Ditadura do mau humor
Um juiz, um promotor e um papagaio careca entram num bar
Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo
Este é o Léo Lins. Numa tentativa de humor nonsense, na versão
anterior deste texto eu tinha usado uma foto do Fábio Porchat. Não deu
certo. 🙁| Foto: Reprodução/ Twitte
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O humorista Léo Lins (“Se me chamar de comediante eu te mato!” Ou
será que é o contrário?) me liga para dizer que, diante de todas as
restrições impostas a ele pelo mal-humorado Ministério Público de São
Paulo, que aparentemente o acusa de ser A Pessoa Mais Deplorável da
Terra (e Adjacências), resolveu reconhecer o erro. “Paulo, daqui para
frente eu só faço piada com gente privilegiada. Com branco e hétero.
Gente que mora em prédio neoclássico, que tem cartão de crédito sem
limite e Land Rover na garagem. Tá decidido. De agora em diante, só faço
piada juiz e promotor. Será que eu posso?”, diz ele, questionavelmente
sóbrio.
Mas para quem Léo Lins acha que está perguntando?! “Claro que pode! Mas tem que incluir papagaio também”, digo, encorajando-o. Adoro piada com papagaio. E com careca, claro. Léo Lins não hesita. “Então aqui vai. Um juiz, um promotor e um papagaio careca entram num bar…”. Não vou contar o resto da piada. É muito suja para este horário. Mas posso dizer que ela inclui palavrões como “democracia” e pornografias como “cassação de Deltan Dallagnol”. Ri quem pode – e não tem lá muito juízo.
Eu rio e o Léo Lins ri da minha risada (você já ouviu a minha risada?!). E eu rio mais ainda porque, ao contrário do Ministério Público de São Paulo, sou desses. O famoso bobo alegre. Ou, se você preferir, o idiota. Rio de tudo. De trocadilho ruim, de trocadilho péssimo, de trocadilho do Jones Rossi. De videocassetadas. Das piadas “clássicas” a que assistíamos no Viva o Gordo, no Chico Anysio, nos Trapalhões, na TV Pirata, no Casseta & Planeta. Aquelas envolvendo minorias de todos as origens, alturas, larguras e acessórios.
Tempos mais simples, aqueles. Fico pensando se éramos menos egoístas e autocentrados. Se nos dava prazer a piada que faziam à custa dos nossos “defeitos”. A mim me dava e ainda dá. Adoro passar ridículo. Porque aprendi que o humor nos apequena. E é bom que nos apequenemos, porque somos docemente ridículos aos olhos de Deus. Nós e nossos pecados. Nós e nossas ambiçõezinhas. Nós e nossas filosofias e ideologias. Nós e nosso orgulhosinho. Nós e nossos sonhos de conquistar o mundo. Só não ri de si mesmo aquele que se idolatra.
Hitley
Me perco nos pensamentos e no aforismo, modéstia à parte,
nota 10. E estou quase caindo no abismo patético da nostalgia quando Léo
Lins me resgata. “Alô, tá aí? Pô, Paulo. Eu tô aqui falando sozinho há
meia hora e você não tava nem prestando atenção? E aí, pessoal da
Polícia Federal. Pelo menos vocês gostaram?!”, pergunta ele (carioca
fala engraçado, né?), na esperança meio louca de ouvir um “sim” dos
arapongas que estão na escuta. “Conta uma piada de pum, Léo”, peço. Ele
se recusa, mas eu, só de pensar, caio na gargalhada. Os arapongas, nada.
“Já sei!”, diz ele de repente. E quase estoura os tímpanos, os meus e os do pessoal da PF! “E se eu abandonar o humor e partir para o discurso político?”, pergunta. Sou meio lerdo. Não entendo de imediato. Ele explica. Ou melhor, desenha: “É, Paulo! Se eu falar que Pelotas é polo exportador de ▇▇▇▇▇ ? Se falar que deficiente mental tem parafuso a menos? Será que o MP-SP me deixa em paz?”, pergunta. Essa aí do parafuso eu ouvi há pouco tempo. Onde mesmo?
Ah, lembrei! Respondo que, mais do que isso, falando essas coisas e acrescentando uns machismos e uns elogios a Hitler (“O Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer”), é até capaz de ele, Léo Lins, virar presidente! “Ô, Paulo. Com todo respeito. Essa foi fraca, hein?”, diz ele. “Não gostou? Faz o L!”, digo, ofendendo-o à toa, como fazem os bons amigos. Rimos eu e ele. E, desta vez, até os arapongas riem.
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