Márcio Doti
Surgiu agora um belo bode expiatório
para, uma vez mais, explicar os fiascos na economia brasileira. Não se faz mais
“negócio da China” como antigamente. Uma crise “ching ling” é uma crise de
amargar para um país, assustadoramente dependente, dos negócios com o outro
lado do mundo. Seria diferente se estivéssemos bem, real em alta, dominando as
cenas como ocorreu na outra crise, quando a estabilidade da nossa moeda
aguentou até os sobressaltos da economia norte-americana. Mas agora, de
verdade, é só para complicar ainda mais a nossa economia já debilitada. Pode
servir, entretanto, para o governo justificar o agravamento da crise que vem
por aí, segundo os entendidos. Viria com China ou sem China. E estamos falando da
crise econômica. Mas tem a crise política que é outro capítulo ou, quando nada,
outro parágrafo.
O Brasil se transformou na república
dos suspeitos. Senão vejamos: A presidente Dilma é, pelo menos, suspeita de
praticar pedaladas através das quais adiou o cumprimento do orçamento, segurou
repasses que precisavam ir para os bancos oficiais, desrespeitando a Lei de
Responsabilidade Fiscal, a Lei Orçamentária e a própria Constituição, segundo
levantamentos do TCU, o Tribunal de Contas da União. Agora, espera um
julgamento nessa corte que pode optar pela rejeição de suas contas pelas
pedaladas e outras irregularidades encontradas em sua prestação de contas. Tais
práticas podem criar oportunidade para a abertura de processo de impeachment.
O ex-presidente Lula, por sua vez,
está passando por processo investigatório aberto pela Procuradoria da
República, suspeito de ter praticado tráfico de influência, depois que deixou a
presidência, em favor da empreiteira Odebrecht, também investigada pela
Operação Lava Jato. Viagens pagas e suspeita de influenciar ações do Banco
Nacional de Desenvolvimento Social, o BNDES, em favor de empreiteiras, embora o
Instituto Lula tenha informado que ofereceu à Procuradoria da República
inúmeros documentos que comprovam a legalidade dos atos do ex-presidente.
Passemos, entretanto, ao Legislativo.
Continuamos na Praça dos Três Poderes, mas agora na Câmara dos Deputados onde o
presidente da casa, Eduardo Cunha, é suspeito e está denunciado pelo Procurador
da República, Rodrigo Janot, de ter recebido 5 milhões de dólares, conforme
denúncia de um delator da Operação Lava Jato, o lobista Júlio Camargo. Cunha é
acusado de ter influenciado a Petrobras a negociar aluguel de dois navios. Por
último, o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi denunciado no começo do
ano pela Procuradoria-Geral da República no Supremo Tribunal Federal, acusado
de ter cometido três crimes: peculato, que é desvio de dinheiro ou bem público,
falsidade ideológica e uso de documento falso. Segundo o Ministério Público,
Renan apresentou documentos falsos para forjar uma renda com venda de gado em
Alagoas e assim justificar seus gastos pessoais.
Por tudo o que conhecemos de Brasil,
brasileiros, políticos, leis e cumprimentos de leis, ainda assim, mesmo não
sendo nada confortável esse título nada nobre de “República dos Suspeitos” é
importante e justo ressalvar que suspeito não é necessariamente alguém culpado.
É preciso que venham as provas e esse, convenhamos, sempre foi o grande
problema do nosso país.

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