segunda-feira, 19 de outubro de 2015

LOS ANGELES - USA



  

Stefan Salej


O brasileiro de classe média alta, que em geral pensa que os Estados Unidos são igual a Miami, ou a Florida, porque lá todo mundo fala portunhol e podia comprar apartamento barato para pagar em 30 anos, apostando que o real sempre valeria mais e agora está engasgado para pagar a dívida que não devia ter assumido, não sabe muito da Costa Leste dos Estado Unidos. The Golden State of California, onde acabou o ouro há muitos anos, é uma das economias mais ricas e dinâmicas do planeta. A Califórnia é, quando separada da economia dos Estados Unidos, a nona maior economia do mundo. É o estado mais rico dos Estados Unidos, com a renda per capita que passa dos 45 mil dólares anuais. E é pelo tamanho e população muito parecido com Minas.

O impressionante na economia da Califórnia é a sua composição. Maior produtor agrícola dos Estados Unidos, não só produz vinhos excelentes e laranjas, mas tudo o que a agricultura e a pecuária oferecem. Noventa mil fazendas produtivas! A indústria, além de Silicon Valley, cluster de indústria eletrônica e de software mundial, é outra parte de economia. Quem não conhece marcas famosas e não usa produtos concebidos e espalhados pelo mundo desde a Califórnia? A economia criativa (nome bonito que no Brasil de criativo tem mais é suporte do governo ) é outra área que produz resultados fantásticos para o estado. Cartazes na rua indicam que um filme que custa 70 milhões de dólares gera quase mil empregos diretos e mais de três mil indiretos. E muito dinheiro em impostos. Em resumo, uma economia diversificada de classe mundial.

Parte fundamental dessa economia é o sistema educacional. UCLA, Berkeley, Stanford, CALTEC, e mais e mais, são universidades excelentes e entre as melhores do mundo. Elas não são só centros de educação mas também de pesquisa, inseridos em um sistema de estreita ligação com a economia. Os professores ganham parte substancial do seu salário pelo que produzem junto com as empresas. Aliás, o sistema é válido em todo país. E os alunos começam as aulas às seis da manhã, estudam dia e noite e pagam caro pelo estudo. E o professor também é avaliado pelo sucesso dos alunos tanto em presença nas aulas como pelo desempenho. E aí, tem muito mais brasileiros participando, inclusive como professores bem-sucedidos, como o diretor da faculdade de odontologia da UCLA em Los Angeles.

Os problemas, por outro lado, em especial de água, de rigor com o meio ambiente e na área política, onde há forte influxo de dinheiro de fora do estado para influir nas eleições, existem. É um estado em permanente desenvolvimento, onde todos andam nas seis pistas de estradas modernas mas há uma pista de alta velocidade, livre para os carros com mais de dois passageiros. E 50% de todos os carros elétricos dos Estados Unidos estão na Califórnia.

Muito se pode aprender aqui e aplicar em Minas. Mas, para se aprender é preciso ter conhecimento. E pelas andanças de nossos políticos pela Europa e da classe alta mineira por Miami, o nosso aprendizado ficará restrito ao nosso nível de poder aprender. E Califórnia está fora desses limites. Lamentavelmente. Mas, não para todos.

