História de Leonardo Rodrigues – IstoÉ
Presidente dos Estados Unidos desde segunda-feira, 20, Donald Trump cumpriu uma promessa feita na campanha eleitoral e deixou o Acordo de Paris, alinhando o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no mundo a um pequeno grupo de nações que não se comprometem a combater o aumento da temperatura global.
Por outro lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vê chegar mais perto sua principal aposta para colocar o Brasil à frente da chamada agenda verde: em novembro de 2025, Belém sediará a COP30, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre as mudanças climáticas.
Neste texto, o site IstoÉ explica como a política ambiental de Trump poderá impactar os planos brasileiros.
O ‘cavalo de pau’ de Trump
Assinado em 2015 e encarado por especialistas como um dos principais tratados multilaterais da história recente, o Acordo de Paris prevê que os signatários atuem para limitar o aumento da temperatura global a 2 ºC acima dos níveis pré-industriais e perseguirem esforços para manter as temperaturas abaixo de 1,5 ºC.
Uma década depois, a COP30 é encarada — inclusive pelo governo federal — como um evento em que novos pactos pelo combate ao aquecimento global poderão ser firmados. Ou, ao menos, era.
Nos quatro anos à frente da Casa Branca, Joe Biden não apenas recolocou os EUA no Acordo de Paris — que Trump já havia abandonado em seu primeiro mandato –, como direcionou US$ 11 bilhões ao financiamento climático internacional em 2024 e, neste mesmo ano, endossou o acordo de US$ 300 bilhões firmado na conferência da COP29, no Azerbaijão.
Como a política ambiental de Trump pode atrapalhar a COP30 no Brasil
Trump, por sua vez, aproveitou o discurso de posse para deslocar os EUA do caminho da transição energética, uma das principais pautas da agenda climática. “A América voltará a ser um país industrial. Nós temos algo que nenhuma outra nação tem: a maior reserva de petróleo e gás da Terra. Nós iremos usar esse arsenal e, com isso, diminuir os preços e exportar energia americana para todo o mundo. Seremos, novamente, uma nação rica, e esse ouro líquido que está sob nossos pés será a causa disso”, afirmou.
Uma agenda ameaçada
Para Celso Lafer, ministro das Relações Exteriores nos governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, a postura de Biden se alinhava à de Lula na “agenda global do meio ambiente, da transição energética e da importância atribuída à democracia e aos direitos humanos”, o que não se repete sob a gestão republicana.
A mudança de rota foi reconhecida por André Corrêa do Lago, diplomata escolhido pelo petista para presidir a COP30: “Não há a menor dúvida que [a saída dos EUA] terá um impacto significativo na preparação da COP e na maneira como nós vamos ter que lidar com o fato de que um pais tão importante está se desligando desse processo”.
Lago classificou os EUA como “um ator essencial” na luta contra as mudanças climáticas, mas disse confiar na possibilidade de que as convenções possam “contornar a ausência” dos americanos.
Como a política ambiental de Trump pode atrapalhar a COP30 no Brasil
Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, disse que uma eventual ausência de Trump na COP30 — que ainda não foi sinalizada pelo republicano — pode “não gerar efeitos práticos ou impedir a celebração de acordos, mas enfraquece o regime de combate às mudanças climáticas em um contexto de ampla desconfiança no multilateralismo”.
Para a especialista, um dos maiores riscos da debandada do americano das agendas climáticas é que ele “sirva de exemplo” para outros líderes globais. “No primeiro mandato de Trump, a saída do Acordo de Paris foi mitigada pelo compromisso de governadores e empresários em enfrentar a crise climática. Hoje, setor privado e política estão mais alinhados ao discurso dele”, disse Herschmann ao site IstoÉ.
Neste sentido, os planos brasileiros são diretamente impactados. “A geopolítica ambiental é uma das poucas áreas em que o Brasil tem condição de exercer um papel de liderança global. Sem a adesão dos EUA a essa agenda, pode-se esperar um esvaziamento”, afirmou ao site IstoÉ Vitelio Brustolin, professor de relações internacionais da UFF (Universidade Federal Fluminense) e pesquisador da Universidade de Harvard.
“A participação americana na COP29, que inclusive foi criticada por Trump, gerou expectativa por novas decisões importantes para a COP30. A eventual saída de um dos países mais relevantes em termos econômicos e de poluição altera o cenário”, concluiu o pesquisador.
Na avaliação de Herschmann, porém, o governo brasileiro pode encontrar espaço político com a nova linha adotada pelo governo americano. “Sem os EUA e sua influência na tomada de decisões multilaterais, outra nação pode liderar a corrida pela economia de baixa emissão de carbono. O Brasil está bem posicionado — não só para ser um facilitador do processo, como para ocupar parte desse vácuo”, afirmou.
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