Orion Teixeira
Sem um envolvimento direto com a
corrupção e malfeitos, a não ser a má gestão das contas públicas e a flagrante
inabilidade política, a presidente Dilma Rousseff (PT) está pagando a conta
sozinha pela falência de um sistema que tem como responsável, em primeiro
lugar, toda a classe política. A oposição sabe de tudo isso, mas lhe é
conveniente apostar no quanto pior.
Volta e meia, leitores perguntam se já houve crise como essa na história brasileira. É claro que tivemos situações tão ou mais graves, como, por exemplo, o esvaziamento do Governo Vargas que o levou ao suicídio (1954), o golpe militar baixando o estado de exceção (1964) e o impeachment de Collor (1992). Enfim, não faltam situações nas quais a de hoje pode ser comparada e medida.
Todas as outras tiveram grave desfecho, o que não quer dizer que a de agora chegará a isso. Há crença de que existe luz no fim do túnel, admitida pela própria presidente, mas não parece que ela já a tenha visto. Pelo rumo das coisas, Dilma vai pagando a conta de que teria cometido grave crime, que, na falta do contraponto, a levará ao desenlace semelhante ao de seus antecessores das crises citadas.
Tudo somado, pedaladas fiscais, corrupção na Petrobras, suspeita de dinheiro ilícito em campanha de reeleição, entre outros, nenhum deles ainda é suficiente para a pena capital (impeachment), como também, por estarem inconclusos, não são mais graves do que a principal crise do governo Dilma, que é a econômica. Por conta da credibilidade e governabilidade perdidas, em função das primeiras, Dilma não tem meios de enfrentar a econômica, em resumo, de governar. O conjunto dessa obra deixa a sensação de fim de mandato e de irreversibilidade da tragédia anunciada.
Não é só isso. Deixando o Palácio do Planalto, atravessando a Praça dos Três Poderes, chega-se à sede de outro poder da República, o Congresso Nacional, onde seus chefes estão igualmente em xeque e por razões menos republicanas. Acusado de receber propina no esquema da Petrobras, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), está perto de virar réu no Supremo Tribunal Federal, sede do terceiro poder. No prefácio de seu processo, aparecem contas secretas no exterior, movimentando milhões de francos.
<CW35>Na outra casa do mesmo Congresso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), está poupado por enquanto, mas é alvo de investigação. Dos 513 deputados federais e 81 senadores, boa parte é investigada. Afinal, que país é este? Terá o Congresso Nacional condições políticas e morais de abrir o processo contra a presidente da República? O pior é que pode. Em Brasília, e em política, tudo é possível; só não fizeram ainda boi voar, como dizem os políticos mais realistas.
Batalha começa na terça-feira
Um dia após o feriadão, começa na próxima terça-feira a primeira das batalhas visando abertura de impeachment contra Dilma. Eduardo Cunha deverá analisar o pedido. A tendência é que o rejeite, dando à oposição o recurso para levá-lo ao plenário. Se o governo não mantiver sua base de plantão, o processo poderá andar. Além de vigiar, o governo terá que usar a caneta, pagando emendas e nomeando afilhados dos aliados para cargos de segundo escalão. Ou dá ou desce.
Volta e meia, leitores perguntam se já houve crise como essa na história brasileira. É claro que tivemos situações tão ou mais graves, como, por exemplo, o esvaziamento do Governo Vargas que o levou ao suicídio (1954), o golpe militar baixando o estado de exceção (1964) e o impeachment de Collor (1992). Enfim, não faltam situações nas quais a de hoje pode ser comparada e medida.
Todas as outras tiveram grave desfecho, o que não quer dizer que a de agora chegará a isso. Há crença de que existe luz no fim do túnel, admitida pela própria presidente, mas não parece que ela já a tenha visto. Pelo rumo das coisas, Dilma vai pagando a conta de que teria cometido grave crime, que, na falta do contraponto, a levará ao desenlace semelhante ao de seus antecessores das crises citadas.
Tudo somado, pedaladas fiscais, corrupção na Petrobras, suspeita de dinheiro ilícito em campanha de reeleição, entre outros, nenhum deles ainda é suficiente para a pena capital (impeachment), como também, por estarem inconclusos, não são mais graves do que a principal crise do governo Dilma, que é a econômica. Por conta da credibilidade e governabilidade perdidas, em função das primeiras, Dilma não tem meios de enfrentar a econômica, em resumo, de governar. O conjunto dessa obra deixa a sensação de fim de mandato e de irreversibilidade da tragédia anunciada.
Não é só isso. Deixando o Palácio do Planalto, atravessando a Praça dos Três Poderes, chega-se à sede de outro poder da República, o Congresso Nacional, onde seus chefes estão igualmente em xeque e por razões menos republicanas. Acusado de receber propina no esquema da Petrobras, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), está perto de virar réu no Supremo Tribunal Federal, sede do terceiro poder. No prefácio de seu processo, aparecem contas secretas no exterior, movimentando milhões de francos.
<CW35>Na outra casa do mesmo Congresso, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), está poupado por enquanto, mas é alvo de investigação. Dos 513 deputados federais e 81 senadores, boa parte é investigada. Afinal, que país é este? Terá o Congresso Nacional condições políticas e morais de abrir o processo contra a presidente da República? O pior é que pode. Em Brasília, e em política, tudo é possível; só não fizeram ainda boi voar, como dizem os políticos mais realistas.
Batalha começa na terça-feira
Um dia após o feriadão, começa na próxima terça-feira a primeira das batalhas visando abertura de impeachment contra Dilma. Eduardo Cunha deverá analisar o pedido. A tendência é que o rejeite, dando à oposição o recurso para levá-lo ao plenário. Se o governo não mantiver sua base de plantão, o processo poderá andar. Além de vigiar, o governo terá que usar a caneta, pagando emendas e nomeando afilhados dos aliados para cargos de segundo escalão. Ou dá ou desce.