Parceria entre Nasa e SpaceX marca nova fase dos trajes espaciais
Jana Sampaio
©
John Raoux/AP/VEJA Douglas Hurley (à esq.) e Robert Behnken, os protagonistas
desse voo espacial histórico
A primeira e histórica parceria entre a Nasa e a SpaceX,
além de marcar o fim do monopólio governamental da exploração do espaço, ao que
tudo indica, também inaugura uma nova fase do traje espacial. Passados 59 anos
desde o Programa Mercury, no qual os astronautas usavam os macacões
prateados que integrariam a imaginário popular quando o assunto é viagem
espacial, a roupa agora tem um aspecto muito mais minimalista e elegante. O
prata foi substituído pelo branco e pelo cinza em uma reviravolta total de
estilo.
Quem assina o design das peças que vestem os
veteranos Doug Hurley, 53 anos, e Bob Behnken, 49 anos, é o
figurinista Jose Fernandez, que trabalhou nos filmes “Batman v Superman”, “O
Quarteto Fantástico”, “Os Vingadores” e “X-Men II”. Fernandez foi convidado
pelo bilionário Elon Musk a desenvolver os trajes da primeira missão
espacial da nave da SpaceX. Além dos atributos necessários, a roupa deveria
parecer um smoking, o que conferiria, na visão do figurinista, sofisticação.
“Enquanto as viagens espaciais eram subsidiadas
pelos governos, não havia necessidade de tornar os trajes atraentes, pois a
segurança dos astronautas era a única preocupação. No entanto, se as viagens
espaciais se tornarem uma atividade de empresas privadas em busca de lucros,
haverá o interesse natural em fazer seus astronautas parecerem atraentes”,
disse ao New York Times Gary Westfahl, autor de “O Filme do Traje Espacial: uma
História, 1918-1969”.
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Outro fator que colaborou para a questão estética
foi o fato de que os trajes foram feitos apenas para serem usados dentro das
aeronaves, quando não há necessidade de mangueiras, botões nem fios pendurados.
Para tornar o visual mais bonito e, ainda assim, eficiente, painéis escuros
foram colocados nas laterais para afinar visualmente, costuras aerodinâmicas da
clavícula ao joelho foram feitas, além de botas até a altura dos joelhos.
Ainda assim, uma série de recursos e requisitos
técnicos que melhoram a funcionalidade da peça precisaram ser desenvolvidos
para fornecer pressão interna estável, mobilidade, oxigênio respirável,
regulação da temperatura, sistema de comunicação com conexão elétrica externa à
espaçonave e, claro, meios de coletar e conter resíduos corporais sólidos e líquidos.
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A primeira turma de astronautas da
Nasa, conhecida como Mercury 7, em foto de 1959
2/5 SLIDES © NASALangley Research
CenterDivulgação/Divulgação
A primeira turma de astronautas da
Nasa, conhecida como Mercury 7, em foto de 1959
“Uma das coisas que consideramos importante no
desenvolvimento do traje era que ele fosse fácil de usar. A ideia era que a
tripulação apenas plugasse ao sentar e o traje trabalhasse sozinho a partir daí
e, claro, fosse uma parte do sistema operacional”, explicou Chris Trigg,
gerente do departamento de equipamentos e trajes da SpaceX.
Nos últimos 50 anos, o traje espacial passou por
transformações para ajudá-lo a acompanhar as mudanças nos requisitos das
missões. Depois do Programa Mercúrio, os pesquisadores precisaram desenvolver
um traje espacial que permitisse aos astronautas sair da nave em segurança.
Como resultado, os trajes Gemini adicionaram 10 camadas de isolamento e
mangueiras que bombeavam o ar de resfriamento da espaçonave.
Os trajes espaciais do programa Apollo
precisavam proteger os astronautas enquanto caminhavam na lua e, por isso,
tinham um sistema de suporte à vida. Os astronautas podiam ir para longe porque
não estavam conectados por uma mangueira. Já os famosos ternos laranjas usados
no lançamento do ônibus espacial tinham aparência leve porque, assim como os
usados por Behnken e Hurley, só podiam ser usados dentro de uma espaçonave.
Quando chegar o momento de a Nasa enviar pessoas
para lugares que os humanos nunca foram antes, como um asteroide e Marte, os
trajes espaciais precisarão, novamente, ser reconfigurados.
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