quinta-feira, 6 de junho de 2024

DEFIBRILAÇÃO CARDÍACA NÃO CAUSA QUEIMADURAS OU MORTE EM UMA PESSOA

 

Ponto de Vista Singular – Quora

Algum físico pode me sanar uma dúvida? Porque o choque descarregado durante uma desfibrilação, onde a intensidade da corrente chega 99A com uma DDP entre 300 a 3000V num aparelho monofásico 360J, não causa queimaduras, ou morte em uma pessoa?

Primeiramente, vamos desfazer um pequeno equívoco na pergunta original. A intensidade da corrente elétrica, medida em amperes (A), e a diferença de potencial, em volts (V), não são os únicos fatores que determinam os efeitos biológicos de uma descarga.

A energia total entregue, medida em joules (J), e a duração dessa descarga são igualmente essenciais. Um desfibrilador aplica seu choque em um tempo extremamente curto, geralmente milissegundos. Essa brevidade impede que a grande energia se traduza em calor excessivo nos tecidos, o que causaria queimaduras. Ademais, a corrente se move pelos eletrodos do desfibrilador em um caminho cuidadosamente direcionado para atravessar o coração, não se dispersando pelo resto do corpo descontroladamente.

Como um sábio professor diria: imagine a eletricidade como uma cachoeira. A voltagem seria a altura da queda d’água, a corrente a quantidade de água fluindo, e a energia o impacto total da água ao chegar à base. O desfibrilador é como uma rajada concentrada, forte o suficiente para impactar o coração, mas não uma inundação descontrolada por todo o corpo.

O objetivo do desfibrilador é justamente interromper ritmos cardíacos anormais e caóticos, permitindo que o coração volte a bater de forma organizada. Seria contraproducente causar danos irreversíveis no tecido cardíaco pelo qual se está lutando!

Cardioversão-desfibrilação elétrica (CE)

PorL. Brent Mitchell, MD, Libin Cardiovascular Institute of Alberta, University of Calgary

Manual MSD

A necessidade de tratamento das arritmias depende dos sintomas e da gravidade da arritmia. O tratamento é direcionado às causas. Se necessário, utiliza-se terapia antiarrítmica direta, incluindo antiarrítmicos, cardioversão-desfibrilação de corrente direta, cardioversores desfibriladores implantáveis (CDIs), marca-passos (e uma forma especial de estimulação, terapia de ressincronização cardíaca), ablação com catéter, cirurgia ou uma combinação desses procedimentos.

O choque transtorácico de magnitude suficiente despolariza todo o miocárdio, deixando todo o coração momentaneamente refratário à repetição da despolarização. Dessa maneira, o marca-passo intrínseco mais rápido, geralmente o nó sinoatrial, reassume o controle do ritmo cardíaco. Portanto, a cardioversão-desfibrilação elétrica interrompe de maneira bastante efetiva as taquiarritmias decorrentes de reentrada. No entanto, é menos efetiva na interrupção de taquiarritmias decorrentes do automatismo, pois o ritmo de retorno tem grande probabilidade de ser uma taquiarritmia automática. Para taquiarritmias além de fibrilação ventricular (FV) e taquicardia ventricular (TV) sem pulso, o choque deve ser sincronizado ao complexo QRS (denominado cardioversão elétrica), uma vez que o choque que incide durante o período vulnerável (próximo ao pico da onda T) pode induzir FV. Na FV, a sincronização do choque ao complexo QRS não é necessária e nem possível. O choque aplicado sem sincronização ao complexo QRS é denominado desfibrilação com CD.

A cardioversão ou desfibrilação por corrente contínua (CC) pode ser feita como

  • Corrente monofásica
  • Corrente bifásica

A corrente monofásica corre em determinada direção entre os dois eletrodos. Nos dispositivos bifásicos, a corrente inverte a direção no meio da onda de choque. O dispositivo bifásico precisa de menos energia e demonstrou promover mais o retorno da circulação espontânea (RCE). Entretanto, os índices de sobrevida são semelhantes nos dois dispositivos (1). A maioria dos desfibriladores externos manuais e automáticos (DAEs) agora é bifásica por causa da melhor eficiência na restauração do ritmo sinusal. Os dispositivos bifásicos também têm um tamanho menor (tornando-os portáteis).

Procedimento para cardioversão elétrica

Quando a cardioversão elétrica é eletiva, os pacientes devem permanecer em jejum por 6 a 8 horas para evitar a possibilidade de aspiração. Como o procedimento é amedrontador e doloroso, é necessário anestesia geral breve ou analgesia IV e sedação (p. ex., fentanila 1 mcg/kg e, em seguida, midazolam 1 a 2 mg a cada 2 minutos até o máximo de 5 mg). Devem estar presentes equipamento e pessoal para manter as vias respiratórias.

Como fazer cardioversão sincro…

Vídeo

Os eletrodos (pás ou placas), utilizados para cardioversão, podem ser colocados no sentido anteroposterior (ao longo da borda esternal esquerda, sobre o 3º e o 4º espaço intercostais esquerdos e na região infraescapular esquerda) ou no sentido anterolateral (entre a clavícula e o 2º espaço intercostal ao longo da borda esternal direita e sobre os 5º e 6º espaços intercostais no ápice do coração). Após a confirmação da sincronização ao complexo QRS no monitor, o choque é aplicado.

O nível de energia mais apropriado varia de acordo com a taquiarritmia tratada. A eficácia da cardioversão e da desfibrilação aumenta com o uso de choques bifásicos, no qual a polaridade da corrente é invertida no meio da onda de choque.

Na desfibrilação da fibrilação ventricular ou da taquicardia ventricular sem pulso, o nível de energia do primeiro choque é de

  • 120 a 200 joules para os dispositivos bifásicos (ou de acordo com as especificações do fabricante), embora muitos profissionais usem a carga máxima do dispositivo nesses casos
  • 360 joules para os dispositivos monofásicos (ou de acordo com as especificações do fabricante)

Os choques subsequentes são do mesmo nível de energia ou mais alto para dispositivos bifásicos e no mesmo nível para dispositivos monofásicos.

Na cardioversão sincronizada da fibrilação atrial, o nível de energia do primeiro choque é

  • 100 a 200 joules para dispositivos bifásicos (ou dependendo das especificações do fabricante)
  • 200 joules para dispositivos monofásicos (ou de acordo com as especificações do fabricante)

Os choques subsequentes estão no mesmo nível de energia ou mais para os dispositivos bifásicos e monofásicos.

A cardioversão-desfibrilação elétrica também pode ser aplicada diretamente sobre o coração durante a toracotomia ou uso de catéter eletrodo intracardíaco e, nessas condições, são necessários níveis mais baixos de energia.

Complicações da cardioversão elétrica

Em geral, as complicações são pequenas, envolvendo extrassístoles atriais e ventriculares e sensibilidade muscular. Com menor frequência, mas com maior probabilidade, se os pacientes tiverem função ventricular esquerda marginal ou necessidade do uso de múltiplos choques, a cardioversão precipita lesão de miócitos e dissociação eletromecânica.

Referência geral

  1. 1. Schneider T, Martens PR, Paschen H, et al: Multicenter, randomized, controlled trial of 150-J biphasic shocks compared with 200-J to 360-J monophasic shocks in the resuscitation of out-of-hospital cardiac arrest victims. Circulation 102:1780–1787, 2000.

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