sexta-feira, 13 de novembro de 2015

SACO SEM FUNDO



  

Márcio Doti


Tanto faz se o PROS quer usar as suas prerrogativas de partido político e distribuir dinheiro para os seus filiados ou se decide comprar primeiro um bimotor e depois um helicóptero. Quer fazer desse veículo ágil uma forma de multiplicar as forças da legenda e assim ir crescendo como é o objetivo e a vontade de todas as agremiações políticas. O que continua entalado na garganta é esse fundo partidário e o impulso que tomou justamente neste ano que vamos vivendo. Em plena crise econômica, quando já se sabia da crise, do desemprego, da necessidade de enxugar os gastos, sobretudo da máquina pública, eis que decidem os nossos amados representantes simplesmente triplicar o dinheiro destinado a esse fundo. Eram R$289 milhões. Passou para R$ 867 milhões. E com o compromisso de ser preservado de qualquer corte e, mais que isto, a certeza de que no próximo ano terá considerável aumento. Enquanto os nossos políticos olharem para o dinheiro público como algo sem dono, sem limite, vindo de um saco sem fundo, será assim, o corporativismo se juntará à falta de compromisso com o interesse público e viveremos disparates como esse sem qualquer escrúpulo, sem qualquer receio.

Olha que pular de R$289 milhões para R$ 867 milhões é algo inadmissível em qualquer tempo, ainda mais em momentos de crise como esses em que brasileiros estão perdendo empregos, estão sofrendo redução de ganhos e com muita dificuldade para comprar os ítens essenciais para a casa e para a mesa.

Em meu entendimento, e penso que da maioria dos brasileiros, o primeiro passo na direção de um ajuste deveria vir mesmo dos partidos políticos que, antes de mais nada, deveriam ser a casa do interesse do povo, ainda que cada agremiação juntando à sua volta um determinado pensamento, uma forma de ver a evolução da sociedade brasileira, mas todos mirando o objetivo mais alto qual seja o interesse comum, o avanço da nação. A impressão que causa é como se ninguém estivesse acreditando nessa crise econômica, a não ser aqueles que já perderam seus empregos, tiveram suas atividades desaquecidas e estão sabendo pela boca de especialistas que isso é para valer e que vai durar um bom tempo.

Em boa hora, por sinal, veio a notícia de que o Ministério Público pretende cobrar do fundo partidário os prejuízos causados à Petrobras. É justo. Pois se os partidos são formados por gente que recebe mandato para representar e defender o povo, que dessas casas saia uma boa porção de dinheiro para cobrir o rombo produzido pela má representação, incompetente na fiscalização e no controle. O rombo é tão grande que o fundo não consegue pagar num único ano. Que seja parcelado.

Até nisso?

A busca de dinheiro é uma corrida ferrenha de nossos administradores públicos. Tomara que fosse para fazer melhor a vida dos brasileiros, mas quase nunca é assim. Agora, o Tribunal de Contas da União (TCU) teve que estabelecer um limite para os chamados “restos a pagar”. Trata-se de uma conta em que os administradores encaixam aquelas despesas de última hora e que ficam para serem pagas no ano seguinte. O normal é que representassem 3% do orçamento, mas deste ano estão ficando para 2016 nada menos do que 11% ou quase quatro vezes mais. Perdeu-se a noção de limites.

FRITURA DE MINISTRO



  

Orion Teixeira



Após a trégua política e aproximação com a oposição, o governo vem adotando uma “nova política econômica”, cuja primeira medida é a fritura lenta e gradual do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A simples troca de nome já representaria mudança de conteúdo à medida que o plano de uma nota só de Joaquim Levy, resumido ao ajuste fiscal e sem um plano B, que desagradava ao PT, agora, incomoda o PMDB, o empresariado e, por conta dele, o PSDB.

Levy erra ao passar um ano inteiro pregando no deserto de boa vontade do Congresso Nacional, onde a maioria rejeita aumento de carga tributária (nova CPMF) e cortes de gastos (limitação e corte de benefícios previdenciários e trabalhistas). Perdeu o duelo com o Congresso Nacional e, como não conseguiu provar sua tese nem reequilibrar os gastos públicos, queimou seu patrimônio junto ao mercado.

Diante do anti-consenso no qual se transformou, a queda do ministro não deverá provocar mais instabilidade. O dólar e as bolsas já estão preparados para o solavanco e veem na mudança mais uma oportunidade de ajuste das contas públicas, com ingrediente para a retomada do crescimento.

À confiança do empresariado, soma-se a indicação de um nome que pudesse conquistar maior apoio político, como o de Henrique Meirelles, um ex-tucano que trocou o mandato parlamentar e uma trajetória promissora na oposição para reforçar o governo Lula. Ficou lá por oito anos (presidência do Banco Central) e só saiu, exatamente, porque não gozava da confiança da presidente Dilma Rousseff.

Ele é o nome preferido do ex-presidente Lula para o cargo e, por onde anda, fala na maior desenvoltura, e publicamente, que não recebeu nenhum “convite concreto”. Como economia é mais exata do que a política, não é conveniente à presidente deixar seu ministro ao abandono, perdendo totalmente a credibilidade. Se tiver que mudar, que o faça logo, porque a manutenção da situação atual causará mais instabilidade à abalada situação econômica do país.
 
Dupla guinada tucana

Por conta de fortes pressões do mercado, os tucanos resolveram abrir janela de negociação com o governo sob o argumento de evitar a pauta-bomba, que imporia rombo de R$ 63 bilhões. A guinada na orientação política tucana aconteceu um dia depois que o PSDB rompeu com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), pressionando-o ainda para se afastar do comando da casa.

