terça-feira, 25 de agosto de 2015

TODOS SÃO SUSPEITOS?



  

Márcio Doti




Surgiu agora um belo bode expiatório para, uma vez mais, explicar os fiascos na economia brasileira. Não se faz mais “negócio da China” como antigamente. Uma crise “ching ling” é uma crise de amargar para um país, assustadoramente dependente, dos negócios com o outro lado do mundo. Seria diferente se estivéssemos bem, real em alta, dominando as cenas como ocorreu na outra crise, quando a estabilidade da nossa moeda aguentou até os sobressaltos da economia norte-americana. Mas agora, de verdade, é só para complicar ainda mais a nossa economia já debilitada. Pode servir, entretanto, para o governo justificar o agravamento da crise que vem por aí, segundo os entendidos. Viria com China ou sem China. E estamos falando da crise econômica. Mas tem a crise política que é outro capítulo ou, quando nada, outro parágrafo.

O Brasil se transformou na república dos suspeitos. Senão vejamos: A presidente Dilma é, pelo menos, suspeita de praticar pedaladas através das quais adiou o cumprimento do orçamento, segurou repasses que precisavam ir para os bancos oficiais, desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei Orçamentária e a própria Constituição, segundo levantamentos do TCU, o Tribunal de Contas da União. Agora, espera um julgamento nessa corte que pode optar pela rejeição de suas contas pelas pedaladas e outras irregularidades encontradas em sua prestação de contas. Tais práticas podem criar oportunidade para a abertura de processo de impeachment.

O ex-presidente Lula, por sua vez, está passando por processo investigatório aberto pela Procuradoria da República, suspeito de ter praticado tráfico de influência, depois que deixou a presidência, em favor da empreiteira Odebrecht, também investigada pela Operação Lava Jato. Viagens pagas e suspeita de influenciar ações do Banco Nacional de Desenvolvimento Social, o BNDES, em favor de empreiteiras, embora o Instituto Lula tenha informado que ofereceu à Procuradoria da República inúmeros documentos que comprovam a legalidade dos atos do ex-presidente.

Passemos, entretanto, ao Legislativo. Continuamos na Praça dos Três Poderes, mas agora na Câmara dos Deputados onde o presidente da casa, Eduardo Cunha, é suspeito e está denunciado pelo Procurador da República, Rodrigo Janot, de ter recebido 5 milhões de dólares, conforme denúncia de um delator da Operação Lava Jato, o lobista Júlio Camargo. Cunha é acusado de ter influenciado a Petrobras a negociar aluguel de dois navios. Por último, o presidente do Senado, Renan Calheiros, foi denunciado no começo do ano pela Procuradoria-Geral da República no Supremo Tribunal Federal, acusado de ter cometido três crimes: peculato, que é desvio de dinheiro ou bem público, falsidade ideológica e uso de documento falso. Segundo o Ministério Público, Renan apresentou documentos falsos para forjar uma renda com venda de gado em Alagoas e assim justificar seus gastos pessoais.

Por tudo o que conhecemos de Brasil, brasileiros, políticos, leis e cumprimentos de leis, ainda assim, mesmo não sendo nada confortável esse título nada nobre de “República dos Suspeitos” é importante e justo ressalvar que suspeito não é necessariamente alguém culpado. É preciso que venham as provas e esse, convenhamos, sempre foi o grande problema do nosso país.

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