Ricardo Galuppo
Se tudo estivesse indo às mil
maravilhas, a presidente Dilma Rousseff não precisaria ter se dado ao trabalho
de eliminar alguns ministérios nem ter passado pelo desgaste de substituir
auxiliares até outro dia considerados essenciais. Isso é óbvio. Mas, diante do
cenário de fim de feira que tomava conta de uma administração que ainda não
completou um ano de vida, a reforma se impôs e foi definida pelo apetite de
“aliados” que, se não recebessem os afagos exigidos em suas birras, insistiriam
nas pirraças até tornar o ar irrespirável.
As causas da reforma, à primeira
vista, foram essas. E as consequências? Bem... Nas avaliações mais otimistas, a
mexida no ministério espantaria três coelhos com uma cajadada só. Em primeiro
lugar, silenciaria os críticos ao reduzir de 39 para 31 a quantidade de pastas
e, ainda por cima, eliminar cargos e reduzir os salários da presidente e de
seus ministros. Na sequência, acalmaria os “aliados” mais inquietos ao entregar
cadeiras estratégicas (e com orçamentos gordos) a acólitos dos mandachuvas do
Congresso. Tudo isso cortaria as asas daqueles que exigiam a cabeça de Dilma e
afastaria o risco de impeachment. Simples, não?
A crise necessária
Nada disso. A expectativa que o
próprio governo criou em torno da reforma foi tanta que as mudanças anunciadas
na sexta-feira passada parecem tímidas e insuficientes. Logo, logo, a crise que
se tentou extinguir com a dança das cadeiras na Esplanada ressurgirá com toda
força. Isso mesmo: crise é parte integrante (e até necessária) do modelo de
partição de cargos desenhado e é até hoje administrado pelo ex-presidente Lula
e que poderia ter como lema algo como “governo unido é governo dividido”. Por
esse modelo, o governo só é capaz de se relacionar com os senadores e deputados
se houver, senão uma crise grave, um clima de tensão permanente no ar.
Vaga em ministério deixou de ser uma
escolha estratégica para se transformar em um objeto de barganha ao alcance de
qualquer político que se disponha a dar uma mãozinha ao governo. Tornou-se o
brinquedinho que, acenado na frente da criança birrenta: faz com que ela pare
de resmungar e se comporte. É prêmio mas pode ser, também, punição. Se o menino
não ficar dócil, vai para o castigo e tem a mesada cortada. Simples assim.
Da mão para a boca
Esse modelo, concebido para atender
interesses imediatos, funciona da mão para a boca. Pode garantir a vitória do
governo numa votação marcada para a semana que vem, na aprovação do orçamento
ou na criação de um novo imposto. Mas é extremamente ineficaz quando se observa
a verdadeira função de um ministério: sua ação em benefício da saúde do Estado
e do futuro do país.
Diante de tudo isso, as escolhas e as
substituições anunciadas por Dilma na semana passada, somadas aos nomes que já
estavam e permanecerão na Esplanada, formam aquela que é, sem dúvida, a mais
medíocre equipe de ministros já reunida no Brasil desde 1822. Alguns dos que
estão lá, é bem verdade, não comprometem. Bem assessorados, podem até fazer o
seu trabalho sem que sobre eles pese a suspeita de estar no cargo apenas para
atender interesses rasteiros e suspeitos. Mas quando se olha para o conjunto da
obra e para o ministério que resultou da reforma, a única conclusão possível é:
o que já era ruim ficou pior.
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