José Antônio Bicalho
São três as forças principais que
movem um processo de impeachment: o povo nas ruas, a hostilidade do Congresso e
a decadência da economia. Somente sobre a última variável a presidente Dilma
Rousseff possui alguma autonomia. Mas é onde está mais errando.
Quanto à primeira, vimos neste domingo
que o esvaziamento das manifestações pró-impeachment garantiu certo alívio à
presidente. Hoje, o movimento pró-impeachment não pode ser chamado de
‘movimento de massa’: não tem volume ou frequência.
Já o Congresso é um ninho de cobras,
mas ainda administrável. O PT é o segundo maior partido, com 60 deputados e 13
senadores. O PMDB, maior partido e fiel da balança, possui 66 deputados e 18
senadores. Apesar das rusgas entre a presidente e seu vice, e da fidelidade
questionável do PMDB, não nos esqueçamos que o partido ainda ocupa sete
ministérios.
Somados a estes os votos dos demais
partidos declaradamente contrários ao impeachment (Rede, Psol, PC do B, PDT e
PROS), não seria muito complicado chegar, hoje, aos 172 deputados necessários
para barrar a tentativa de apear a presidente do poder. O problema, então, está
naquela última variável: a expectativa de aprofundamento da crise econômica que
poderá incentivar as manifestações de rua e minar a boa vontade dos
congressistas com a presidente.
O boletim Focus (pesquisa
macroeconômica feita com agentes do mercado) divulgado nessa segunda pelo Banco
Central aponta para uma expectativa de aumento da inflação (IPCA em 10,61% ao
final deste ano) e contração maior da economia (queda do PIB de 3,62% em 2015).
E, o mais importante e grave, prevê um aumento da taxa básica de juro (Selic),
hoje em 14,25%, para 14,63% ao final de 2016.
A expectativa de aumento dos juros se
baseia nos sinais emitidos pelo próprio Comitê de Política Econômica do BC (o
Copom, responsável por definir a taxa Selic). Nessa toada, no próximo ano
teremos juro no teto, inflação nas nuvens e PIB no chão. Uma mistura
perigosíssima para um governo que está no córner e que dará à oposição a
energia que falta para tentar aplicar o nocaute.
Erro primário
Poderia ser diferente? Sim. O Copom
erra primariamente ao subir juros para frear uma inflação que, aos seus olhos,
tem origem no excesso de demanda. Não é isso que acontece numa economia em
franco recuo. Todos os setores da economia sentiram o baque da recessão.
Desemprego e queda na renda já exercem uma força de descompressão da demanda
muito superior à de qualquer aumento de juro.
A verdade é que a inflação não está
cedendo por conta da brutal desvalorização do câmbio (de mais de 50% neste ano)
e do realinhamento dos preços administrados. E, sobre estes, o aumento dos
juros ou a atuação do BC são inócuos. Seria muito melhor para o país que o BC
assumisse publicamente que teremos que enfrentar um período razoavelmente longo
de inflação alta, mas em desaceleração paulatina (os preços livres, como
vestuário e artigos de residência, já estão subindo bem abaixo do índice cheio
da inflação).
Isso não significaria ao Copom abrir
mão de suas atribuições, nem uma sinalização ao mercado de perda de controle da
política monetária. Desde que comunicado de maneira transparente, o adiamento
para depois do próximo ano da convergência da inflação ao centro da meta permitiria,
ao menos, a possibilidade de juros mais baixos e algum amparo para uma economia
em queda livre.
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