Paulo Haddad
A história da economia brasileira no
século XX foi predominantemente uma história de crescimento econômico
acelerado. De 1948 a 1980, tivemos trinta e três anos de crescimento do PIB a
uma taxa média de 7,5 por cento ao ano. Mesmo considerando que as duas últimas
décadas foram de relativa estagnação da economia brasileira, a nossa
experiência histórica sinaliza para grandes possibilidades de se configurarem
novos ciclos de expansão do país. Há vários motivos para um otimismo realista.
Em primeiro lugar, o Brasil dispõe de
uma base de recursos naturais renováveis e não renováveis ampla e diversificada
que lhe dá vantagens comparativas internacionais para um processo de
crescimento acelerado. O país passa a ter um componente diferenciado para
alcançar vantagens competitivas dinâmicas pela adição de valor econômico aos
materiais brutos de primeiro processamento.
Quando se contabilizam a biodiversidade
da Amazônia, a riqueza de nossas bacias hidrográficas, a fertilidade dos solos
do cerrado para a produção de proteína animal e vegetal, o aproveitamento das
várzeas irrigáveis, as reservas de minerais estratégicos etc., não se pode
deixar de destacar o quanto a base de recursos naturais do Brasil pode impactar
as suas potencialidades de crescimento econômico, desde que esses recursos
sejam explorados segundo as regras da sustentabilidade ambiental.
Em segundo lugar, o nível de
desenvolvimento das instituições políticas e das organizações econômicas
atingiu um patamar no Brasil que favorece a formação de ciclos de expansão a
partir de forças endógenas. Para ser competitivo globalmente, um país precisa
dispor de fatores produtivos não tradicionais, tais como: centros de pesquisa,
ambiente cultural multifacetado, recursos humanos bem formados e informados,
instituições governamentais flexíveis etc. Os ciclos de expansão contemporâneos
são intensivos de informação e conhecimento, com os seus novos produtos, novos
processos de produção e novas técnicas de gestão.
Da mesma forma, a mudança do papel do
Estado na economia tem aberto melhores condições institucionais e oportunidades
de novos ciclos de crescimento no Brasil. A reforma do Estado, embora lenta e
intermitente por indefinições ideológicas, vem tornando a economia brasileira
mais aberta, menos regulamentada, mais privatizada e, portanto, mais propensa
ao crescimento sustentado.
Finalmente, há um pressuposto de que,
nos novos ciclos de expansão da economia brasileira, caberá à iniciativa
privada o papel mais relevante no processo de conceber e de implementar os
projetos de investimento, tanto em setores de infraestrutura econômica em
regime de concessões ou de parcerias público-privado.
Esses e outros fatores que podem
acelerar o crescimento econômico do Brasil, não terão sucesso enquanto não
forem superados alguns problemas político-institucionais que se agigantaram nos
últimos anos. É preciso reconstruir um novo sistema tributário. É preciso
equacionar a sustentabilidade financeira da Previdência Social. É preciso
integrar os setores produtivos nacionais às cadeias produtivas mais dinâmicas
globalmente. É preciso preservar, conservar e reabilitar os nossos
ecossistemas. É preciso controlar a epidemia de corrupção administrativa que
contaminou os três níveis de governo. Mas é preciso, antes de tudo, lembrar que
o tempo de grandes mudanças e transformações não para.