EMPREENDEDORISMO 6



EMPREENDEDORISMO 6

TEXTOS DO LIVRO – O NEGÓCIO DO SÉCULO XXI  – DE ROBERT T. KIYOSAKI




Um negócio duplicável, totalmente escalável Aqui está uma verdade crítica sobre o marketing de rede que pode surpreendê-lo: não é um negócio para aqueles que são especialistas em vendas.
Para um “vendedor nato” obter sucesso em marketing de rede, muitas vezes a primeira coisa que tem de fazer é esquecer tudo o que sabe sobre vendas.
O marketing de rede trata do compartilhamento de informação e de histórias pessoais, e não de vendas pesadas. É também sobre se importar com o sucesso daqueles que você traz para o negócio. O que é uma coisa boa, por sinal, porque, de qualquer maneira, apenas 1 pessoa em 20 é um vendedor nato.
A chave do sucesso em vendas é o que você tem condições de fazer. A chave do sucesso no marketing de rede é o que você pode duplicar.
 É esse fator de duplicação que, na verdade, mostra drasticamente a enorme diferença entre vendas e marketing da rede. Aqui está o que eu diria a essa pessoa: “Se você é um vendedor incrível, superstar, singularmente qualificado,  então pode se dar muito bem em vendas e são boas as chances de que se dê mal em marketing de rede. ”Por quê? Porque, ainda que você possa vender muito, a maioria das pessoas na sua rede não será capaz de duplicar o que você faz. Consequentemente, sua rede não pode crescer e acaba morrendo precocemente.
Costumo ver pessoas criativas e talentosas que começam no marketing de rede e dão com os burros n’água porque pensam que o caminho para ser bem-sucedido é utilizar sua criatividade, talento e habilidades únicas para ser o máximo. Mas não é uma questão do que você pode fazer; é o que você pode e, então, o que os outros também podem fazer.
A capacidade para duplicar é a chave mágica aqui, não a capacidade de ser um vendedor de elite. Quando empresas de marketing de rede não conseguem tornar isso bem claro, prejudicam a própria capacidade de continuamente desenvolver e dinamizar seu motor de crescimento: as pessoas que se duplicam.
Mais uma vez, o que dá a seu negócio de marketing de rede o poder real não é o que você pode fazer, é o que pode duplicar. Em outras palavras, você quer construir seu negócio de uma forma que praticamente qualquer outra pessoa pode facilmente copiar. Por quê? Porque outros copiando o que você faz é exatamente o que você quer que aconteça – o que você precisa que aconteça. Isso é o que cria seu sucesso.
Se você realmente não tem de ser um vendedor de elite e não tem de ser um orador ou apresentador profissional, o que você faz? Por que a empresa ainda precisa de você?”
Você cria a rede. É por isso que é chamado de marketing de rede, e é por isso que a empresa precisa de você e é por isso que lhe pagam. Como um participante da rede, a descrição do seu trabalho, por assim dizer, é se conectar com as pessoas, convidando-as a experimentar os produtos sobre os quais você está animado e a darem uma olhada nas informações que você tem; depois basta acompanhar os resultados. Então, uma vez que elas decidem participar, você compartilha com elas seu entusiasmo, suas experiências, e as ajuda a fazer o que você aprendeu a fazer. Aqui, de novo, há ferramentas digitais que podem retirar de seus ombros uma quantidade enorme da carga de treinamento e especialização. Seu trabalho é construir relacionamentos, conversar, explorar possibilidades, relacionar-se com as pessoas e ajudá-las a entender do que se trata esse negócio.
Portanto, há partes desse negócio que uma ferramenta pode fazer melhor do que você: a apresentação e, até certo ponto, o treinamento. E há partes que só você pode fazer de forma excepcional, e essa é a parte de conexão humana.
Aqui está a ideia central: em termos de marketing de rede, você é o mensageiro, não a mensagem.
Longe se vão os dias de carregar consigo uma mala pesada de produtos para amostra, estabelecer uma loja de varejo em sua sala de estar ou ter de memorizar longas listas de características do produto e de estatísticas financeiras. Este é o século XXI. No marketing de redes atual, as ferramentas fazem isso tudo. Seu trabalho é conectar e convidar. Porém, a propósito, isso não significa que você não precise ser qualificado. Definitivamente, precisa. Você precisa desenvolver as suas habilidades a capacidade de ter autoconfiança, suportar a rejeição, comunicar-se, ser um grande contador de histórias, importar-se com as pessoas, ser um bom coach e todo o resto.Mas essas são habilidades disponíveis a qualquer pessoa. Pouquíssimas pessoas são verdadeiramente hábeis em vendas. Mas praticamente qualquer um pode se tornar hábil em networking, treinamento e formação de equipe. O que significa que esse negócio está aberto para ser negociado por centenas de milhões de pares, já que você tem um negócio prontamente duplicável, totalmente escalável. Quando você chegar a cinco pessoas e depois a 50, terá dominado as habilidades básicas que o levarão a crescer para 500, 5 mil e mais além. O que nos leva à liderança.
Descobri que os grandes líderes não eram pessoas duronas que gritavam e esperneavam ou que se mostravam fisicamente abusivas. No calor da batalha, descobri que líderes valentes e poderosos eram muitas vezes silenciosos, mas, quando eles falavam, falavam para nossas almas e nossos espíritos.
Todos os grandes líderes foram grandes contadores de histórias capazes de comunicar sua visão de tal forma vívida que outros também a viram. Olhe para Jesus Cristo, Buda, Madre Teresa, Gandhi, Maomé. Todos eles foram grandes líderes, o que significa que foram grandes contadores de histórias.
Dinheiro não vai para o negócio com os melhores produtos ou serviços. Dinheiro flui para o negócio que conta com os melhores líderes.
As habilidades de liderança que você precisa desenvolver para o quadrante D são muito diferentes da capacidade de gestão que, na maioria das vezes, é necessária para os quadrantes E e A. Não me interpretem mal: habilidades de gestão são importantes, mas há uma grande diferença entre gestão de competências e habilidades de liderança. Gerentes não são necessariamente líderes, e líderes não são necessariamente gestores.
Encontro muitas pessoas no quadrante A, especialistas ou proprietários de pequenas empresas, que gostariam de expandir seus negócios, mas não podem, por um motivo: eles não têm habilidades de liderança. Ninguém quer segui-los. Seus empregados não confiam neles, não são inspirados por eles.
Encontrei muitos gerentes de nível médio que não conseguem subir a escada corporativa porque não conseguem se comunicar com os outros. O mundo está cheio de pessoas solitárias que não conseguem encontrar o homem ou a mulher de seus sonhos porque não conseguem comunicar que são boas pessoas.
A comunicação afeta todos os aspectos da vida – e esta é a principal habilidade que o marketing de rede ensina.
Os líderes de marketing de rede às vezes se descrevem como “contadores de histórias muito bem pagos”. Na verdade, eles estão entre os contadores de histórias mais bem pagos, e há uma razão muito simples para isso: eles estão entre os melhores contadores de histórias.
Quando comecei a frequentar os treinamentos de marketing de redes, encontrei proprietários de empresas altamente bem-sucedidos, do mundo real, que haviam começado seus negócios a partir do zero. Muitos foram grandes professores porque eles estavam ensinando a partir da experiência, e não da teoria. Sentado nos auditórios dos seminários de negócios, muitas vezes me peguei balançando a cabeça positivamente, concordando com suas conversas sem rodeios sobre o que é preciso fazer para sobreviver nas vielas do mundo real dos negócios.

