INTERESSANTE LIVRO LANÇADO RECENTEMENTE EM BELO HORIZONTE – MG, ESCRITO
PELO MINEIRO EUGÊNIO MUSSAK, SOBRE O QUE ELE CHAMA “A ARTE DE FAZER ESCOLHAS”.
A arte de fazer escolhas Revista Vida Simples nº
106 01/06/2011 - Por Eugênio Mussak
Tomar um sorvete figura entre meus programas
favoritos quando vou a Manaus. Trata-se de uma experiência diferente de
qualquer outro lugar do mundo, não porque os manauras dominem técnicas secretas
da arte dos gelados que nem os italianos conhecem, mas porque eles dispõem de
matéria prima invejável: as frutas amazônicas com seus sabores incríveis.
As mais conhecidas, como o açaí, o cupuaçu, a
graviola, e o buriti estão entre elas, mas não são as únicas, apesar de que
apenas elas já colocam o freguês em uma situação de difícil decisão. “Não posso
pedir uma bola de cada?”, perguntei ao atendente da sorveteria, para ouvir a
resposta óbvia: “Claro que o senhor pode, mas vai ter que levar uma caixa, e
não apenas uma casquinha”.
Como eu só queria um sorvete para sair lambendo
enquanto caminhava pelo quente entardecer tropical, não me restou alternativa,
a não ser escolher dois sabores, abrindo mão de todos os demais. Pelo menos por
enquanto.
O que poderia ter sido apenas um acontecimento
corriqueiro, me colocou em contato com uma questão filosófica: a necessidade
humana de fazer escolhas na vida. Enquanto saboreava meu manjar amazônico não
pude deixar de aprofundar meu pensamento da questão das escolhas e, claro,
lembrei-me de algumas das mais difíceis que tive que fazer ao longo de minha
trajetória. E de repente me dei conta que escolher é uma das coisas a que mais
o homem se dedica. Não há um dia sequer que não tenhamos que escolher algo e
abrir mão de algo também.
É claro que, na maioria das vezes fazemos escolhas
simples, como o sabor do sorvete, a cor da gravata ou o filme a assistir. Mas
quem não sofreu calado quando teve que decidir que vestibular fazer? Ou quando
recebeu uma proposta para mudar de emprego? E, suprema decisão, que atire a
primeira pedra quem nunca esteve dividido entre dois amores.
Sim, parece que passamos a vida decidindo, e, ainda
que a maioria das pessoas não tenha essa consciência, os momentos de decisão
são, também, momentos de ansiedade. Só que uma ansiedade que deriva de uma
coisa boa: a existência de mais de uma opção. A rigor, a ansiedade de escolher
é a ansiedade de ser livre. Escolher é exercer a liberdade, com suas
prerrogativas e responsabilidades. E a liberdade só pode ser bem exercida por
que está preparado para ela, ou seja, quem tem maturidade intelectual e
emocional para tanto. A liberdade é um valor adulto.
Poder escolher é uma conquista. Então por que às
vezes sofremos com isso?
A escolha é um privilégio, o problema é a renúncia.
Ao escolher dois sabores de sorvete você abre mão de todos os demais. Até aí
tudo bem – sempre dá para voltar amanhã. O que nos martiriza são as renúncias
definitivas ou aquelas que nos causam insegurança. Para os mortais comuns, a
escolha da carreira, por exemplo, significa renunciar a uma grande quantidade
de opções, talvez melhores.
Ainda que uma carreira não seja uma condenação,
pois sempre é possível mudar, tal escolha carrega o peso de que, depois de
investir anos em estudos e sonhos, não é exatamente fácil dar a guinada. Em
nosso sistema educacional ainda há o agravante de que a escolha tem que ser
feita por garotos recém saídos da adolescência. A inscrição no vestibular é,
por esse motivo, um momento de tensão. Como fui professor de cursinho
pré-vestibular, acompanhei muitos desses dramas.
