O enfraquecimento da operação Lava Jato
Polêmica com grupo de Aras é mais um capítulo na ofensiva para encerrar as investigações
Por Ricardo Corrêa
Não é de hoje que a Lava Jato perdeu o apoio que tinha em outros
tempos. Vários episódios em sequência fizeram com a operação, que era a
queridinha do Brasil, perder atenção na sociedade e ver-se enfraquecida por
ações de bastidores. O episódio da polêmica entre o grupo de Augusto Aras, o
procurador geral da República, e os responsáveis pela força-tarefa é mais
um exemplo claro disso.
A Lava Jato já não é mais a mesma, pois parte da sociedade tinha
na operação não uma ação efetiva de combate à corrupção, mas uma estratégia
para mudança de poder. Isso ficou claro quando, após a queda do governo petista
e a ascensão do bolsonarismo, muita gente que tinha na operação um símbolo do
novo Brasil abandonou as investigações na estrada. Ainda que seja inegável a
contribuição da Lava Jato para a revelação de enormes escândalos de corrupção e
a impensável punição de empreiteiros e importantes membros da classe política,
a ação ficou pelo caminho. Muito ainda ficou por ser analisado e aquela força
que a Lava Jato tinha para romper as barreiras que se colocavam no caminho se
esvaiu.
Também marca essa mudança a saída
do ex-juiz Sergio Moro da 13ª Vara Federal no Paraná para o governo de Jair
Bolsonaro. Principal símbolo da operação, Moro levou junto parte da força que a
ação tinha. E, além disso, deixou evidente uma predileção que fez com que os
alvos fossem escolhidos a dedo sobretudo em períodos eleitorais.
Veio depois Augusto Aras no
comando da PGR. Escolhido por Jair Bolsonaro, ele sempre foi um crítico da
operação. Foi colocado ali para colocar um freio na Lava Jato também. E, entre
outras coisas, essa ideia ganhou ainda mais força com a aliança de Bolsonaro
com o Centrão. Afinal, alguns dos líderes dos partidos que compõem o grupo eram
os próximos da lista de alvos da operação de combate à corrupção.
Ao buscar dados sigilosos e
interferir na constitucional independência funcional dos membros do MP, o grupo
de Aras, representano no episódio pela procuradora Lindôra Araújo, tentou dar
mais um golpe na Lava Jato. A saída de alguns dos importantes procuradores do
grupo de trabalho que lida com o caso na PGR enfraqueceu ainda mais as
investigações a respeito de pessoas com foro privilegiado. Se na primeira
instância a Lava Jato continua nas ruas, pegando operadores e figuras menores,
no nível maior há quase uma paralisia.
Quando a Lava Jato tenta avançar
um pouco mais, como no Rio com a tentativa de prisão do ex-ministro Silas
Rondeau, vem logo alguém para encerrar essa iniciativa e devolver as coisas ao
status quo atual. A Lava Jato hoje já não tem mais força para enfrentar a
estrutura que se coloca diante dela.
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