Petrobras - Empresa de
Quem?
Atualmente, o setor
petrolífero é o mercado que mais desperta interesses e disputas internacionais,
com olhos nas possibilidades de exploração do nosso “ouro negro”.
Estudos apontam que grande parte da população brasileira é contra a ideia de
privatização da estatal que hoje concentra boa parte da riqueza nacional -
muito bem colocada por Joel Rennó, ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce,
como “a pedra mais valiosa da coroa”- seja por impedir altas nos preços dos
combustíveis, pela empregabilidade ou por diversos outros motivos. Porém, para
que a privatização não seja a melhor opção para uma ascensão da crise, é
necessário que o governo cuide melhor de um setor tão valioso com uma reforma
na gestão e na administração dos recursos. “O petróleo é nosso”, dizem os
nacionalistas.
Mas é nosso até que ponto? Após as crises econômicas das últimas
décadas, 21 dos 192 países podem ser considerados desenvolvidos, onde o
liberalismo é um caminho estreito. Entende-se que é interessante somente no
modo empresarial, uma vez que abrange leis trabalhistas, cobranças de impostos
e sindicatos insuficientes, mas não adentraremos em aspectos capitalistas
ainda. É importante ressaltar que nenhum sistema econômico é tão bom que não
possa ser aprimorado, e que nem um país é tão incapaz que não possa adapta-lo.
Uma vez que esse modelo chamado de neoliberalismo chegou à Europa e foi, em
seguida, implantado no Brasil, não poderíamos manter o país fora da lógica de
mercado, mas o neoliberalismo foi implantado em estado bruto nos governos
“ultramodernos” de Fernando Henrique Cardoso. Fernando Henrique, quem mais
utilizou de argumentos liberais para vender o país. Em menos de 20 anos,
entregamos nossas empresas as multinacionais, que aqui se instalaram. A
população assistiu de olhos abertos à onda de privatizações. Empresas como
Embraer, a Companhia Vale do Rio Doce, o sistema Light e Companhia Siderúrgica
Nacional estão entre os maiores exemplos de privatização que o Brasil sofreu,
sem contar os bancos estaduais que foram federalizados e logo em seguida, dados
ao controle privado.
Um dos maiores exemplos dos efeitos da privatização que pudemos observar foi o
caso das empresas de telefonia do Brasil, como a Embratel e a Telebrás. Sem
dúvida, sentimos os reflexos disso, afinal, um país que nem ao menos detém suas
redes de telecomunicações tem, sem dúvida, metade do controle sobre ele, como
pudemos perceber ao sermos espionados pelos EUA sem muitas dificuldades. É
visível que apesar dos serviços terem se tornado mais acessíveis, foi muito
questionado a queda da qualidade desses e os altos índices de reclamações dos
seus consumidores. Hoje, segundo a União Internacional de Telecomunicações, as
tarifas no Brasil estão entre as mais caras do mundo, o que facilita (e muito)
a formação de cartéis em setores privados que passaram por esse mesmo processo
da Telebrás e outras. A Petrobras vem sendo alvo de tentativas de privatização
há cerca de 60 anos. “Temos que saber apurar e punir sem enfraquecer a
Petrobras. Temos muitos motivos para proteger a Petrobras de seus predadores
internos e seus inimigos externos”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff, em seu
discurso de posse do segundo mandato, em março de 2015 a respeito da
resistência contra a privatização.
A Petrobras sofreu diversas tentativas de desestatização, e quase foi dada às
empresas estrangeiras, quando no governo FHC , 70 % das ações foram vendidas
nas bolsas de Nova Iorque e São Paulo. A partir do início do governo Lula, em
2004, a Petrobras tomou proporções que não imaginávamos, chegando a extrair 300
mil barris por dia, apenas sete anos após a primeira descoberta da região. Com
essa dimensão atingida, o atual governo do PT optou pelo modelo de partilha, ao
invés de entregar toda a riqueza alcançada para o poder privado de empresas
estrangeiras, empregando assim, cerca de 78 mil trabalhadores para a construção
e manutenção dos próprios navios e plataformas.
De acordo com o engenheiro e ex-presidente da companhia Vale do Rio Doce, Joel
Rennó, mesmo com a venda 33% do capital volante da Petrobrás, não
necessariamente significa a privatização da empresa, já que ela ainda
conservaria mais da metade do capital volante, o suficiente para assegurar o
controle da empresa. Privatizar a Petrobras seria assinar um atestado de
incompetência na administração do governo, reafirmando a fragilidade frente a
pressão quanto aos interesses estrangeiros, assumindo até a vitória do liberalismo
das privatizações, iniciada após a privatização da Vale do Rio Doce, pelo valor
ínfimo de R$ 3,3 bilhões, hoje ela está sendo executada pela Receita Federal em
R$ 14 bilhões de sonegação fiscal, isso só pelo período da prescrição
tributária quinquenal. Se a discussão na mídia for com contraditória e ampla
defesa, a opinião publica será não só pela manutenção da Petrobrás e
reformulação da administração pública, mas também pela reestatização de muitas
empresas privatizadas. Em vista dos argumentos apresentados, diante da crise
que a Petrobras sofre hoje após diversos escândalos de corrupção e desvios de
dinheiro, um grande questionamento a ser feito é tomar a privatização da
estatal como uma possível solução para a crise.
Infelizmente, temos que reconhecer que a Petrobras deixou de ser um exemplo de
empresa, um orgulho dos brasileiros, para se tornar uma empresa loteada pela
política e sindicatos. Com isso passou a servir de sustento para deputados,
senadores e governadores ávidos em enriquecer vendendo seus votos a um governo
que a tudo se permite. Com a descoberta do mensalão, os parlamentares partiram
para o loteamento de empresas, e não esperavam que o esquema fosse novamente
descoberto. Qual seria a melhor solução? Será que esperar que nossa classe
política volte a ser patriota seria a solução? Podemos confiar em quem se vende
para votar a favor da vontade do governo? Se com o pagamento de propinas os
parlamentares fazem o que o governo quer, não seria melhor não pagar propina
alguma e mandar todos os parlamentares para casa? Pelo menos não seria
necessário vender a maior empresa de capital que o Brasil já conquistou, mas
com a
“cleptocracia” do governo brasileiro só vai se transformar em democracia após a
venda de todas as empresas públicas.