Vi de tudo. De jovens cheios de certeza àqueles que
procuravam orientação vocacional em clínicas especializadas, passando pelos
menos previdentes que, na hora H apelavam até para um jogo de par ou ímpar. “Se
der par faço biológicas. Se der ímpar faço humanas”. Dá pra imaginar a
ansiedade?
É evidente que não é assim que devemos escolher.
Uma escolha é uma decisão e, como tal, obedece a uma lógica. A técnica de
tomada de decisões tem um mandamento: quanto maior o número de variáveis
consideradas na tomada de decisão, maior a probabilidade de acerto. Em outras
palavras, escolher significa pesar todos os prós e contras, inclusive
projetando-os no tempo – a variável mais abstrata.
E dá para fazer isso o tempo todo? Cada vez que eu
quiser almoçar fora, para escolher o restaurante vou ter que montar uma
planilha no Excel, com colunas de vantagens e desvantagens, considerando o
desejo, a saúde, o ambiente etc.? Por incrível que pareça, sim, é isso mesmo
que fazemos, sem usar um computador e um software, é claro, mas lançando mão de
algoritmos mentais que consultam todas essas variáveis rapidamente, emitindo,
inclusive, notas ponderadas.
Você pode, por exemplo, decidir por um restaurante
caro (nota alta na coluna do “não”) porque ele vai ajudá-lo a impressionar a
namorada (nota altíssima na coluna do “sim”). E você faz isso mentalmente,
consultando a lógica (tenho o dinheiro), a emoção (estou apaixonado) e o fator
tempo (é agora ou nunca).
Então estamos condenados a decidir e a conviver com
a dúvida de termos feito a escolha certa?
Se tomar uma decisão provoca ansiedade, muito pior
é não ter a oportunidade de decidir. Pense nas pessoas que você conhece,
especialmente das gerações com mais vivência, que se queixam de estarem fazendo
algumas coisas por não terem tido a oportunidade de fazer outras. “Eu não tive
a chance de estudar”; “Na minha época a gente casava com o primeiro
pretendente”; “Eu tive que continuar negócio da família” – estes são apenas
alguns dos lamentos mais comuns de pessoas que, aparentemente, não puderam
escolher.
Se pudessem – ou se percebessem que podiam – muitas
delas teriam dado rumos diferentes às suas vidas. Poder escolher é bom, muito
bom, ainda que dê alguma dor de cabeça. Escolher angustia, não poder escolher
mortifica.
Em inglês, escolher é to choice, mas os
americanos, sempre práticos, utilizam uma expressão curiosa para falar sobre
escolhas, especialmente no mundo dos negócios, em que os executivos vivem tendo
que tomar decisões – trade off. Mais do que uma escolha, a expressão trade
off quer significar uma troca.
E a troca significa uma espécie de condenação
determinista a que todos estamos sujeitos. Afinal, não se pode ter tudo. Quer
isto? Então não vai ter aquilo! E lamba os beiços, porque tem gente que não vai
ter isto nem aquilo – parece dizer o destino com seu olhar de reprovação diante
de nosso desespero.
Às vezes temos, sim, que fazer escolhas difíceis, e
sofremos muito por causa disso. Até a literatura já se debruçou sobre o tema. O
escritor americano William Styron levou o drama da escolha a um nível épico em
seu livro A escolha de Sofia, que virou filme e rendeu um Oscar de
melhor atriz para Maryl Streep.
O enredo trata da situação vivida por uma mãe
judia, que é forçada por um soldado alemão a escolher entre o filho e a filha,
ambos crianças. Só um poderia ser salvo, o outro seria executado. Se ela não
escolhesse um, ambos seriam mortos.
No limite da decisão ela opta por poupar o garoto,
pois, por ser mais forte, teria mais chance de sobreviver (imagine o sofrimento
e a velocidade com que ela montou a tal planilha mental). Como agravante, nem
dele teve mais notícias.
A história é ambientada no pós-guerra, com a
protagonista já vivendo nos Estados Unidos, tentando reconstruir vida, mas
sempre atormentada por aquele momento dramático em que teve que fazer a escolha
mortal. A força do drama relatado pelo autor transformou o título em sinônimo
de decisão quase impossível de ser tomada. Daquelas que nunca teremos certeza
de termos acertado.