Depois dos seminários, muitas vezes eu ia conversar com os instrutores. Fiquei espantado com a quantidade de dinheiro que eles faziam, não apenas com os próprios negócios, mas também com investimentos. Vários ganhavam mais do que muitos CEOs da elite corporativa.
No entanto, havia algo mais nesses professores que me deixou ainda mais mpressionado. Embora eles fossem ricos e certamente não precisassem estar à frente desses eventos, tinham paixão por ensinar e ajudar seus pares.
Comecei a perceber que uma empresa de marketing de rede se baseia nos líderes erguendo as pessoas, enquanto um negócio de empresas tradicionais ou do governo se baseia em promover alguns apenas, mantendo a massa de trabalhadores satisfeita com um salário fixo. Estes instrutores no mundo do marketing de rede não saem dizendo: “Se você não produzir, perderá o emprego.” Em vez disso, dizem: “Deixe-me ajudá-lo a fazer cada vez melhor. Enquanto você quiser aprender, estarei aqui para lhe ensinar. Estamos no mesmo barco.”
Muitas pessoas têm qualidades intrínsecas de liderança, mas essas qualidades nunca são externalizadas. Elas nunca têm a oportunidade. Meu Pai Rico entendia isso.
O marketing de rede tende a desenvolver o tipo de líder que influencia outros a serem grandes professores, ensinando a realizarem os sonhos de sua vida.
O marketing de rede tende a desenvolver o tipo de líder que influencia outros a serem grandes professores, ensinando a realizarem os sonhos de sua vida.
Em vez de vencer o inimigo ou derrotar a concorrência, a maioria dos líderes do marketing de rede inspira e ensina a encontrar a recompensa financeira que este mundo oferece, sem causar danos a outros.
A oportunidade de desenvolver a capacidade de liderar é um valor intrínseco exclusivo do marketing de rede. Claro, você poderia aprender sobre liderança em qualquer outro campo. Os militares, o governo, a vida corporativa, cada esfera da vida produz lideranças, mas não muitas. A verdadeira liderança é extremamente rara – exceto no marketing de rede.
O que é peculiar no marketing de rede é que ele combina com uma ampla estrutura de remuneração a uma quantidade de pessoas composta por 100% dos voluntários.
Você não vai encontrar um único distribuidor de marketing de rede que bata ponto em relógio ou que tenha de aparecer para trabalhar. Como representantes independentes, ninguém é contratado ou despedido – todos estão ali voluntariamente. Ninguém pode dizer o que fazer, ninguém pode dar ordens.
Então, por que funciona? Qual é o motor que impulsiona essa máquina? A resposta vem em uma única palavra: liderança. E a liderança que você desenvolve no seu negócio de marketing de rede aparecerá em todas as outras esferas de sua vida.
As escolas tradicionais o treinam para ser um bom funcionário. Elas focam em uma coisa só: sua capacidade mental. Se você pode resolver equações e se sair bem nos testes, então é considerado inteligente o suficiente para gerir uma empresa. Isso é ridículo.
A razão para eu ser um empresário bem-sucedido hoje é o treinamento que recebi dos Fuzileiros Navais. A escola militar prepara você para ser um grande líder, concentrando-se não apenas em sua mente, mas também em seu emocional, em suas habilidades físicas e espirituais. Eles ensinam como operar sob extrema pressão.
Tive inteligência para pilotar um helicóptero no Vietnã, mas nunca teria conseguido sobreviver sem o desenvolvimento de minha espiritualidade. Se isso não tivesse sido forte, então o medo (emoção) teria se estabelecido, e eu provavelmente teria congelado (físico) no controle do helicóptero armado.
Ter estes quatro elementos – mental, emocional, físico e espiritual – trabalhando em harmonia me ajudou a completar minhas missões. Isso também me deu o conhecimento e a compreensão necessários para ser um bom líder no mundo dos negócios, porque estes são exatamente os mesmos quatro elementos de liderança necessários para ser bem-sucedido no empreendedorismo – mente, espírito, corpo e emoções
Se você não consegue controlar esses quatro aspectos de si mesmo, então irá falhar. E se não é capaz de ajudar seus empregados a desenvolver esses quatro elementos e, ao fazê-lo, ajudá-los a se tornarem líderes eficazes, então você irá falhar. É simples assim. Aqui está outra coisa que as escolas militares ensinam: estar na linha de frente significa não se importar com o fato de você ser ou não apreciado. Claro, todos nós queremos ser amados, mas, para ser um grande líder, você tem de estabelecer limites, monitorar o comportamento do pessoal e tomar ações corretivas quando necessário. Às vezes, você vai advertir as pessoas. Sim, isso vai acontecer – não há um meio de contornar isso. Mas veja o que também vai acontecer: você criará o melhor time possível, um que entende o que você espera, e o que vai ou não tolerar.

