Não é um funcionário público que decide quais empresas nascerão e em que ramos entrarão, mas sim as empresas que decidem quando e onde se fazem necessárias
Por Pedro Doria – O Estado de S.Paulo
Vale do Silício nos EUA
Por que nunca discutimos o modelo que levou à criação do Vale do Silício? Precisaremos dar um salto tecnológico nos próximos anos e nos raros ambientes em que esta conversa é levada os exemplos citados por seguir são Coreia do Sul e China. As empresas do Vale, porém, são muito distintas das coreanas e chinesas. O que criaram Huawei e Samsung? Nada. A Apple, na última semana, ultrapassou o valor de mercado de US$ 3 trilhões.
Nos anos 1970, o mercado de computadores era voltado para máquinas de porte para grandes empresas. E, no entanto, naquele canto da Califórnia conhecido pela agroindústria inventou-se primeiro o negócio dos videogames e, logo depois, o do computador pessoal. O primeiro emprego de Steve Jobs foi na Atari. Ninguém em Washington previu que algo assim iria acontecer.
O Estado não foi ausente. Investiu em pesquisa na universidade local, Stanford. Além disto, também por ali foi criado nos anos 1960 um laboratório de pesquisa da NASA para tocar a missão de colocar um homem na Lua. Foi onde se inventou o microchip. Sem ele não haveria consoles de videogames ou PCs. Mas, criado parcialmente com investimento público, o chip logo virou a base de uma empresa estupenda, a Intel.
Quando a Intel nasceu, não estava dado que aquele chips serviriam a computadores que as pessoas teriam em casa. Só que o Vale era também o epicentro hippie com sua cultura psicodélica de busca pela expansão do cérebro. Uns usaram drogas, outros olharam para a tecnologia e imaginaram não um computador que pensasse por si, mas um que ampliasse as possibilidades.
A palavra chave é criatividade. A infraestrutura é o governo que traz: criação de conhecimento e um ambiente no qual empreender, deixar uma empresa nascer e morrer a partir de qualquer ideia que surja na sociedade, seja simples. Não é um funcionário público que decide quais empresas nascerão e em que ramos entrarão.
É assim que nasce um iPhone. Ou um Google. São negócios que depois que nascem não conseguimos imaginar como se vivia sem. As indústrias de Coreia do Sul e China, que são sim formidáveis, não estão neste ramo — o de revolucionar. Fazem melhor e mais barato aquilo que já existe. Também não é à toa que executivos das grandes corporações chinesas e sul-coreanas a toda hora são presos por elos de corrupção com os governos. É inerente ao modelo que parte de uma promiscuidade entre público e privado.
Por que até hoje o Brasil não ao menos testou este modelo de desenvolvimento?
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