Petrobras é alvo de quatro
novas ações na Justiça americana
Investidores optam por buscar reparação fora do
processo coletivo iniciado na semana passada
LONDRES - O maior
fundo de pensão da Suécia, que administra US$ 30 bilhões, vai entrar na Justiça
contra a Petrobras, informou nesta segunda-feira o jornal britânico “The
Financial Times”. Com isso, o AP1, um dos maiores da Europa, se junta a grandes
investidores que vêm buscando individualmente compensações da estatal. O
Dimensional Fund Advisors, fundo americano gigante que tem mais de US$ 332
bilhões sob gestão, e seis fundos de pensão de Nova York entraram no dia 23 de
março com ações separadas da ação coletiva contra a Petrobras pelas perdas com
o esquema de corrupção, revelado pelas investigações da Lava-Jato.
Também no dia 23, um
grupo de firmas de investimento entrou com um processo conjunto contra a
Petrobras e diversos bancos que subscreveram seus papéis. As autoras do
processo são: a distribuidora de fundos norueguesa Skagen, com US$ 15,4 bilhões
em ativos; dois braços de investimento do Danske, maior banco da Dinamarca, que
fazem a gestão de uma fortuna de US$ 67,4 bilhões; a firma de investimento
americana Oppenheimer, junto com suas afiliadas OFI Global e OFIGTC, com mais
de US$ 200 bilhões em ativos.
Eles têm ações da
estatal ou títulos de dívida emitidos pela petrolífera. No ano passado, os
American Depositary Receipts (ADRs, espécie de recibos de ações da estatal)
caíram 47% na Bolsa de Nova York. No Brasil, as ordinárias despencaram 40% e as
preferenciais, 41,3%.
O AP1 detinha 3,7
milhões de ações da Petrobras no fim de dezembro e confirmou ao “FT” a escolha
pela ação individual. Já o porta-voz da Dimensional explicou ao jornal
britânico que escolheu a ação individual para “defender o interesse de seus
acionistas”:
“Nós, junto com
vários outros fundos, decidimos tomar medidas contra a Petrobras. Normalmente
fazemos isso aderindo a um processo coletivo. Desta vez, para defender o
interesse dos nossos acionistas, vamos buscar nossas reivindicações
diretamente”.
O fato de que os
investidores institucionais estão escolhendo sair da ação coletiva e buscando
suas próprias reivindicações é um sinal de confiança de que os potenciais
benefícios superam os riscos financeiros de financiamento de um processo
judicial, de acordo com vários especialistas.
— Os grandes
investidores institucionais estão cada vez mais optando por uma (ação) fora da
classe porque eles conseguem um acordo melhor em uma base individual — explica
o professor de direireto na Universidade de Columbia John Coffee ao “FT”.
A Petrobras ainda
não entrou com um pedido contra qualquer uma das ações, embora seja esperado
que isso seja feito nas próximas duas semanas. Procurados pelo veículo
britânico, a empresa e seu escritório de advocacia, Cleary Gottlieb Steen &
Hamilton se recusaram a comentar.
— Eu acho que os
autores têm um caso muito forte. Os comunicados de relações com investidores da
empresa ao longo de vários anos têm sido claramente enganosos. O governo
brasileiro está claramente até o pescoço na corrupção que ocorreu. Quem compra
(ações da Petrobras) está assumindo um grande risco — avalia, ainda ao “FT” o
professor da Universidade King’s College, em Londres, Nick Butler, e ex
vice-presidente para política da companhia de energia britânica BP.
AÇÃO COLETIVA FOI
AJUIZADA SEMANA PASSADA
A ação coletiva foi
ajuizada contra a estatal e submetida na semana passada nos EUA, na Corte do
Distrito Sul de Nova York, pela firma de advocacia Pomerantz. O escritório
representa o Universities Superannuation Scheme (USS), o maior fundo de pensão
do Reino Unido, que foi apontado como líder do processo pelo juiz do caso no
início de março. A queixa cita 15 pessoas como réus, entre elas os
ex-presidentes da companhia Maria das Gracas Foster e José Sérgio Gabrielli.
Também é acusada a PwC, responsável pela auditoria dos balanços financeiros da
petrolífera.
No processo, a
Petrobras, duas de suas subsidiárias internacionais e vários dos seus
executivos são acusados de promoverem um “esquema multibilionário de corrupção
e lavagem de dinheiro, que durou vários anos e foi escondido dos seus
investidores”. Pode ser beneficiados pelo processo qualquer investidor que
tenha adquirido papéis da Petrobras, incluindo títulos de renda fixa emitidos
no exterior, entre 22 de janeiro de 2010 e 18 de março de 2015.
Além da Petrobras,
são acusadas duas subsidiárias da petrolífera, a Petrobras International
Finance Company (PifCo) e a Petrobras Global Finance (PGF), estabelecidas
respectivamente na Holanda e em Luxemburgo. Almir Barbassa, que foi diretor
financeiro da empresa entre 2005 e este ano, também é citado como réu.
Outros 12 executivos
estão sendo processados, a maioria deles ocupando cargos nas subsidiárias
internacionais. A ação também acusa 15 instituições financeiras, que
subscreveram emissões da Petrobras, de serem corresponsáveis no esquema. A ação
cita ainda a presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega
como pessoas de interesse para o processo, mas não os indica como réus.
“Nós não fomos
notificados com qualquer queixa, e não acredito que haja qualquer base para uma
reclamação”, disse um porta-voz da PwC Brasil ao “FT”. A ação coletiva estima
que o esquema de suborno pode ter desviado até US$ 28 bilhões dos cofres da
empresa.
BALANÇO AINDA NÃO
FOI PUBLICADO
Até agora, a estatal
ainda não publicou o balanço do terceiro trimestre de 2014 e do ano fechado. Na
diretoria, trabalha-se com o prazo de abril para o Conselho de Administração
aprovar o balanço, que já terá de estar auditado. A próxima reunião do Conselho
será no dia 17 de abril.
Porém, outra fonte
ligada à companhia teme que a estatal só consiga publicar seu balanço auditado
no fim de maio. De acordo com essa fonte, a companhia tende a precisar de mais
tempo para fazer os testes da metodologia que vai calcular as baixas contábeis,
fruto do custo da corrupção revelado pela Operação Lava-Jato.