CONTINUA 


domingo, 18 de outubro de 2015

ACORDO NEFASTO



  

Márcio Doti


Caso seja concretizado, o acordo entre a presidente Dilma e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vai configurar um indiscutível e indisfarçável símbolo da desonra nacional. A presidente, rendida diante dos escombros que produziu com a sua incapacidade para governar, a sua inabilidade política, sua teimosia e a comprovada tendência para a mentira nos palanques, está posta diante de uma economia destruída, um dilema entre seguir seu pai político e abrir torneiras de dinheiro para, de novo, fazer de conta que resolve a questão dos mais pobres e desse modo faz desmoronar as poucas chances de praticar austeridade e recompor o quadro da economia. Uma presidente em situação tão delicada e ainda posta diante da possibilidade de ter seu impeachment votado, de ter as suas contas rejeitadas pelo plenário do Congresso, é alguém colocada diante de um personagem que já mostrou ser ardiloso e competente malabarista político. O presidente da Câmara, que por sua vez está próximo a uma grave ameaça, mentiu perante a comissão parlamentar negando que tivesse dinheiro no exterior, mas foi recentemente posto diante das comprovações levantadas pelo Ministério Público da Suíça, que apurou contas no valor de quase U$ 2 milhões em seu nome e de sua esposa. Primeiro a mentira, depois a origem do dinheiro que vem das tramoias praticadas com dinheiro da Petrobras, segundo apurações da Polícia Federal, na Operação Lava Jato.


A BAIXEZA NAS ALTURAS

São, portanto, duas figuras que ocupam cargos mais elevados da República. A presidente e seu substituto, na falta do vice. Ambos em situações delicadas, graves e incontestáveis. A rigor, não há acordo que possa ser aceito como algo praticável por uma sociedade que seja, de fato, organizada, que seja séria, que esteja trilhando o caminho do bem e que rejeite a qualquer custo o caminho do banditismo, do ilegal, do inconfessável, intolerável e inadmissível.

