José Antônio Bicalho
O que acontece com a China interessa
muito à economia mineira. A China é hoje o maior parceiro comercial de Minas e
do Brasil, destino de 20% do que o país exportou de janeiro a julho deste ano
(dados da Balança Comercial Mensal, da Secretaria de Comércio Exterior –
www.mdic.gov.br). E suas compras estão concentradas basicamente nas commodities
agrícolas e minerais (principalmente minério de ferro, soja, petróleo, carnes,
celulose, placas de aço e alumina).
Uma desaceleração mais intensa da
economia chinesa, conjugada com a recente desvalorização do yuan, acertaria em
cheio empresas com importante atividade em Minas Gerais, como Vale, Samarco,
Cenibra, todas as siderúrgicas (inclusive as que exportam pouco) e produtores
de soja do Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste.
Nessa segunda, o clima era de pânico
em todos os mercados mundiais por conta do derretimento da bolsa de Xangai, que
caiu 8,49%. O que se teme é que a bolha do mercado acionário chinês tenha
explodido de vez, o que contaminaria a economia real, tirando liquidez do
mercado, reduzindo a capacidade de investimento das empresas e desacelerando
ainda mais a economia da China. Crescimento próximo mas abaixo dos 6% para este
ano já é considerado uma aposta otimista.
As chamadas dessa segunda nos sites de
economia dão a dimensão do que foi o “black monday” da China: “Ações globais
sofrem perda de US$ 3,3 trilhões”; “Emergentes sofrem com temor de
desaceleração”; “Bolsas europeias fecham em forte baixa”; “Bovespa fecha no
menor patamar desde 2009”; “Ações da Petrobras voltam ao patamar de 2004”.
Mas antes de apregoar o fim do mundo,
vamos a alguns números para termos uma real noção do problema e do impacto que
pode trazer para a economia mineira. Em primeiro lugar, a China não deixará de
comprar grãos, minério e outras commodities. Sua produção própria de insumos
básicos é muito menor do que sua necessidade. A China é responsável hoje por
mais de 60% de todo o comércio mundial de soja e minério de ferro. O que
provavelmente acontecerá é maior pressão de baixa nas cotações internacionais.
Uma desaceleração da demanda chinesa por commodities, somada à desvalorização
do yuan (que barateia a produção local) serão usadas pelos importadores para
baixar preços (renegociações de compras já embarcadas e devoluções são
instrumentos de pressão habitualmente usados na China).
De janeiro a julho, os chineses
compraram do Brasil US$ 22,576 bilhões. Isso já é 19,4% a menos do que os US$
28,013 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. Os volumes
embarcados são recordes neste ano, o que mostra que essa queda está no preço.
Se seguirmos a média mensal de vendas até julho, completaremos o ano com
exportações de US$ 193,5 bilhões para a China, pela primeira vez abaixo do
patamar de US$ 200 bilhões desde 2010.
E a bolha do mercado de ações da
China? Realmente explodiu? Essa, que é a principal pergunta, só poderá ser
respondida com o desenrolar dos próximos dias. O governo chinês é francamente
intervencionista no mercado e o controle (ou descontrole) da situação dependerá
de suas iniciativas. Mas, avaliando o comportamento recente da bolsa de Xangai,
não existe como duvidar de forte especulação para que se tenha chegado a uma
valorização de 150% nos últimos dois trimestres. Em maio deste ano, a bolsa
ultrapassou os cinco mil pontos e chegou ao pico. De lá para cá, literalmente
derreteu, voltando a 3,2 mil pontos. Mas, ainda faltaria 28% de desvalorização
para chegar ao nível anterior ao início da corrida especulativa, de 2,3 mil
pontos, de outubro de 2014. Ou seja, ainda existe espaço para piora.

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