Em live transmitida nas redes sociais, presidente da República disse que quem critica a cloroquina deve ser considerado um ‘canalha’
Lauriberto Pompeu/ BRASÍLIA
O presidente Jair Bolsonaro criticou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid pelo tratamento dado ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “A CPI hoje bateu muito no Queiroga. Cloroquina, cloroquina, cloroquina, o tempo todo cloroquina. ‘Ai, o presidente falou’. Eu fui tratado com cloroquina e ponto final”, disse o presidente, durante a live semanal que ele faz nas redes sociais.
Sem apresentar provas nem citar nomes, Bolsonaro afirmou que senadores usam a substância para tratar a covid. “Falei com vários senadores, vou chutar aqui que no mínimo dez senadores usaram isso”.
Marcelo Queiroga não quis se manifestar nesta quinta-feira em depoimento prestado à CPI da Covid sobre sua opinião a respeito da utilização da cloroquina no tratamento de pacientes com covid-19. A medida é uma das bandeiras defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro, mesmo sem que haja eficácia comprovada do medicamento.
O chefe do Poder Executivo também ameaçou usar a máquina do governo federal para investigar o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). Ele é filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, que tem adotado uma postura combativa contra Bolsonaro. Com um tom agressivo, Bolsonaro reclamou do senador alagoano.
“Um lá, olha só, eu queria estar na CPI, eu vou, eu queria estar na CPI. ‘Atenção aí ministro, qual dessas frases mais matou gente no Brasil? Frase do presidente Bolsonaro’. E botou várias frases lá. Sabe qual seria minha resposta? Prezado senador, excelentíssimo senador, frase não mata ninguém, o que mata é desvio de recurso público que seu Estado desviou. Vamos investigar seu filho que a gente resolve esse problema”, declarou o presidente.
Durante a sessão da CPI, que se estendeu até a noite, Renan rebateu as declarações de Bolsonaro. “Queria dizer, com todo respeito ao presidente da República, que o que mata é a pandemia, pela inação e inépcia que eu torço que não seja dele. Não queremos fulanizar isso aqui. Com relação ao Estado de Alagoas, ele não que gaste seu tempo ociosamente, como tem gastado seu tempo, enquanto os brasileiros continuam morrendo. Aqui nesta Comissão Parlamentar de Inquérito, se houver necessidade, todos, sem exceção, serão investigados”, afirmou Renan.
Na live, o presidente disse que quem critica a cloroquina deve ser considerado um “canalha”. Bolsonaro fez críticas ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que saiu do governo justamente por discordar da coordenação de Bolsonaro na pandemia.
“O Mandetta, aquele cara que condena a cloroquina, e fala o que para você? ‘Fica em casa, quando estiver sentindo falta de ar, você vai para o hospital’. Para fazer o que? Tomar o que? Se não tem remédio com comprovação científica? Vai ser intubado. Esse é o protocolo do Mandetta. Canalha é aquele que critica a cloroquina, ivermectina e não apresenta alternativa. Isso é um canalha, é um canalha. Não posso falar outra coisa de quem age dessa maneira”, disse.
Voto impresso. O chefe do Executivo voltou a criticar a urna eletrônica e defender o voto com um comprovante impresso, medida já considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Se não tiver voto impresso, é sinal que não vai ter eleição, acho que o recado está dado”, afirmou.
Bolsonaro fez críticas ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Roberto Barroso, que tem se posicionado contra a medida.
“Olha, eu acho que ele é o dono do mundo, da verdade absoluta. Só pode ser. Não pode ser contestado. Estou preocupado. Se Jesus Cristo baixar na Terra, será (office) boy do ministro Roberto Barroso”, falou. “Se o Parlamento brasileiro por maioria qualificada de 3/5 aprovar e promulgar vai ter voto impresso em 22 e ponto final. Vou nem falar mais nada. Vai ter voto impresso”.
Uma das principais bandeiras de Bolsonaro, o voto impresso já foi implantado em caráter experimental nas eleições presidenciais de 2002 — e acabou reprovado pelo TSE. Naquele ano, para testar o sistema, a medida foi adotada em 150 municípios, atingindo 6,18% do eleitorado.
“Sua introdução no processo de votação nada agregou em termos de segurança ou transparência. Por outro lado, criou problemas”, apontou um relatório do TSE. O tribunal concluiu que, nas seções com voto impresso, foram maiores o tamanho das filas e o percentual das urnas que apresentaram defeitos, além das falhas verificadas apenas nas impressoras.
“Houve incidência de casos de enredamento de papel, possivelmente devido a umidade e dificuldades de manutenção do módulo impressor”, apontou o relatório do TSE.
No Distrito Federal, que adotou o voto impresso em todas as seções eleitorais em 2002, o índice de quebra de urna eletrônica no primeiro turno foi de 5,30%, enquanto a média nacional foi bem inferior: 1,41%.
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