A maioria de nós jamais terá que tomar uma decisão
tão dramática, mas com certeza todos viveremos momentos difíceis, em que o
fantasma da dúvida de termos decidido certo assombrará nossa memória, talvez
por muito tempo.
É bem verdade que a tomada da decisão diminui a
ansiedade, apesar da dúvida. “É este, pronto!”- e vamos em frente. Ainda assim,
sofremos um pouquinho.
Sociedades modernas, livres, democráticas, têm essa
qualidade – o cidadão tem que fazer escolhas diariamente. Trata-se de um
direito e até uma obrigação. Nos regimes totalitários, o Estado considera os
cidadãos incapazes de escolher seus próprios caminhos, por isso ele as tutela,
as trata como menores irresponsáveis, que devem apenas concordar e obedecer.
São títeres nas mãos dos poderosos. E pensar que há famílias que também são
assim.
No mundo livre acontece o oposto. Quem se recusa a
escolher os rumos de sua vida vira uma espécie de pária, um estorvo para os
demais. Sempre lembrando que qualquer escolha pressupõe responsabilidade sobre
ela. Apesar disso, ter a oportunidade de escolher o que fazer com sua vida, no
macro ou no microcosmo da existência, ainda é a melhor situação, disparado.
E, já que você escolheu ler este texto até o fim,
espero que tenha gostado e que ele tenha agregado pitadas de lógica ao seu
autoconhecimento. Afinal, conhecer-se e saber pensar são dois elementos
fundamentais na hora das decisões. Grandes ou pequenas.
Livro usa
a física quântica como forma de auxiliar decisões cotidianas
Você quer
ser uma mola ou não? Esta é uma das perguntas feitas ao leitor no novo livro do
escritor mineiro Louis Burlamaqui, “A Arte de Fazer Escolhas”. A obra que será
lançada na festa de aniversário da megastore Fnac BH, no dia18 de setembro, às
19h30, usa a física quântica e a linguagem metafórica como forma de auxiliar as
pessoas a usarem melhor o poder pessoal em suas decisões cotidianas. O livro é
resultado de 10 anos de estudos e debates do autor com especialistas, físicos e
estudiosos da física e mecânica quântica, como o Phd. Amit Goswami, da Índia.
Dividido
em 10 temas, entre eles relacionamento, estresse, dinheiro, amor e
produtividade, o livro é construído por centenas de contos e insights curtos e
de fácil leitura relacionados a princípios quânticos, como o princípio da
incerteza, de Werner Heisenberg, e a teoria do campo morfogenético, de Rupert
Sheldrake. À primeira vista, assuntos tão densos e complexos não teriam
qualquer conexão com emoções nem sequer com as escolhas que precisamos fazer no
dia-a-dia. Mas é usando, por exemplo, o funcionamento de uma mola, que ao ser
comprimida armazena energia mecânica e ao expandir-se libera essa mesma
energia, que Louis explica sobre as pressões que sofremos diariamente e os
resultados disso, caso não encontremos uma válvula de escape para eliminar
aquilo que tira nossas forças, todos os dias.
O
objetivo central do autor é mostrar que a cada instante temos que tomar
decisões e estas, quando vêm de uma consciência maior, afetam diretamente tudo
a nossa volta. Para estimular essa consciência, ao final de cada texto o leitor
recebe uma pergunta do escritor que, se aplicada, pode afetar positivamente
resultados pessoais e profissionais.
Podemos
dizer que em “A Arte de Fazer Escolhas”, o autor nos brinda com sua maneira
sábia e direta de traduzir a complexidade da vida em algo simples. Devido à boa
parte do que escreveu ter sido testada e observada em seus milhares de alunos,
em seus processos de aprendizagem no Brasil e no exterior, suas dicas são de
extrema utilidade prática, o que o torna um escritor que “conversa com a alma”
dos leitores.