terça-feira, 15 de dezembro de 2015

POLÍTICOS NÃO ENTENDEM O RECADO DAS RUAS



  

por Malco Camargos


Em 2015 foram convocadas quatro grandes manifestações: 15 de março, 12 de abril, 16 de agosto e 13 de dezembro. Em todas a estratégia de convocação foi a mesma: mobilização via WhatsApp, anúncios pagos e criação de eventos no Facebook. Também com cobertura da imprensa nacional, publicando os locais e horários dos eventos, e uma ampla cobertura ao vivo durante a programação das principais emissoras do país.

As pautas dos movimentos foram as mesmas, mas a adesão foi diminuindo a cada ato. As principais bandeiras dos quatro atos foram: “Fora Dilma”, “Fora PT”, contra a corrupção e a favor do impeachment. Contudo, se o primeiro ato, em março, reuniu, segundo estimativas, cerca de dois milhões de pessoas, o número foi decaindo a cada novo protesto.

Em abril, as estimativas são de cerca de 700 mil pessoas, quase um terço do evento anterior. Em agosto, o número foi perto do de abril, e, no evento de dezembro, houve uma significativa queda no número de participantes. O protesto contou com a participação de cerca de 100 mil pessoas em todo o país.

Se por um lado as manifestações alcançaram seus objetivos de colocar em xeque a competência da presidente Dilma, de questionar a legitimidade do pleito e também de deflagrar o processo de impeachment, o que explicaria a queda gradativa na participação popular se os temas e as formas de mobilização foram os mesmos?

O primeiro fator que deve ser destacado é a fragilidade de nossas elites políticas. No início dos protestos tinha-se a ideia que a corrupção estava arraigada em apenas um partido e que bastava o seu afastamento do poder para que os problemas relacionados a este mal universal fossem solucionados.

Porém, com a extensão das ações da operação Lava Jato, uma ampla gama de políticos e representantes de vários partidos foi envolvida em processos de desvio de dinheiro público.

O segundo fator se relaciona com o primeiro. Como um cidadão de bem, incomodado com o noticiário sobre a corrupção divulgado nos canais de comunicação, se sente ao apoiar um processo de impeachment deflagrado por um ator com problemas gravíssimos no âmbito da Justiça brasileira e que tem feito manobras regimentais constantes para procrastinar seu julgamento?

Sem dúvida, a presença de Eduardo Cunha na presidência da Câmara abala a legitimidade de toda a classe política e de qualquer movimento encabeçado por ela, independentemente de a causa ser justa ou não.

Além de tudo, o comportamento de nossa elite política, muito mais preocupada com disputas internas de poder, benesses e cargos, faz com que a pauta das manifestações não atenda mais o que pensa uma parcela grande da população brasileira.

Mais do que serem contra ou a favor de um partido ou outro, o que é cada vez mais latente na sociedade é o sentimento de que nossos representantes não nos representam. Este é o recado que foi dado em junho de 2013 e que, passados 18 meses, ainda não foi ouvido pelas elites políticas.

*Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver

INCERTEZAS ECONÔMICAS



  

José Antônio Bicalho





São três as forças principais que movem um processo de impeachment: o povo nas ruas, a hostilidade do Congresso e a decadência da economia. Somente sobre a última variável a presidente Dilma Rousseff possui alguma autonomia. Mas é onde está mais errando.

Quanto à primeira, vimos neste domingo que o esvaziamento das manifestações pró-impeachment garantiu certo alívio à presidente. Hoje, o movimento pró-impeachment não pode ser chamado de ‘movimento de massa’: não tem volume ou frequência.

Já o Congresso é um ninho de cobras, mas ainda administrável. O PT é o segundo maior partido, com 60 deputados e 13 senadores. O PMDB, maior partido e fiel da balança, possui 66 deputados e 18 senadores. Apesar das rusgas entre a presidente e seu vice, e da fidelidade questionável do PMDB, não nos esqueçamos que o partido ainda ocupa sete ministérios.

Somados a estes os votos dos demais partidos declaradamente contrários ao impeachment (Rede, Psol, PC do B, PDT e PROS), não seria muito complicado chegar, hoje, aos 172 deputados necessários para barrar a tentativa de apear a presidente do poder. O problema, então, está naquela última variável: a expectativa de aprofundamento da crise econômica que poderá incentivar as manifestações de rua e minar a boa vontade dos congressistas com a presidente.

O boletim Focus (pesquisa macroeconômica feita com agentes do mercado) divulgado nessa segunda pelo Banco Central aponta para uma expectativa de aumento da inflação (IPCA em 10,61% ao final deste ano) e contração maior da economia (queda do PIB de 3,62% em 2015). E, o mais importante e grave, prevê um aumento da taxa básica de juro (Selic), hoje em 14,25%, para 14,63% ao final de 2016.