Fogueira das vaidades

Começou mal a Comissão Extraordinária das Barragens na Assembleia Legislativa. Depois de perder força, quando deixou ser CPI, ontem, deputados quase foram às vias de fato por uma vaga na comissão que deverá dar maior publicidade à ação parlamentar. Os deputados Fred Costa (PTN) e Agostinho Patrus (PV) se estranharam em plenário. Resultado, Fred ficou de fora, e a comissão cresceu para onze membros. Caberá ao seu presidente e relator, que serão escolhidos, na próxima segunda, entre os governistas, o controle dos trabalhos para que o grupo não se perca na fogueira das vaidades.

Onde está o meu salário?

Aos gritos de “onde está o meu salário?” – em alguns casos, há mais de três meses -, servidores protestam em frente da Prefeitura de Lavras e travam bate-boca com o prefeito Silva Costa Pereira. O prefeito culpa os antecessores e a baixa arrecadação pela falta de dinheiro.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE



  

Manoel Hygino

Acontecimentos possíveis, entregues à gestão dos homens e à decisão de Deus (embora neles muitos não acreditem), surgem sem cessar no cotidiano da humanidade. Embora se admita que barragens podem romper-se causando males terríveis ao meio ambiente (e o animal humano está inserido), não se esperava o rompimento das barragens do Fundão e Santarém, em Bento Rodrigues, este mês. Mariana, a sede do município, altiva e altaneira, acompanhou ao lado a tragédia. Seus fundadores souberam escolher local adequado para a primeira vila, cidade e capital de Minas, às margens do ribeirão do Carmo, salvando-a de catástrofes dessa espécie e dimensões.

Mas os homens se julgam mais sábios e ignoram as lições da natureza. A tecnologia equaciona, e resolve inúmeros problemas, mas não os elimina. Eles estão aí e nós, no centro. O que ocorreu no humilde povoado é uma demonstração da vulnerabilidade do homem e de suas construções.

Lembro, com Huascar Terra do Valle, um documento que, em 1854, o presidente Franklin Pierce, dos Estados Unidos, recebeu do cacique Seatlle, respondendo à proposta do governo de comprar as terras de seu povo. O chefe índio afirmou por escrito: “Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Esta ideia nos parece estranha. Se não somos donos do frescor do ar e do brilho da água, como poderíamos vendê-los?” A carta é longa e deixa questionamentos: “Somos partes da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o corvo, o cavalo, os bisões, a grande águia, são todos nossos irmãos. O potro e o homem, todos pertencem à mesma família”.

Será que o cacique, hoje nome de grande cidade, tivera conhecimento de São Francisco de Assis?

A terra não pertence ao homem. O homem pertence à terra. “Todas as coisas estão ligadas como o sangue de uma grande família. Há uma ligação em tudo. O que ocorre com a terra ocorrerá com os filhos da terra. O homem não teceu o tecido da vida. Ele é apenas um de seus fios. Tudo que fizer ao tecido fará a si mesmo”.

Terá acontecido na tranquila Bento Rodrigues uma comprovação da tese do cacique? Que lições extraímos do terrível desastre, pelo qual o homem se fez responsável, sob muitos aspectos, no penúltimo mês de 2015?

Não vale a pena ampliar mais o sofrimento dos que padecem, mas alertar para o que à frente, no espaço e no tempo, ainda nos ameaça. Sabemos que as tragédias, como as das imediações de Mariana, estendendo-se até o Atlântico, não têm horas contadas. O homem não aprendeu ainda a considerar o futuro em sua verdadeira dimensão. Seguimos violando noções elementares e caminhando para agravamento de situações.

Em João, “Apocalipse”, 8-26, está a advertência cruel: “Naqueles dias, os homens buscarão a morte, e não a acharão, e desejarão morrer, e a morte fugirá deles”.

Bilhões de pessoas que existem na terra precisam aprender a viver... e a sobreviver. A tragédia deste mês, com inúmeros e sucessivos atos no cenário inseguro em que estamos, é um veemente grito de alerta aos que habitam o planeta. Teríamos de ouvi-lo para evitar que novas catástrofes nos atinjam ou nos façam sucumbir.


1854 - Carta do Cacique Seattle ao Presidente Norte-americano

"O QUE OCORRER COM A TERRA,
RECAIRÁ SOBRE OS FILHOS DA TERRA.
HÁ UMA LIGAÇÃO EM TUDO"

NO ANO DE 1854, O PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS FEZ À UMA TRIBO INDÍGENA A PROPOSTA DE COMPRAR GRANDE PARTE DE SUAS TERRAS, OFERECENDO, EM CONTRAPARTIDA, A CONCESSÃO DE UMA OUTRA"RESERVA". O TEXTO DA RESPOSTA DO CHEFE SEATLE, DISTRIBUÍDO PELA ONU (PROGRAMA PARA O MEIO AMBIENTE) E AQUI PUBLICADO, TEM SIDO CONSIDERADO, ATRAVÉS DOS TEMPOS, COMO UM DOS MAIS BELOS E PROFUNDOS PRONUNCIAMENTOS JÁ FEITOS A RESPEITO DA DEFESA DO MEIO AMBIENTE.

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?

Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?

Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas.

Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sucos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem a mesma família.

Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra.

Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós. Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo.

O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos, e seus também. E, portanto,vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem a noite e extrai da terra aquilo que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa pra trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.

Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas a primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.

E o que resta da vida se um homem não pode ouvir um choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, a noite? eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.

O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebi seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.

Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.

Vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés, é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças, o que ensinamos as nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo que acontecer a terra, acontecerá aos seus filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.

Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence a terra.

Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.

Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a águia? Desapareceu.

É o final da vida e o início da sobrevivência.


AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...