segunda-feira, 10 de agosto de 2015

RECESSÃO



  

Paulo Haddad


Há um consenso entre muitos analistas de que a atual recessão econômica do Brasil poderá se estender por mais dois ou três anos. A partir da crise de 1929 acostumamos a medir as flutuações nas atividades econômicas através de dois indicadores: a taxa de crescimento do PIB e a taxa do desemprego. Em 2015, por exemplo, espera-se que a taxa de crescimento do PIB seja negativa próxima de dois por cento. E a taxa de desemprego seja superior a 8 por cento.
Mas esses indicadores são insuficientes para mensurar a abrangência dos dramas psicossociais e desalentadores que uma recessão de maior porte provoca para a população de um país quando sua economia se atrofia. Essa insuficiência da métrica tradicional dos indicadores de uma recessão econômica se exprime através da insuficiência de cobertura de dimensões relevantes nos cálculos do PIB e do desemprego, assim como através da sua concepção limitada do que seja o bem-estar social sustentável de uma população.
As limitações de cobertura do PIB são imensas. No PIB não são contabilizadas muitas contribuições essenciais positivas ao bem-estar: trabalhos domésticos, atividades benevolentes, lazer e tempo livre, etc. O PIB é uma variável que mede fluxos de produção, de consumo e de investimento, mas não mede como os frutos do crescimento se distribuem entre indivíduos, famílias e classes sociais. O PIB não lida também com as variáveis-estoque, por exemplo, a degradação do meio ambiente e a depreciação do capital humano num contexto recessivo.
Da mesma forma, há limitações de cobertura no cálculo das taxas de desemprego. Essas taxas captam inadequadamente a expansão do subemprego em atividades que estão abaixo das qualificações dos desempregados e dos profissionais. Não captam o desemprego dos desalentados que são os trabalhadores que deixaram de procurar emprego após procura incessante sem sucesso, um fenômeno típico que ocorre numa recessão prolongada. E o desemprego tem a capacidade de desestruturar penosamente as condições de vida no cotidiano das famílias empobrecidas.
Mas a questão principal é a ênfase da métrica tradicional nos aspectos do crescimento econômico e não no bem-estar social das pessoas e das famílias. Nos últimos anos, o que se busca como indicadores mais significativos são os indicadores multifacetados de bem-estar social sustentável os quais, em última instância, procuram mensurar, através de surveys, o grau de realização pessoal em uma sociedade e a felicidade de sua população. O crescimento do PIB e da renda é muito bom porque expande as oportunidades mínimas e necessárias que as pessoas possam viver uma boa vida no sentido que Platão e Aristóteles definiam a felicidade a ser alcançada vivendo-se eticamente.
A importância de se mensurarem as diferenças entre o progresso econômico e o progresso social de um país ou de uma região já estava destacada na obra do filósofo inglês John Stuart Mill em meados do século 19. Observava que, após conquistar um padrão de vida decente, “o esforço humano deveria se destinar para a busca do progresso social e moral e do acréscimo do lazer, e não para a disputa competitiva pela riqueza material”.

AGRAVAMENTO DA CRISE



  

Amália Goulart

 
 
Com o agravamento da crise política, o Tribunal de Contas da União (TCU) é a muleta que será utilizada por deputados e senadores que querem ver a presidente Dilma Rousseff (PT) fora do Palácio do Planalto.

A última tese que ganha força em Brasília é a seguinte: na próxima sexta-feira os ministros do TCU reúnem-se para julgar as contas da presidente Dilma. Eles têm três opções que são: aprovar, aprovar com ressalvas, ou rejeitar. O Tribunal já deu um indicativo de que a primeira opção está descartada. As tão faladas “pedaladas” foram apontadas justamente pelo TCU.

Fontes em Brasília garantem que haverá pedido de vistas por parte de algum ministro. Com isso, as contas retornarão na sessão seguinte. “Mas de agosto não deve passar”, disse uma fonte.

Caso rejeitem as contas da presidente, abre-se a brecha para o pedido de impeachment.

É que o passo seguinte será a votação das contas com parecer do TCU, pelo Congresso. Vários deputados e senadores com influência nas duas Casas dizem que os parlamentares votarão conforme o resultado final do julgamento do Tribunal.

Se o Congresso reprovar a prestação de Dilma, ela incorrerá, segundo juristas, em crime de responsabilidade. Qualquer partido político poderá pedir, então, o impeachment com base neste crime. O Congresso votará pela permanência ou não da presidente.