A expectativa de aumento dos juros se baseia nos sinais emitidos pelo próprio Comitê de Política Econômica do BC (o Copom, responsável por definir a taxa Selic). Nessa toada, no próximo ano teremos juro no teto, inflação nas nuvens e PIB no chão. Uma mistura perigosíssima para um governo que está no córner e que dará à oposição a energia que falta para tentar aplicar o nocaute.

Erro primário

Poderia ser diferente? Sim. O Copom erra primariamente ao subir juros para frear uma inflação que, aos seus olhos, tem origem no excesso de demanda. Não é isso que acontece numa economia em franco recuo. Todos os setores da economia sentiram o baque da recessão. Desemprego e queda na renda já exercem uma força de descompressão da demanda muito superior à de qualquer aumento de juro.

A verdade é que a inflação não está cedendo por conta da brutal desvalorização do câmbio (de mais de 50% neste ano) e do realinhamento dos preços administrados. E, sobre estes, o aumento dos juros ou a atuação do BC são inócuos. Seria muito melhor para o país que o BC assumisse publicamente que teremos que enfrentar um período razoavelmente longo de inflação alta, mas em desaceleração paulatina (os preços livres, como vestuário e artigos de residência, já estão subindo bem abaixo do índice cheio da inflação).

Isso não significaria ao Copom abrir mão de suas atribuições, nem uma sinalização ao mercado de perda de controle da política monetária. Desde que comunicado de maneira transparente, o adiamento para depois do próximo ano da convergência da inflação ao centro da meta permitiria, ao menos, a possibilidade de juros mais baixos e algum amparo para uma economia em queda livre.

QUEM VIVER VERÁ!



  

Márcio Doti


Uma semana de grandes definições essa em que decisões vão mostrar com clareza o rumo que as altas questões nacionais vão tomar. Na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) se reúne por pedido do ministro Fachin para discutir e decidir sobre as ações propostas pelo PCdoB, quanto à forma de escolha dos membros da Comissão Especial, da Câmara dos Deputados, que vai encaminhar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, os ministros vão conhecer a proposta do ministro Fachin para a definição do rito que deverá ser obedecido para o andamento do pedido em todas as fases que deverão ser percorridas.

Como sabemos, há várias lacunas na legislação existente e a preocupação do ministro é evitar que o processo seja entrecortado por paralisações à espera de definições do Supremo, provocado em cada ponto de lacuna pelos próprios parlamentares e partidos políticos. Na quarta-feira, o plenário do Supremo estará reunido e do encontro se saberá, com boa margem de segurança, qual rumo tomará a Casa, e mais que isto, que correções e que acertos poderemos esperar, com base nas posições assumidas pelos magistrados, individualmente, e no colegiado especialmente reunido para este fim. Os lances dessa reunião de quarta-feira serão reveladores de qual postura assumirá a mais alta corte do país, diante de um quadro confuso e delicado que clama por posicionamentos capazes de contemplar o interesse público como principal. Para que se possa acreditar numa caminhada de conserto, de correção e de recuperação, é indispensável saber como estão pensado os ministros do Supremo.

Venda de medidas provisórias

De igual modo, na próxima quinta-feira, está previsto o depoimento do ex-presidente Lula aos delegados da Operação Zelotes, sobre venda de medidas provisórias. Lula já afirmou que não assinou medidas provisórias beneficiando montadoras, embora seja certo que a Polícia Federal não o convocaria sem fortes motivos para buscar esclarecimentos. Nas investigações da Operação Zelotes estão também um dos filhos do ex-presidente Lula, além do governador de Minas, Fernando Pimentel, sua esposa Carolina de Oliveira, e seu amigo Benedito de Oliveira. Também estão às voltas com a oferta de facilidades ao grupo Caoa e veículos Hyundai o atual presidente da Cemig, Mauro Borges, que foi o substituto de Pimentel à frente do Ministério do Desenvolvimento. Já foram exibidas cópias de mensagens em que o presidente da Caoa buscava o auxílio de Benedito Oliveira para interceder junto ao então ministro Mauro Borges para a assinatura de atos que iriam assegurar facilidades para a montadora.

Virão sinais claros desses dois momentos dos próximos dias e certamente que mais aqueles que virão da Justiça Eleitoral e que podem envolver o Tribunal de Contas da União. Agravando tudo isto, teremos os lances que virão da Comissão de Ética, sobre a possível cassação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Por tudo isto será possível avaliar a sequência dos acontecimentos. Vale aguardar para saber em que rumo caminhamos ou se continuaremos desnorteados e cada vez mais abalados pelas crises que nos atormentam no campo econômico, no ambiente político e na vida moral de nossas instituições.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

FANTASMA DA INFLAÇÃO



Inflação 2015 deve superar 10% em plena recessão e não dá sinais de arrefecimento

Raul Mariano - Hoje me Dia

O ambiente recessivo que reduziu o poder de consumo das famílias em 2015 e levou o Produto Interno Bruto (PIB) para o buraco não foi capaz de espantar o fantasma da inflação. Pelo contrário, a sensação de que o dinheiro está comprando cada vez menos cresceu ao longo dos meses e, em dezembro, voltou aos patamares de 2003.

Dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead) apontam que, em Belo Horizonte, os custos com empregados domésticos, impostos e refeições fora de casa lideram a lista de itens que contribuíram para a expansão do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2015.

A principal razão, segundo especialistas, foi a alta de preços registrada mês a mês em diferentes setores da economia, o que contribuiu para o acumulado de 10,48% nos 12 meses.

Em janeiro, por exemplo, as mensalidades escolares aumentaram em cerca de 15% na capital.

Até o mês de março, a energia elétrica acumulou alta de 38%. O preço médio do condomínio subiu 20,1%. A gasolina comum, chegou a aumentar 21,04%. As passagens de ônibus – que podem ser reajustadas novamente este ano – subiram 18,4% em Belo Horizonte.

“Observamos ao longo do ano que cada mês que teve um vilão, com recordes naquele período. O consumidor sente principalmente quando se fala em água e luz porque isso impacta tanto os custos das famílias quanto dos empresários, que tendem a repassar tudo para o preço final”, explica a coordenadora do Setor de Pesquisas do Ipead, Thaize Vieira Martins Moreira.

Desconfiança

As dúvidas sobre a condução da política monetária adotada pelo governo também contribuem para criar insegurança no mercado e, por consequência, elevar a inflação.

A taxa básica de juros (Selic) sofreu aumentos consecutivos e, hoje, apesar de estar no maior nível dos últimos nove anos (14,25%), não tem conseguido reduzir a inflação.

Para o professor de economia do Ibmec Reginaldo Nogueira, o governo errou ao segurar os preços de itens controlados por muito tempo e hoje, a desconfiança do mercado sobre o comportamento da economia torna a redução da inflação mais complexa.

Reputação

“O governo tinha expectativa de que os preços livres caíssem nesse contexto de recessão, o que faria com que o IPCA também começasse a cair. Porém, a reputação do Banco Central como defensor da moeda foi perdida nos últimos anos e os agentes do mercado não acreditam mais em um esforço conjunto do governo para reduzir a inflação”, avalia.

Para Nogueira, o atual contexto acaba gerando a chamada inflação por inércia, que acontece quando os preços em elevação impulsionam outros preços a subirem também.

“Hoje o empresário vê os custos aumentando e acredita que nenhum dos concorrentes vai abaixar preços. Ou seja, estão todos repassando custos porque não têm expectativas de que o Banco Central vá atuar para que a inflação caia”, completa.

Aplicações são alternativa para driblar a desvalorização

A inflação prejudica toda a população, mas, nesse contexto, os pobres são os que sentem os efeitos negativos de forma mais intensa. Naturalmente, com o crescimento generalizado dos preços, diminui a variedade de bens que esse grupo pode adquirir.

Porém, esse cenário também pode ser explicado pela falta de instrumentos dos mais pobres para fugir da inflação.

De acordo com o professor de economia da PUC Minas Ário Maro de Andrade, as aplicações financeiras são a saída mais comum para driblar a perda de poder de compra da moeda, porém só estão ao alcance da parcela da população que possui reservas disponíveis.

“Os mais abastados podem ainda investir em ações na Bolsa, mas são a minoria. Se a inflação se firmar na casa dos dois dígitos, algumas conquistas sociais dos últimos anos certamente serão perdidas”, explica Andrade.

Política

O contexto político conturbado é outro elemento que tem ajudado na disparada inflacionária. Sem saber ao certo quem vencerá a batalha disputada entre o governo e a oposição na Câmara dos Deputados, o mercado pode tender a continuar elevando preços para evitar possíveis perdas.

“A inflação de agora não é por causa de excesso monetário ou demanda elevada. Mas sim por causa das expectativas. Estamos em um ambiente econômico contaminado pelo ambiente político, o que amplia a crise na economia e, por sua vez, amplia a crise política. É como cachorro mordendo o próprio rabo”, completa Andrade.

Apesar do ciclo vicioso, um consenso entre especialistas é que não há indícios de que o país voltará a viver a hiperinflação da década de 1990. Desde a estabilização da moeda, a capacidade do Brasil de controlar o índice se tornou maior.

O que todos defendem é que, em um curto prazo, o ajuste fiscal precisa ser realizado. Nesse contexto, o corte de gastos do governo será indispensável para convencer o mercado de que o Banco Central é capaz de recuperar o controle da inflação.

OLHO: “O processo de desinflação será lento. Vamos sair da casa dos 10% em 2015 para chegarmos à casa dos 5% somente no final de 2017. Nesse intervalo, estamos diante do risco de um segundo rebaixamento das agências de risco. Além disso, caminhamos para 2016 sem uma LDO aprovada. Tudo isso coloca mais insegurança no mercado” (Reginaldo Nogueira - Professor de economia do Ibmec)







AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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