terça-feira, 25 de agosto de 2015

CHINA



  

José Antônio Bicalho




O que acontece com a China interessa muito à economia mineira. A China é hoje o maior parceiro comercial de Minas e do Brasil, destino de 20% do que o país exportou de janeiro a julho deste ano (dados da Balança Comercial Mensal, da Secretaria de Comércio Exterior – www.mdic.gov.br). E suas compras estão concentradas basicamente nas commodities agrícolas e minerais (principalmente minério de ferro, soja, petróleo, carnes, celulose, placas de aço e alumina).

Uma desaceleração mais intensa da economia chinesa, conjugada com a recente desvalorização do yuan, acertaria em cheio empresas com importante atividade em Minas Gerais, como Vale, Samarco, Cenibra, todas as siderúrgicas (inclusive as que exportam pouco) e produtores de soja do Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste.

Nessa segunda, o clima era de pânico em todos os mercados mundiais por conta do derretimento da bolsa de Xangai, que caiu 8,49%. O que se teme é que a bolha do mercado acionário chinês tenha explodido de vez, o que contaminaria a economia real, tirando liquidez do mercado, reduzindo a capacidade de investimento das empresas e desacelerando ainda mais a economia da China. Crescimento próximo mas abaixo dos 6% para este ano já é considerado uma aposta otimista.

As chamadas dessa segunda nos sites de economia dão a dimensão do que foi o “black monday” da China: “Ações globais sofrem perda de US$ 3,3 trilhões”; “Emergentes sofrem com temor de desaceleração”; “Bolsas europeias fecham em forte baixa”; “Bovespa fecha no menor patamar desde 2009”; “Ações da Petrobras voltam ao patamar de 2004”.

Mas antes de apregoar o fim do mundo, vamos a alguns números para termos uma real noção do problema e do impacto que pode trazer para a economia mineira. Em primeiro lugar, a China não deixará de comprar grãos, minério e outras commodities. Sua produção própria de insumos básicos é muito menor do que sua necessidade. A China é responsável hoje por mais de 60% de todo o comércio mundial de soja e minério de ferro. O que provavelmente acontecerá é maior pressão de baixa nas cotações internacionais. Uma desaceleração da demanda chinesa por commodities, somada à desvalorização do yuan (que barateia a produção local) serão usadas pelos importadores para baixar preços (renegociações de compras já embarcadas e devoluções são instrumentos de pressão habitualmente usados na China).

De janeiro a julho, os chineses compraram do Brasil US$ 22,576 bilhões. Isso já é 19,4% a menos do que os US$ 28,013 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. Os volumes embarcados são recordes neste ano, o que mostra que essa queda está no preço. Se seguirmos a média mensal de vendas até julho, completaremos o ano com exportações de US$ 193,5 bilhões para a China, pela primeira vez abaixo do patamar de US$ 200 bilhões desde 2010.

E a bolha do mercado de ações da China? Realmente explodiu? Essa, que é a principal pergunta, só poderá ser respondida com o desenrolar dos próximos dias. O governo chinês é francamente intervencionista no mercado e o controle (ou descontrole) da situação dependerá de suas iniciativas. Mas, avaliando o comportamento recente da bolsa de Xangai, não existe como duvidar de forte especulação para que se tenha chegado a uma valorização de 150% nos últimos dois trimestres. Em maio deste ano, a bolsa ultrapassou os cinco mil pontos e chegou ao pico. De lá para cá, literalmente derreteu, voltando a 3,2 mil pontos. Mas, ainda faltaria 28% de desvalorização para chegar ao nível anterior ao início da corrida especulativa, de 2,3 mil pontos, de outubro de 2014. Ou seja, ainda existe espaço para piora.

TODOS SÃO SUSPEITOS?



  

Márcio Doti




Surgiu agora um belo bode expiatório para, uma vez mais, explicar os fiascos na economia brasileira. Não se faz mais “negócio da China” como antigamente. Uma crise “ching ling” é uma crise de amargar para um país, assustadoramente dependente, dos negócios com o outro lado do mundo. Seria diferente se estivéssemos bem, real em alta, dominando as cenas como ocorreu na outra crise, quando a estabilidade da nossa moeda aguentou até os sobressaltos da economia norte-americana. Mas agora, de verdade, é só para complicar ainda mais a nossa economia já debilitada. Pode servir, entretanto, para o governo justificar o agravamento da crise que vem por aí, segundo os entendidos. Viria com China ou sem China. E estamos falando da crise econômica. Mas tem a crise política que é outro capítulo ou, quando nada, outro parágrafo.

