domingo, 9 de janeiro de 2022

O REINO DA DINAMARCA NÃO É MAIS PODRE


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Confiança traz investimento e bem-estar. E, como, mostra a Dinamarca, traz felicidade

João Gabriel de Lima, O Estado de S.Paulo

Há algo de bom no reino da Dinamarca. Algo que poderia servir de inspiração para os brasileiros.

Não se trata de bem material. O Brasil nunca será a Dinamarca, até porque os dois países não poderiam ser mais diferentes. A Dinamarca é rica. O Brasil patina há décadas na tal “armadilha da renda média”. O Brasil é um país continental. A área da Dinamarca é menor que a da Paraíba. O Brasil ginga ao som de Anitta e Pablo Vittar. A Dinamarca segue o baticum tecnológico de When Saints Go Machine e Kasper Bjorke.

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Visão da praça do castelo de Amalienborg, em Copenhague, capital da Dinamarca; enquanto nossos melhores cérebros buscam abrigo fora do Brasil, o país nórdico os atrai. Foto: Ritzau Scanpix/Liselotte Sabroe

Enquanto nossos melhores cérebros buscam abrigo fora do Brasil, a Dinamarca os atrai. O urbanista carioca Maurício Duarte tem 39 anos e vive em Copenhague há sete, trabalhando nos melhores escritórios de arquitetura da cidade.

No minipodcast da semana, Maurício dá uma pista sobre o tal bem imaterial que a Dinamarca tem de sobra.

Lá, o governo desempenha um papel que Maurício chama de “catalisador”. De um lado, ouve a população – e, a partir do que ouve, desenha políticas públicas. De outro, costura parcerias com a iniciativa privada. Os investimentos trazem mais empresas, que geram empregos, que atraem talentos. Os recursos alimentam o estado de bem-estar social, que garante a todos o mínimo para uma vida digna. Ano após ano, a Dinamarca sobe ao pódio nos rankings internacionais de felicidade.

É um país onde é possível planejar a longo prazo. O bairro modelo de Nordhavn, em Copenhague, vem sendo erguido aos poucos. A previsão é de que fique pronto em 20 anos. “Os contratos entre empresas, e entre empresas e governos, são sucintos, às vezes não têm mais de uma página. A Justiça funciona e o poder público costuma honrar seus compromissos”, diz Maurício.

A palavra-chave – o bem imaterial que nos falta e sobra na Dinamarca – é confiança. Da população no governo, dos investidores na capacidade do poder público em garantir contratos. Em entrevista a José Fucs, do Estadão, o cientista político Antônio Lavareda mostra como tal confiança se perdeu no Brasil. Falta transparência aos governos, como no caso do “orçamento secreto”. Sobram governantes que se dizem “outsiders” e criminalizam a política – e, por tabela, a democracia – como se não fizessem parte dela.

Estamos distantes da Dinamarca, mas poderíamos nos aproximar um pouco se nossos candidatos assumissem um compromisso no ano eleitoral: fazer uma campanha de alto nível, que permitisse recuperar a confiança na política e no País. Confiança traz investimento, empregos, bem-estar – e, como mostram os dinamarqueses, o maior dos bens imateriais: a felicidade.

 

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