Mas, neste ambicioso plano que já se articula existe uma lacuna. Constitucionalistas não são unânimes em aceitar o impeachment com base no argumento das “pedaladas”. Isto porque a possível fraude contábil deu-se no mandato anterior da presidente. E ela não pode pagar com o segundo mandato por uma irregularidade ocorrida em mandato passado. O que passou, passou. É a ideia de alguns juristas.

No entanto, existem aqueles que discordam da tese.

Concordando ou discordando é o passo em estudo por muitos deputados e senadores. Eles apostam no agravamento da crise política para criar uma instabilidade maior ainda. Contam com as manifestações do próximo domingo. Movimentos contrários ao governo dizem que haverá um número maior de pessoas em protesto nas ruas em comparação ao 1,5 milhão de insatisfeitos do dia 12 de abril. E para, terminar, apostam na postura nada republicana do presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Democracia
Não há dúvidas do tamanho da crise política que atinge o país. “O líder do Governo não consegue sequer falar com os colegas”, disse um parlamentar. “Crise sem precedentes” é a palavra de ordem no Congresso.
Mas é legítimo tirar do poder uma presidente eleita democraticamente? Instabilidade maior não seria encontrar subterfúgios para derrubá-la? O que podem esperar os futuros presidentes que assumirem o poder? São questões que não podem ser esquecidas no calor das manifestações e discussões que apoderam-se do Brasil.

Não podemos viver mais uma crise institucional que afete a democracia. Somos jovens neste quesito, mas temos que amadurecer. Pensar de forma consciente para que não nos arrependermos depois.

Temos que encontrar uma saída para o imbróglio político e econômico, porém, mantendo a credibilidade das instituições. Coisa de gente grande!

sábado, 8 de agosto de 2015

HOMENAGEM AOS PAIS



Dia dos pais

De Giuseppe Ghiaroni


Meu pai está tão velhinho,
tem a mão branca e comprida,
parecendo a sua vida,
longa vida que se esvai.
E eu o lembro quando moço
de uma atlética altivez.
Ah! Tinha força por três!
Você se lembra, papai?
Menino, ouvia dizer
que você era um gigante.
Eu ficava radiante
e também me agigantava.
Porque toda madrugada,
eu quentinho do agasalho,
ao sair para o trabalho
o gigante me beijava.
Sua grande mão de ferro
parecia leve, leve
naquela carícia breve
que da memória não sai.
Depois… um beijo em mamãe
e o meu gigante partia.
E a casa toda tremia
com os passos de papai.
Mas agora o seu retrato
muito moço, muito antigo,
se parece mais comigo
do que mesmo com você.
Você já lembra vovô
e, à medida que envelhece,
papai, você se parece
com mamãe, não sei por quê.
Você se lembra, papai?
Quando mamãe, de repente,
caiu de cama, doente,
era o pai quem cozinhava.
Tão grande e desajeitado
a varrer… Quando eu o via
de avental, papai, eu ria;
eu ria e mamãe chorava.
Eu quis deixar o ginásio
para ganhar ordenado,
ajudar meu pai cansado,
mas tal não aconteceu.
Papai disse estas palavras:
Sou um operário obscuro,
mas você terá futuro,
será melhor do que eu.
Eu? Melhor que este velhinho
a quem devo o pão e o estudo?
Que é pobre porque deu tudo
à Família, à Pátria, à Fé?
Meu pai, com todo o diploma,
com toda a universidade,
quisera eu ser a metade
daquilo que você é.
E quero que você saiba
que, entre amigos, conversando,
meu assunto vai girando
e no seu nome recai.
Da sua força, coragem,
bondade eu conto uma história.
Todos vêem que a minha glória
é ser filho de meu pai.
“Um dia eu fui tomar banho
no rio que estava cheio.
Quando a correnteza veio,
vi a morte aparecer.
Papai saltou dentro d’água
nadando mais do que um peixe,
salvou-me e disse:_ Não deixe!
Não deixe mamãe saber!”.
Assim foi meu pai, o forte
que respeitava a fraqueza.
Nunca humilhou a pobreza,
nunca a riqueza o humilhou.
Estava bem com os homens
e com Deus estava bem.
Nunca fez mal a ninguém
e o que sofreu perdoou.
Perdoa então se lhe falo
Daquilo que não se esquece.
E a minha voz estremece
e há uma lágrima que cai.
Hoje sou eu o gigante
e você é pequenino.
Hoje sou eu que me inclino.
Papai… a bênção, papai.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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