essa mudança no vocabulário, pois sou da velha guarda e a gente acaba se acomodando mesmo, parece até que é natural. Mas é fácil compreender essas diferenças, pois na nossa juventude também queríamos mudar muitas coisas, romper com certos paradigmas, inclusive modificar o vocabulário.

Entretanto, o que é que realmente foi modificado? Quais os benefícios poderemos colher dessas propostas? O que essas mudanças trouxeram de concreto para a humanidade? E o que os jovens de hoje estão fazendo, realmente, de novo, de diferente? Como essa possível inovação está sendo percebida? Como uma apresentação teatral é efêmera, ou seja, acontece ao vivo, o que podemos reter daquele momento são apenas registros, que podem ser imagens, áudios ou escritos.

Mas há mais de 30 anos não contávamos com tantos equipamentos de reprodução e tantas formas de registrar as experiências. Poucas montagens foram gravadas e o nosso acervo ficou restrito aos livros, fotos e artigos da época. A maioria das experiências vividas está guardada na nossa memória.

Acontece que, muitas vezes, assisto a algumas peças que são apresentadas como se fossem uma grande novidade, representantes de uma vanguarda teatral. Em alguns casos, faço uma retrospectiva mental e consigo observar que algum grupo já havia realizado aquela proposta. E, talvez, com mais ousadia! Como os jovens de hoje não tinham idade para presenciar o que foi feito num passado não muito distante, e como se viciaram em conhecer o mundo através dos meios tecnológicos contemporâneos (que não faziam parte da vida de outrora), pressuponho (digo assim por absoluta falta de certeza) que, existe sim, uma certa ruptura.

Mais que uma dança de palavras, as novas expressões carregam o embrião do embate entre as gerações, através da forma de se lidar com a comunicação. Até aí, tudo normal, sempre foi assim, o que não deve prevalecer é a intolerância, pois posso chamar coletivo de grupo e quem quiser que chame grupo de coletivo, desde que a gente trabalhe em... (hum... e agora?).

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