Paulo Haddad
Há
um consenso entre muitos analistas de que a atual recessão econômica do Brasil
poderá se estender por mais dois ou três anos. A partir da crise de 1929
acostumamos a medir as flutuações nas atividades econômicas através de dois
indicadores: a taxa de crescimento do PIB e a taxa do desemprego. Em 2015, por
exemplo, espera-se que a taxa de crescimento do PIB seja negativa próxima de
dois por cento. E a taxa de desemprego seja superior a 8 por cento.
Mas
esses indicadores são insuficientes para mensurar a abrangência dos dramas
psicossociais e desalentadores que uma recessão de maior porte provoca para a
população de um país quando sua economia se atrofia. Essa insuficiência da
métrica tradicional dos indicadores de uma recessão econômica se exprime
através da insuficiência de cobertura de dimensões relevantes nos cálculos do
PIB e do desemprego, assim como através da sua concepção limitada do que seja o
bem-estar social sustentável de uma população.
As
limitações de cobertura do PIB são imensas. No PIB não são contabilizadas
muitas contribuições essenciais positivas ao bem-estar: trabalhos domésticos,
atividades benevolentes, lazer e tempo livre, etc. O PIB é uma variável que
mede fluxos de produção, de consumo e de investimento, mas não mede como os
frutos do crescimento se distribuem entre indivíduos, famílias e classes
sociais. O PIB não lida também com as variáveis-estoque, por exemplo, a
degradação do meio ambiente e a depreciação do capital humano num contexto
recessivo.
Da
mesma forma, há limitações de cobertura no cálculo das taxas de desemprego.
Essas taxas captam inadequadamente a expansão do subemprego em atividades que
estão abaixo das qualificações dos desempregados e dos profissionais. Não
captam o desemprego dos desalentados que são os trabalhadores que deixaram de
procurar emprego após procura incessante sem sucesso, um fenômeno típico que
ocorre numa recessão prolongada. E o desemprego tem a capacidade de
desestruturar penosamente as condições de vida no cotidiano das famílias
empobrecidas.
Mas
a questão principal é a ênfase da métrica tradicional nos aspectos do
crescimento econômico e não no bem-estar social das pessoas e das famílias. Nos
últimos anos, o que se busca como indicadores mais significativos são os
indicadores multifacetados de bem-estar social sustentável os quais, em última
instância, procuram mensurar, através de surveys, o grau de realização pessoal
em uma sociedade e a felicidade de sua população. O crescimento do PIB e da
renda é muito bom porque expande as oportunidades mínimas e necessárias que as
pessoas possam viver uma boa vida no sentido que Platão e Aristóteles definiam
a felicidade a ser alcançada vivendo-se eticamente.
A
importância de se mensurarem as diferenças entre o progresso econômico e o
progresso social de um país ou de uma região já estava destacada na obra do
filósofo inglês John Stuart Mill em meados do século 19. Observava que, após
conquistar um padrão de vida decente, “o esforço humano deveria se destinar
para a busca do progresso social e moral e do acréscimo do lazer, e não para a
disputa competitiva pela riqueza material”.