Orion Teixeira
A solução da crise vivida pelo país
não será encontrada nos supostos e trágicos desfechos impostos por um
impeachment, como sinaliza o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB), nem por novas eleições presidenciais, como desejam os tucanos. Além de
outros fatores de alta gravidade, o confronto entre o Legislativo e o Executivo
só poderá ser sanado pelo terceiro poder, o Judiciário. Estará nas mãos dos
magistrados a solução equilibrada e ajuizada e dentro do espírito da
legalidade.
Nos próximos meses, a Procuradoria da
República deverá formalizar denúncia, oriunda dos desdobramentos da Lava Jato,
a operação que investiga e desmonta o esquema de desvios na Petrobras, contra
os políticos, entre eles, Eduardo Cunha e o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB). Será um duro golpe para a classe política. As acusações, com
provas eloquentes das delações premiadas, levarão à abertura de processo pelo
Supremo Tribunal Federal, que, por sua vez, deverão tirar a legitimidade e a
autoridade do Congresso Nacional, em particular do presidente da Câmara, para
sustentar um processo do impacto de um impeachment.
De um lado, a desmoralização da classe
política, e do próprio Legislativo, aliviará o peso da crise política e
institucional sobre a presidente Dilma Rousseff por algum tempo, mas não a
poupará dos riscos de uma sangria desenfreada ou outro desfecho implacável. A
mesma operação Lava Jato lançará sobre suas contas eleitorais contaminação de
difícil defesa, de modo que nem mesmo a tese do ministro da Justiça, Eduardo
Cardozo, ficará de pé.
Segundo o ministro, eventual dinheiro
ilícito em campanha eleitoral só caracteriza crime se o recebedor sabia de sua
origem criminosa. Um contraponto à teoria do ‘domínio do fato’ que condenou o
ex-ministro José Dirceu no julgamento do mensalão. De acordo com as denúncias
vazadas até agora, as campanhas de Dilma e do tucano Aécio Neves receberam
valores de mesmas fontes suspeitas, logo o jogo ficaria empatado ou
neutralizado. Outros consideram, no entanto, que o que houve foi drenagem de
dinheiro público (Petrobras) para campanhas eleitorais, que só poderia ser
cometida por quem tinha comando sobre as contas públicas, no caso o PT.
A decisão, nesse caso, caberá ao
Judiciário, onde o Tribunal Superior Eleitoral está julgando as contas
eleitorais da candidata a presidente e de seu vice, Michel Temer (PMDB). Em
caso de condenação, ambos, Dilma e Temer, a chapa toda seria impugnada, impondo
a convocação do segundo colocado ao cargo até os dois primeiros anos, ou de
novas eleições, a partir do terceiro e quarto ano de mandato.
Nitroglicerina pura
Ainda que o processo político delongue
e deteriore a confiança nacional, a situação econômica será ainda mais
implacável nessa combinação explosiva. Os efeitos das demissões que estão
ocorrendo, em razão do baixo crescimento, ainda não produziram grave
repercussão, minimizada, até então, pelo uso do FGTS, seguro desemprego e
acerto de contas. Quando essa proteção social for consumida, lá para o final do
ano, a crise chegará ao seu ápice.