Tomara não estejamos vivendo à véspera de algo tão sórdido, tão baixo e tão sujo. Sabemos que o Brasil chegou às raias do absurdo, que está vivendo os piores de seus dias, por mais que surjam sempre os apaziguadores e os que se oferecem para minimizar com lembranças e exemplos do passado que por mais frequentados por erros, por errados, por outros escândalos, jamais viveu algo tão tenebroso e inaceitável.

O Brasil dos nossos dias, vivido por nós, patrocinado por nós, está numa encruzilhada cuja direção certa não é questão de escolha, é questão moral e só pode ser uma: a que rejeite tudo que aí está de acordos, de malfeitos, de malfeitores e tome a direção dos consertos e acertos para que possa seguir em frente: readquirir em primeiro lugar o respeito dos próprios brasileiros e em seguida o respeito do resto do mundo. Soerguer o país, trabalhar pela reconstrução, senão em nome e para o bem de nós mesmos, mas principalmente para as gerações do futuro, aquelas que certamente viverão ainda os sacrifícios e as consequências de tudo errado e do mal que se fez agora e que se fez também ontem e anteontem. Os brasileiros precisam acordar e se distanciar de dois grupos distintos: dos anestesiados, que parece nada enxergar e vão em frente como se estivéssemos caminhando pela melhor das vias, e aqueles que mesmo sabendo o quanto estão errados e próximos do precipício, bradam e incitam como se, ao menos, estivessem convictos. Momento difícil. Estratégico. Tristemente histórico se não prevalecer a lucidez.

sábado, 17 de outubro de 2015

IMPEACHMENT



  

Júlio Delgado




A possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional provocou turbulências inevitáveis no ambiente político brasileiro nas últimas semanas. E embora ela ainda esteja restrita ao campo do provável, a tentativa de deposição da mandatária do poder Executivo gerou um confronto entre forças antagônicas da sociedade que pode ser perigoso para o futuro do país. Excessivamente contaminado pelo discurso ideológico, o debate está colocando em segundo plano as normas constitucionais e contagiando a opinião pública com ideias sustentadas basicamente nas cores partidárias. Ao invés de esclarecer, ele confunde o cidadão, acirra os ânimos e pode causar traumas difíceis de serem superados.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes definiu bem a situação da presidente em manifestação registrada pela imprensa esta semana. Para ele, “ninguém se mantém no cargo com liminar do STF. Isso depende de legitimação democrática”. O ministro está correto. Dilma Rousseff perdeu grande parte de sua sustentação política e essa fragilidade é reflexo da insatisfação popular. Seu governo cometeu erros graves na gestão dos recursos e dos interesses nacionais, comprometeu a qualidade de vida das pessoas e colecionou impopularidade.

Motivos não faltam para sugerir que a presidente cometeu crime de responsabilidade e, dessa forma, pedir o fim de seu mandato. Das pedaladas fiscais, passando pelas suspeitas de financiamento ilícito de sua última campanha, até chegar a um possível envolvimento do governo na corrupção instalada em empresas estatais, tudo indica que Dilma Rousseff rasgou a Constituição Brasileira e, consequentemente, perdeu legitimidade.

Itamar Franco

O descontentamento, entretanto, não pode ser a única razão para derrubar a presidente. As regras democráticas devem ser respeitadas incondicionalmente, e um eventual impeachment não pode deixar dúvidas sobre sua legalidade. Caso contrário, os conflitos vão manter o país paralisado por mais tempo, e a credibilidade do Brasil será novamente afetada.

Quando Itamar Franco assumiu a Presidência da República em dezembro de 1992, em substituição ao deposto Fernando Collor, a estabilidade política foi fundamental para o país enfrentar a crise e estabelecer as bases de um novo ciclo de desenvolvimento. Daquele movimento surgiram o Plano Real e a prosperidade experimentada pelo governo Lula, em uma sequência viável principalmente porque o Brasil soube mostrar obediência aos seus princípios democráticos e gerar relações saudáveis no espaço político.

Esse mesmo caminho deve ser construído agora. Independentemente do desfecho da forte mobilização a favor do encerramento do governo petista, as normas legais devem estar acima dos argumentos ideológicos. O que está em jogo não são os interesses particulares e o futuro dos agentes políticos que protagonizam essa batalha. Está em discussão a administração do patrimônio de 200 milhões de brasileiros. São milhões de motivos que temos para conduzir esse processo com extrema transparência e seriedade
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*Júlio Delgado (PSB-MG), deputado federal.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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