O Brasil se transformou na república dos suspeitos. Senão vejamos: A presidente Dilma é, pelo menos, suspeita de praticar pedaladas através das quais adiou o cumprimento do orçamento, segurou repasses que precisavam ir para os bancos oficiais, desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei Orçamentária e a própria Constituição, segundo levantamentos do TCU, o Tribunal de Contas da União. Agora, espera um julgamento nessa corte que pode optar pela rejeição de suas contas pelas pedaladas e outras irregularidades encontradas em sua prestação de contas. Tais práticas podem criar oportunidade para a abertura de processo de impeachment.

O ex-presidente Lula, por sua vez, está passando por processo investigatório aberto pela Procuradoria da República, suspeito de ter praticado tráfico de influência, depois que deixou a presidência, em favor da empreiteira Odebrecht, também investigada pela Operação Lava Jato. Viagens pagas e suspeita de influenciar ações do Banco Nacional de Desenvolvimento Social, o BNDES, em favor de empreiteiras, embora o Instituto Lula tenha informado que ofereceu à Procuradoria da República inúmeros documentos que comprovam a legalidade dos atos do ex-presidente.

Passemos, entretanto, ao Legislativo. Continuamos na Praça dos Três Poderes, mas agora na Câmara dos Deputados onde o presidente da casa, Eduardo Cunha, é suspeito e está denunciado pelo Procurador da República, Rodrigo Janot, de ter recebido 5 milhões de dólares, conforme denúncia de um delator da Operação Lava Jato, o lobista Júlio Camargo. Cunha é acusado de ter influenciado a Petrobras a negociar aluguel de dois navios. Por último, o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi denunciado no começo do ano pela Procuradoria-Geral da República no Supremo Tribunal Federal, acusado de ter cometido três crimes: peculato, que é desvio de dinheiro ou bem público, falsidade ideológica e uso de documento falso. Segundo o Ministério Público, Renan apresentou documentos falsos para forjar uma renda com venda de gado em Alagoas e assim justificar seus gastos pessoais.

Por tudo o que conhecemos de Brasil, brasileiros, políticos, leis e cumprimentos de leis, ainda assim, mesmo não sendo nada confortável esse título nada nobre de “República dos Suspeitos” é importante e justo ressalvar que suspeito não é necessariamente alguém culpado. É preciso que venham as provas e esse, convenhamos, sempre foi o grande problema do nosso país.

OS CABEÇAS COMEÇAM A APARECER



Tribunal de Contas culpa ex-presidente da Petrobras e executivos por dano em refinaria



Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta prejuízo de R$ 1,27 bilhão nas obras da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, rateadas pelo cartel de empreiteiras investigado na Operação Lava Jato. Relatório da área técnica da corte, obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo, responsabiliza o ex-­presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e outros seis executivos por parte do sobrepreço, entre eles o ex-­diretor Renato Duque (Serviços) e o ex-­gerente da Diretoria de Serviços Pedro Barusco, ambos investigados por envolvimento nos desvios.
O tribunal analisou itens de oito contratos firmados para modernizar o sistema de produção da refinaria paranaense. Ao todo, esses componentes custaram à estatal R$ 3,8 bilhões. O valor inflado irregularmente corresponde a um terço do montante. Os técnicos da corte pontuam que as perdas podem ser mais vultosas, pois ainda não foi feita avaliação sobre a maior parte dos materiais e serviços que compuseram o orçamento. Após uma série de aditivos e repactuações, as obras, iniciadas em 2006, consumiram R$ 10,7 bilhões em recursos públicos.
O TCU julga amanhã os resultados da auditoria, obtidos a partir de material compartilhado pela Justiça Federal, responsável pela Lava Jato no Paraná. Os auditores também pleiteiam documentos para apurar eventual responsabilidade do Conselho de Administração da
Petrobras, que, entre 2003 e 2010, foi chefiado pela ex-­ministra da Casa Civil e atual presidente Dilma Rousseff. Essa análise já é feita em outros casos, como o da Refinaria de Pasadena.
'Gorduras'
Quase todo o dano ao erário já apurado é referente a três contratos com o chamado "clube" de empreiteiras. Nas obras a cargo da Camargo Corrêa e da Promon Engenharia (Consórcio CCPR), o prejuízo foi de R$ 551 milhões e pode crescer, pois só 65% do valor do contrato (R$ 2,7 bilhões) foi alvo da auditoria. O contrato executado pela da MPE Montagens com a Mendes Júnior e a SOG Óleo e Gás (Consórcio Interpar) tinha "gordura" de R$ 460 milhões. Nesse caso, foi avaliado 40% do valor pactuado (R$ 3 bilhões). Já nos serviços a cargo de Odebrecht, OAS e UTC (Consórcio Conpar), foi achado sobrepreço de R$ 184 milhões em amostra de 20% do contrato (R$ 2,4 bilhões).
Para o TCU, a Diretoria Executiva da Petrobras, presidida por Gabrielli de 2005 a 2012, usou estratégias que restringiram a competição em licitações como "estratégia corporativa". As empresas foram contratadas por valores até 19% acima do inicialmente estimado pela
estatal. "Julga-­se pertinente a atribuição de culpa não apenas ao presidente da companhia da época (Gabrielli), mas também aos então diretores de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, e de Serviços, Renato Duque, e ao ex-­gerente executivo Pedro Barusco" declaram os auditores.
A área técnica pede também que se avaliem sanções contra Sérgio dos Santos Arantes, Sandoval Dias Aragão, Fernando Almeida Biato e José Paulo Assis, então gerentes da estatal.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

MEDO DO MEDO



O medo faz você consumir mais do que o desejo de ser feliz

samy dana



Você já deve ter ouvido por aí a expressão "família de comercial de margarina". A designação resume bem o estereótipo que a propaganda cria: uma família perfeita, um cachorro de raça ao lado da mesa, todos felizes com um dia ensolarado e uma casa bonita. Cena que retrata uma felicidade nem sempre condizente com a realidade.
"Vender felicidade" é uma das estratégias da publicidade, mas outros fatores são importantes e decisivos em nosso impulso para consumir. O medo é um dos mais comuns.
Um dos primeiros produtos a seguir esse tipo de raciocínio para ser vendido foi o antisséptico bucal Listerine.
A propaganda criava uma ansiedade no público quanto a um risco iminente: uma mulher com um belo sorriso, mas que tinha dificuldade para se relacionar com os outros porque sofria de halitose.
Os comerciais seguintes seguiam a mesma linha, fazendo questão de enfatizar que a halitose poderia afetar qualquer um e que pessoas próximas ficariam constrangidas para alertar para o problema. O desfecho: Listerine como "solução milagrosa".
O exemplo do antisséptico é mencionado na segunda parte do documentário britânico "The Men Who Made us Spend", produzido pela BBC. A ideia do comercial surgiu de Stanley Wrestle, um dos primeiros a usar a estratégia de explorar as motivações humanas para gerar consumo.
Os reflexos disso continuam sendo replicados até hoje. É possível pensar em uma enorme gama de produtos que são consumidos porque previamente foi gerada uma ansiedade, uma necessidade de consumo para se sentir seguro ou protegido.
Na indústria farmacêutica, de cosméticos e saúde essa técnica fica mais evidente.
Isso explica, por exemplo, o motivo dos tais sucos Detox terem se transformado em febre nacional, mesmo sem prova científica de efeitos benéficos. Se o comercial de sabonete for feito focando na quantidade de bactérias às quais estamos expostos, é possível que você fique mais propenso a comprar um antibacteriano do que um sabonete comum, ainda que os médicos considerem isso desnecessário e até prejudicial.
Cosméticos e tratamentos estéticos inflam os lucros a cada ano, alimentados pelo medo que as pessoas têm de envelhecer.
Os medos gerados pelos comerciais ficam incutidos em nosso subconsciente. Quando for às compras, alimente o hábito de se questionar com mais frequência. Analise se você realmente precisa daquilo ou se é apenas a persuasão da ansiedade e do medo que estão levando ao consumo.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...