Por
Roberto Motta – Gazeta do Povo
Manifestante do MST em frente ao Ministério da Fazenda, em Brasília.| Foto: EFE
Aparentemente,
o tal “mercado” ainda não sabe o que sente em relação ao novo velho
governo do PT. Várias vezes por semana o governo dá declarações, toma
decisões e implanta medidas que afetam a economia, na maioria das vezes
de forma negativa. A reação do mercado é quase sempre paradoxal e
confusa. Isso, para mim, que não sou profissional do mercado mas
acompanho a política e a economia com certa atenção, é um mistério.
O mercado financeiro é composto por pessoas extremamente inteligentes e preparadas, educadas nas melhores escolas brasileiras e estrangeiras, especializadas em uma missão arriscada e difícil, mas muito recompensadora: investir o dinheiro dos outros.
Para cumprir sua missão, essas pessoas precisam estar sempre bem-informadas sobre o que acontece no país. E é aqui que começa o problema.
Um número incompreensível desses profissionais demonstrou simpatia ou apoio aberto à candidatura presidencial do PT. Foi difícil entender como executivos do mercado financeiro, em sã consciência e minimamente informados, puderam fazer uma opção como essa. Mas fizeram.
Algumas dessas personalidades vieram a público recentemente, após as eleições, para se declarar decepcionadas ou enganadas, e dizer que não apoiam mais as políticas petistas. Um arrependimento verdadeiro exige mais do que isso; além de reconhecer o erro, é preciso pedir desculpas a todos aqueles que agora vão pagar a fatura desse equívoco: nós, os cidadãos, trabalhadores e eleitores.
Um número incompreensível desses profissionais demonstrou simpatia ou apoio aberto à candidatura presidencial do PT. Foi difícil entender como executivos do mercado financeiro, em sã consciência e minimamente informados, puderam fazer uma opção como essa
O que mais surpreende é a quantidade de pessoas do chamado “mercado” que ainda nutre a expectativa de que alguma proposta lógica e minimamente razoável seja produzida na “área econômica” do governo. Mas as ideias econômicas do PT são o resultado do cruzamento das ideias de Karl Marx – o revolucionário que foi sustentado a vida inteira por um amigo que era herdeiro milionário (Engels) – com as ideias de Lorde Keynes, o economista que acreditava na ficção do Estado grande e interventor.
Para essa escola de pensamento, se o governo contratar duas equipes de operários, uma para cavar buracos e a outra para tapar os buracos que a primeira equipe cavou, o resultado será desenvolvimento e progresso.
Use seu bom senso e pense sobre isso.
O governo brasileiro é ocupado por pessoas que não sabem – ou fingem não saber – a diferença entre gasto e investimento, um conceito de compreensão muito fácil. Gastos são as despesas periódicas que você faz para manter as coisas funcionando, como as contas de água e de luz, ou a mensalidade da escola das crianças. Investimento é quando você faz uma despesa para adquirir um bem durável, como uma casa, um carro ou, no caso do governo, uma máquina, uma represa ou um viaduto.
O pagamento de salários de servidores, por exemplo, por mais relevante que seja, é um gasto, não investimento – não importa quantas vezes o governo repita o contrário.
O PT jamais entenderá o conceito de responsabilidade fiscal porque tem um entendimento errado dos fundamentos da economia. Qualquer tipo de controle de gastos do governo será, para eles, apenas uma camisa de força impedindo a realização de seus sonhos interventores, paternalistas e patrimonialistas.
Isso vale para a política monetária. O controle da inflação é feito ajustando-se a taxa de juros. Funciona assim: quando o Banco Central detecta a ameaça de aumento da inflação, ele aumenta os juros, o que impede a subida da inflação porque desaquece a economia. Juros altos podem ser um problema, mas inflação alta é uma catástrofe. Obviamente, o PT não entende isso, e abriu guerra contra o Banco Central para forçar a redução dos juros a qualquer custo.
Qualquer tipo de controle de gastos do governo será, para eles, apenas uma camisa de força impedindo a realização de seus sonhos interventores, paternalistas e patrimonialistas
O governo petista apresentou um tal arcabouço fiscal que vai substituir o antigo teto de gastos. O mecanismo do teto de gastos garantia que o governo só poderia gastar em um ano o que gastou no ano anterior, corrigido pela inflação. Já o arcabouço fiscal diz que os gastos do governo podem subir sempre que arrecadação subir, com crescimento limitado a 2%. O “arcabouço” se revela, na verdade, um piso de gastos: mesmo nos anos em que arrecadação não subir, ainda assim o gasto do governo subirá 0.6%. É um desastre anunciado, porque além de garantir a subida permanente dos gastos, produzirá no governo uma obsessão pelo aumento da arrecadação de impostos.
Mais uma vez, inacreditavelmente, o mercado recebeu bem o tal arcabouço fiscal, que foi apresentado apenas em um Powerpoint – mais um pioneirismo mundial – sem qualquer texto que o sustentasse. Foi preciso uma semana para o mercado perceber o significado da proposta petista e reagir de forma apropriada – e negativa.
Agora o governo anuncia a indicação do braço direito do ministro da fazenda para a diretoria de política monetária, a mais importante do Banco Central. Vejam: não é o presidente do Banco Central que escolhe os diretores; eles são indicados pelo governo e aprovados pelo Congresso.
Mais uma vez o mercado reage favoravelmente. Mais uma vez meu espanto é enorme.
Se o indicado é o braço direito do Ministério da Fazenda – ou seria melhor dizer braço esquerdo? – é óbvio que a intenção do governo com essa indicação é a pior possível (considerando-se o ponto de vista do cidadão, do mercado e da economia).
Dois dias após o anúncio da indicação o indicado comparece a uma feira do MST (você leu corretamente: o movimento que vive de invadir propriedades alheias tem permissão para fazer uma feira). No evento, o indicado para a diretoria de política monetária do Banco Central tira uma foto abraçado com os principais líderes esquerdistas radicais do MST.
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