Artigo publicado na revista Nature demonstra que reposta imunológica de Macacos rhesus pode ser indicador para produção de um imunizante
Em artigo publicado na revista Nature Communications nesta terça (26), cientistas do Instituto Butantan, em parceria com pesquisadores do Brasil e países como Inglaterra, Holanda e França, indicam que o macaco rhesus (Macaca mulata) pode ajudar no desenvolvimento de uma vacina contra a esquistossomose, doença parasitária que afeta anualmente mais de 200 milhões de pessoas no mundo.
Os resultados da pesquisa estão na publicação “Rhesus macaques self-curing from a schistosome infection can display complete immunity to challenge” e mostram que, ao se curarem espontaneamente da esquistossomose, os macacos rhesus são capazes de gerar anticorpos poderosos contra os parasitas, ficando protegidos ao sofrerem uma segunda infecção.
Os pesquisadores Sergio Verjovski-Almeida e Murilo Sena Amaral, do Laboratório de Parasitologia do Butantan, ao lado de outros colaboradores, acompanharam macacos infectados e reinfectados com Schistosoma manson para entender se, após a exposição a uma segunda tentativa de infecção, a memória imune dos macacos funcionava e, assim, utilizar esse conhecimento como base para o desenvolvimento de uma possível vacina.
Como funcionou o estudo
Na primeira parte da pesquisa, doze macacos rhesus foram infectados, cada um com 700 parasitas de Schistosoma mansoni e a infecção foi monitorada pela medida de um antígeno específico do parasita liberado na circulação sanguínea dos primatas. Todos os rhesus se curaram entre a 12º e 17º semana. Depois de 42 semanas, com os macacos já livres dos parasitas, os cientistas monitoraram o mesmo indicador após uma segunda infecção.
A conclusão foi que os macacos se recuperavam ainda mais rápido da reinfecção. De fato, após o segundo contato com a doença, os rhesus não apresentaram sintomas clínicos (alguns tiveram sintomas leves como diarreia e desidratação após a primeira infecção).
O que é a esquistossomose
O estudo ganha importância diante do impacto ambiental e aumento da incidência da esquistossomose no estado de São Paulo. Os parasitas infectam pessoas que têm contato com água contaminada e se instalam no interior dos vasos sanguíneos do intestino e fígado, onde se acumulam os ovos depositados que causam a doença. Como o ser humano não consegue eliminar o parasita naturalmente, a doença se torna perigosa porque provoca complicações graves nos órgãos atingidos.
O único medicamento de combate à esquistossomose, recomendado pela Organização Mundial da Saúde, é o Praziquantel, que é ineficaz contra formas jovens do parasita e que não previne a reinfecção. Sem nenhuma vacina disponível atualmente para combate à doença, as próximas fases do estudo serão a identificação das proteínas do parasita que são alvejadas pelos anticorpos dos macacos e os testes destas proteínas como candidatos vacinais em camundongos.
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