SITUAÇÃO DAS ESCOLAS
PÚBLICAS PERANTE O ENEM
Moysés Peruhype Carlech
Histórico
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi
criado em 1998, durante a gestão do Ministro da Educação Paulo Renato de Souza,
cujo objetivo é avaliar os alunos e não a qualidade das escolas.
Observa-se que quando é
divulgado o resultado anual do ENEM, o destaque maior é para as “escolas
modelo” em detrimento da qualidade e número de alunos que participaram das
provas, apesar de que, são esses mesmos alunos que promovem tais escolas.
Escolas Públicas x
Escolas Particulares
É grande a distância
que separa a rede pública regular de ensino das escolas particulares.
De acordo com o ranking
do ENEM, apenas 78 escolas públicas “modelo” ficaram entre os mil colégios com
melhores notas no exame e as escolas públicas normais ficaram ainda mais longe
da lista, a primeira escola pública regular a aparecer na lista foi o Colégio
Municipal Castro Alves, da cidade de Posse, na divisa de Goiás com a Bahia, que
ficou na 1070ª posição.
Esta escola tem 510
alunos e 30 alunos por sala, o laboratório de ciências está sucateado e o de
informática só tem dez computadores as áreas de lazer deixam muito a desejar e
os alunos estudam à noite.
Vê-se que conforto e
dinheiro não são sinônimos de boa qualidade de ensino e sucesso dos alunos.
As escolas “públicas
modelo” são as escolas de elite do ensino público e são federais, militares,
técnicas ou mantidas por universidades. A maior parte delas faz vestibulinhos
para selecionar os alunos e tem orçamentos superiores aos das escolas públicas
normais.
Este grupo seleto de
estudantes tem dificuldade de competir com o desempenho dos alunos das escolas
particulares. Dentre as 100 melhores escolas no ENEM 2011, apenas 10 são
públicas, sendo oito federais.
Creio que o sucesso das
escolas particulares nas provas do ENEM se deve à seleção natural que as
melhores escolas fazem e o comprometimento do aluno com os estudos, pois, os
pais pagam caro pelo ensino dos filhos e exigem deles a reciprocidade, isto é,
aprendizagem e sucesso nos mesmos.
A rede pública comum de
ensino não tem solução caso continue com as mesmas práticas que ocorrem
atualmente – obrigada a matricular todos os tipos de alunos e não exigir nada
deles. No modelo atual, as escolas públicas normais não podem selecionar alunos
como fazem a maioria das escolas técnicas, colégios de aplicação e escolas
militares.
A desvantagem das
escolas públicas normais começa na matrícula onde por lei não é possível fazer
seleção de alunos quando ela forma seu corpo discente e, depois, também não
pode dispensar os piores.
As escolas particulares
levam outra vantagem sobre as escolas públicas, pois, dizem, que falseiam os
resultados do ENEM mandando fazer o exame apenas os melhores alunos com o
objetivo de garantir médias altas.
CONFIRA AS 10 MELHORES ESCOLAS
PÚBLICAS NO ENEM 2011
Escola
|
Rede
|
Cidade
|
Estado
|
Média
Geral
|
COL DE
APLICACAO DA UFV - COLUNI
|
FEDERAL
|
VICOSA
|
MG
|
704,28
|
COLEGIO
DE APLICACAO DO CE DA UFPE
|
FEDERAL
|
RECIFE
|
PE
|
676,95
|
IFES-CAMPUS
VITORIA
|
FEDERAL
|
VITORIA
|
ES
|
672,48
|
COL
MILITAR DE BELO HORIZONTE
|
FEDERAL
|
BELO
HORIZONTE
|
MG
|
668,04
|
INSTITUTO
DE APLICACAO FERNANDO RODRIGUES DA SILVEIRA CAP-UERJ
|
ESTADUAL
|
RIO DE
JANEIRO
|
RJ
|
664,98
|
COLEGIO
MILITAR DE PORTO ALEGRE
|
FEDERAL
|
PORTO
ALEGRE
|
RS
|
660,56
|
SAO
PAULO ETE DE
|
ESTADUAL
|
SAO
PAULO
|
SP
|
660,55
|
COLTEC
- COLEGIO TECNICO DA UFMG
|
FEDERAL
|
BELO
HORIZONTE
|
MG
|
656,85
|
COLEGIO
PEDRO II UNIDADE ESCOLAR DESCENTRALIZADA DE NITEROI
|
FEDERAL
|
NITEROI
|
RJ
|
655,36
|
UNIVERSIDADE
TECNOLOGICA FEDERAL DO PR
|
FEDERAL
|
CURITIBA
|
PR
|
655,24
|
A maior nota entre as escolas públicas e
particulares do país é a do Objetivo Colégio Integrado, de São Paulo, que
obteve média geral 737,152.
DISCIPLINA X PEDAGOGIA
Segundo os comandantes
dos Colégios Militares, a disciplina e o comprometimento dos alunos com os
estudos são as chaves para alcançar as metas de ensino. O ensino militar é
pautado na aprovação. Durante o ciclo todo, o aluno só poderá ser reprovado uma
vez. Se ele for reprovado pela segunda vez, sai da escola.
Os investimentos do
exército do Brasil por aluno, se
equipara aos investimentos europeus, cerca de três vezes maior que o
investimento nas escolas públicas normais.
Os professores têm
apoio para trabalhar, são bem preparados e são respeitados pelos alunos. Quando
o professor chega, na sala de aula, a turma obrigatoriamente tem que ficar de
pé.
Segundo um comandante:
“ O segredo pedagógico é dar todos os recursos para que o aluno possa estudar e
depois cobrá-lo. Assim, ele aprende a ter a disciplina no estudo”.
As escolas públicas
normais no modelo atual de gestão não têm a menor chance de competir com as
escolas públicas modelos, as militares e particulares, em avaliações como Enem,
Ideb, PAAE, etc. Temos que resgatar a disciplina e comprometimento dos alunos e
professores. Não adianta exigir do diretor que salve a escola com a sua gestão
(modismo criado pelas autoridades pedagógicas) sem resgatar valores que foram
esquecidos pela escola pública há muito
tempo e simplesmente proibidos nos dias atuais: mérito e disciplina.
Para a pedagogia
Paulo-freiriana, reinante nos meios escolares, meritocracia é discriminação e disciplina
é autoritarismo. As melhores notas do
Enem decorrem desses dois fatores. As melhores escolas são justamente as que
selecionam os seus alunos (valorização do mérito) e cobram deles o aprendizado
(disciplina).
É impossível cobrar dos
professores das escolas públicas que façam verdadeiros milagres ensinando com
eficácia alunos muitas vezes incapazes de aprender, mas, as universidades jogam
toda a responsabilidade pelo aprendizado do aluno sobre os ombros do professor
do ensino básico, defendendo uma “escola-inclusiva” em que o criticado
professor da escola pública é obrigado a transformar “trombadinhas” em
“sacristãos” e deficientes mentais em cidadãos autônomos.
É uma utopia ensino
médio igual para todos. As piores notas no Enem são nas provas de ciências da
natureza (matemática, física, química e biologia) onde não há estruturas nas
escolas suficientes para sanar este problema. Professores muitas vezes mal
preparados, aulas de cuspe-e-giz e falta de laboratórios e de salas multimídia
para possibilitar aulas melhores e conteúdos satisfatórios.
E o ensino das escolas
públicas de Minas Gerais, por onde andará. O que a SEE/MG tem a dizer do
resultado do Enem. Como sempre, creio que falará que está tudo bem e que o
estado se sobressai com destaque sobre os demais.
IPATINGA, 23/11/2012