segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A POLITICAGEM IMPEDE O CRESCIMENTO DO BRASIL



  

Paulo Haddad




A história da economia brasileira no século XX foi predominantemente uma história de crescimento econômico acelerado. De 1948 a 1980, tivemos trinta e três anos de crescimento do PIB a uma taxa média de 7,5 por cento ao ano. Mesmo considerando que as duas últimas décadas foram de relativa estagnação da economia brasileira, a nossa experiência histórica sinaliza para grandes possibilidades de se configurarem novos ciclos de expansão do país. Há vários motivos para um otimismo realista.
Em primeiro lugar, o Brasil dispõe de uma base de recursos naturais renováveis e não renováveis ampla e diversificada que lhe dá vantagens comparativas internacionais para um processo de crescimento acelerado. O país passa a ter um componente diferenciado para alcançar vantagens competitivas dinâmicas pela adição de valor econômico aos materiais brutos de primeiro processamento.
Quando se contabilizam a biodiversidade da Amazônia, a riqueza de nossas bacias hidrográficas, a fertilidade dos solos do cerrado para a produção de proteína animal e vegetal, o aproveitamento das várzeas irrigáveis, as reservas de minerais estratégicos etc., não se pode deixar de destacar o quanto a base de recursos naturais do Brasil pode impactar as suas potencialidades de crescimento econômico, desde que esses recursos sejam explorados segundo as regras da sustentabilidade ambiental.
Em segundo lugar, o nível de desenvolvimento das instituições políticas e das organizações econômicas atingiu um patamar no Brasil que favorece a formação de ciclos de expansão a partir de forças endógenas. Para ser competitivo globalmente, um país precisa dispor de fatores produtivos não tradicionais, tais como: centros de pesquisa, ambiente cultural multifacetado, recursos humanos bem formados e informados, instituições governamentais flexíveis etc. Os ciclos de expansão contemporâneos são intensivos de informação e conhecimento, com os seus novos produtos, novos processos de produção e novas técnicas de gestão.
Da mesma forma, a mudança do papel do Estado na economia tem aberto melhores condições institucionais e oportunidades de novos ciclos de crescimento no Brasil. A reforma do Estado, embora lenta e intermitente por indefinições ideológicas, vem tornando a economia brasileira mais aberta, menos regulamentada, mais privatizada e, portanto, mais propensa ao crescimento sustentado.
Finalmente, há um pressuposto de que, nos novos ciclos de expansão da economia brasileira, caberá à iniciativa privada o papel mais relevante no processo de conceber e de implementar os projetos de investimento, tanto em setores de infraestrutura econômica em regime de concessões ou de parcerias público-privado.
Esses e outros fatores que podem acelerar o crescimento econômico do Brasil, não terão sucesso enquanto não forem superados alguns problemas político-institucionais que se agigantaram nos últimos anos. É preciso reconstruir um novo sistema tributário. É preciso equacionar a sustentabilidade financeira da Previdência Social. É preciso integrar os setores produtivos nacionais às cadeias produtivas mais dinâmicas globalmente. É preciso preservar, conservar e reabilitar os nossos ecossistemas. É preciso controlar a epidemia de corrupção administrativa que contaminou os três níveis de governo. Mas é preciso, antes de tudo, lembrar que o tempo de grandes mudanças e transformações não para.

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